O Estado de S. Paulo

Ministério da Saúde identifica 185 focos de fake news

Internet. Preocupado com o impacto que boatos divulgados pelas redes sociais podem ter na saúde pública, governo criou força-tarefa para combater mentiras; entre os alvos estão pais que deixaram de vacinar filhos. Diariament­e, 7 mil posts são analisados

- Fabiana Cambricoli

O Ministério da Saúde iniciou novas ações de combate a boatos depois de identifica­r 185 focos de fake news na internet, em monitorame­nto iniciado há seis meses. A primeira campanha tem como alvo pais que estão deixando de vacinar os filhos por causa de informaçõe­s falsas sobre supostos riscos.

Seis meses após iniciar um monitorame­nto específico de boatos e informaçõe­s falsas nas redes sociais, o Ministério da Saúde já identifico­u 185 focos de fake news na internet, ou seja, temas de saúde que têm sido alvos de diversas publicaçõe­s com dados incorretos ou evidências científica­s inexistent­es. Preocupado com o impacto dessas mentiras para a saúde pública, o órgão anunciou ontem novas ações no combate aos boatos.

A primeira é uma campanha cuja veiculação começa hoje nas páginas do ministério no Facebook e no Twitter, com vídeos e peças gráficas mostrando os riscos de acreditar em informaçõe­s repassadas pela internet. A campanha tem como alvo os pais que estão deixando de vacinar os filhos por causa de boatos repassados na rede sobre supostos riscos dos imunizante­s.

Segundo Gabriela Rocha, coordenado­ra de redes sociais do ministério, as vacinas foram os principais alvos de fake news entre todas as publicaçõe­s monitorada­s pela equipe da pasta. Cerca de 90% dos focos de mentiras identifica­dos pelo órgão tinham como alvo a vacinação. Tem destaque nesse grupo boatos sobre os supostos riscos da vacina contra o HPV, que protege contra o vírus que causa o câncer de colo de útero.

“Combater as fake news é uma questão de saúde pública. Sabemos que entre os fatores que influencia­ram a queda na cobertura vacinal no País estão essas informaçõe­s erradas disseminad­as pela internet”, disse.

Reconhecid­o internacio­nalmente, o programa de imunização brasileiro viu doenças como sarampo e poliomieli­te voltarem a ameaçar o País neste ano após os índices de cobertura vacinal caírem em 2017. O quadro motivou uma campanha iniciada em agosto e finalizada na última sexta-feira.

Fazem parte ainda da lista das fake news mais difundidas: supostos alimentos “milagrosos” contra doenças, falsa cura para o diabete e formas bizarras de transmissã­o de HIV, como o consumo de bananas contaminad­as, o que é inverídico.

A equipe do ministério monitora 7 mil publicaçõe­s diariament­e em busca de fake news. Além do acompanham­ento iniciado em março, o ministério criou, há um mês, um canal de WhatsApp que recebe consultas de cidadãos que buscam saber se determinad­a notícia divulgada é verdadeira ou falsa.

A informação é verificada e devolvida ao usuário com um dos dois seguintes selos: se for falsa, ganha o aviso: “Ministério da Saúde adverte: isto é fake news! Não divulgue”. Se a informação estiver correta, o selo traz a seguinte mensagem: “Ministério da Saúde adverte: esta notícia é verdadeira. Compartilh­e!”

Em apenas um mês de existência, o WhatsApp do ministério, que funciona como um factchecki­ng, já recebeu 1.597 consultas, das quais 310 traziam publicaçõe­s identifica­das como fake news. Além de textos com erros e links de notícias falsas, estão entre as mensagens fraudulent­as áudios enviados por alguém se passando por médico ou enfermeiro e divulgando informaçõe­s sem embasament­o.

As consultas ao WhatsApp Saúde Sem Fake News podem ser feitas por meio do número (61) 9-9289-4640. Todos os boatos desmentido­s podem ser acessados no site saude.gov.br/fakenews.

Segundo Gabriela, o próximo passo da força-tarefa contra as mentiras será criar uma lista de distribuiç­ão no WhatsApp para difundir de forma massiva as checagens feitas para todos que se inscrevere­m no canal e não apenas para quem enviou a consulta. A lista será criada após as eleições, pois a lei eleitoral impede que órgãos públicos divulguem informação espontanea­mente no período de campanha.

Alerta mundial. Os danos das notícias falsas para a saúde pública não preocupam apenas as autoridade­s brasileira­s. Nos EUA, o Centro de Controle de Doenças investe em publicaçõe­s nas redes sociais e numa rede de alertas de saúde voltados para médicos. A cada novo evento em saúde relevante, como um surto, os profission­ais de saúde recebem um comunicado curto por email alertando sobre o fato e, quando possível, com orientaçõe­s do que fazer. “O importante é agir constantem­ente, trabalhand­o com parceiros: desde os médicos até líderes comunitári­os ou religiosos que tenham credibilid­ade nos seus determinad­os

grupos e possam disseminar a informação correta”, disse Amy Rowland, líder de mídia e relações públicas do Centro de Saúde Global do CDC.

Para Luiza Silva, professora da Faculdade de Comunicaçã­o da Universida­de do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), as autoridade­s sanitárias no mundo estão começando a ficar mais alertas para os riscos das fake news para a saúde pública e a enxergar que não basta combatê-las apenas com notas nos sites oficiais ou comunicado­s técnicos. “É um passo excelente que os órgãos despertem para esse caráter de epidemia que as fake news têm. Assim como as doenças, essas informaçõe­s erradas viralizam, contagiam e precisam ser combatidas com rapidez.”

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FOTOS: PORTAL MINISTÉRIO DA SAÚDE/REPRODUÇÃO Checagem. Publicaçõe­s ganham selos segundo a veracidade. ‘É uma questão de saúde pública’, diz coordenado­ra

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