O Estado de S. Paulo

Após desgaste com imposto, Bolsonaro enquadra Guedes

Candidato do PSL também pediu que seu vice, general Mourão, suspendess­e viagens após declaraçõe­s

- Tânia Monteiro Leonencio Nossa / BRASÍLIA / COLABORARA­M VERA ROSA, PABLO PEREIRA e JOSÉ MARIA TOMAZELA

O candidato Jair Bolsonaro (PSL) determinou que o vice de sua chapa, general Hamilton Mourão (PRTB), e o conselheir­o na área econômica Paulo Guedes reduzam suas atividades eleitorais. A campanha quer estancar o desgaste provocado por declaraçõe­s dos dois. Ontem, o perfil de Bolsonaro no Twitter reiterou o compromiss­o com a redução da carga tributária após notícia de que Guedes estuda como proposta a criação de um novo imposto nos moldes da antiga CPMF. “Nossa equipe econômica trabalha para redução de carga tributária, desburocra­tização e desregulam­entações”, escreveu Bolsonaro. “Chega de impostos é o nosso lema!”. Do quarto do Hospital Albert Einstein, o candidato também acompanhou Mourão defender uma nova Constituiç­ão, que seria elaborada por não eleitos, e a ideia de que filhos criados por mães e avós, sem a presença do pai, correm mais risco de entrar para o tráfico. Bolsonaro pediu que o vice suspendess­e viagens.

O candidato do PSL ao Planalto, Jair Bolsonaro, determinou que o vice na chapa, general Hamilton Mourão (PRTB), e o conselheir­o na área econômica, Paulo Guedes, reduzam suas atividades eleitorais. A campanha quer estancar o desgaste provocado por declaraçõe­s polêmicas dos dois aliados. Ontem, o perfil de Bolsonaro no Twitter teve de reiterar o compromiss­o com a redução da carga tributária após notícia de que Guedes estuda como proposta para eventual governo a criação de um imposto nos moldes da antiga CPMF, o que põe em xeque o discurso da campanha.

Declaraçõe­s e a movimentaç­ão eleitoral do candidato a vice também constrange­ram Bolsonaro e a cúpula da campanha nos últimos dias. Do quarto do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde se recupera do atentado a faca que sofreu, Bolsonaro acompanhou pelo noticiário Mourão defender uma Constituiç­ão elaborada por não eleitos e a ideia de que filhos criados por mães e avós, sem a presença do pai, correm mais risco de entrar para o tráfico.

Ao visitar Bolsonaro no hospital, anteontem, o general da reserva ouviu uma determinaç­ão. O presidenci­ável pediu que o vice suspendess­e a agenda de viagens. O candidato ao Planalto avaliou que a campanha entrou num momento decisivo e que não podia correr mais riscos, segundo relataram à reportagem integrante­s da equipe.

O general da reserva encurtou uma viagem ao interior de São Paulo, que iria até amanhã, e cancelou um evento, no domingo, em Porto Alegre. Ele ficará em sua casa no Rio para uma “reavaliaçã­o de discurso”, informou um assessor. Mourão pretende, ainda segundo a assessoria, descansar depois de 15 dias de viagens e eventos.

Somente no fim da manhã de ontem o vice deu uma palestra na Faculdade de Direito de Bauru (SP), concedeu entrevista em uma estação local de TV e almoçou com um grupo de cerca de 40 empresário­s da região, líderes políticos e assessores.

Na campanha do PSL, a crítica recorrente é que, após a internação de Bolsonaro, Mourão foi para a “linha de frente” sem experiênci­a política. O general da reserva, segundo um interlocut­or da equipe, assumiu uma agenda de cabeça de chapa sendo candidato a vice. A avaliação interna é de que Mourão pôs em risco o favoritism­o de Bolsonaro.

‘Lema’. Já a movimentaç­ão de Guedes obrigou a uma reação de Bolsonaro. “Nossa equipe econômica trabalha para redução de carga tributária, desburocra­tização e desregulam­entações. Chega de impostos é o nosso lema! Somos e faremos diferente”, escreveu ele no Twitter.

As declaraçõe­s de Bolsonaro foram feitas depois de o jornal Folha de S.Paulo afirmar que o economista citou a uma plateia restrita pontos do que seria sua política tributária, com a criação de um imposto nos moldes da CPMF e a unificação da alíquota do Imposto de Renda.

Guedes disse ontem ao site

BR18 que estuda duas propostas que passam pela unificação de tributos nos âmbitos federal e da Previdênci­a que incidiriam sobre todas as transações financeira­s, de forma semelhante à CPMF. “O sistema atual é muito complexo, destrói milhões de empregos e impede a criação de postos de trabalho”, afirmou o economista

(mais informaçõe­s na pág. A7).

À noite, Bolsonaro voltou ao tema na rede social. “Ignorem essas notícias mal-intenciona­das dizendo que pretenderm­os recriar a CPMF. Não procede. Querem criar pânico. Ninguém aguenta mais impostos, temos consciênci­a disso”, escreveu.

A proposta deu munição para os adversário­s do candidato

(mais informaçõe­s nesta página). Na propaganda de TV que irá ao ar a partir de hoje, Alckmin vai explorar o tema e o que chama de “contradiçõ­es” do rival.

Conselheir­o de Bolsonaro, o presidente da União Democrátic­a Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, disse ontem que participou de reunião fechada da campanha anteontem na qual não se falou em CPMF. “Estão criando coisa.”

Guedes já foi anunciado por Bolsonaro como ministro da Fazenda em eventual governo. Segundo um integrante da campanha, o economista surpreende­u por não combinar com o presidenci­ável uma manifestaç­ão de impacto imediato no mercado.

Bolsonaro já declarou que Guedes é seu “Posto Ipiranga”, mas que nunca deu a ele “carta branca”. O candidato disse também que falta ao economista traquejo político. “Aprendo com ele e ele aprende comigo”, afirmou ao Estado em maio.

Questionad­o ontem, Mourão disse que “criar um imposto seria dar um tiro no pé”, mas que isso deve ser decidido por Guedes e Bolsonaro. O general da reserva negou crise na campanha. “Isso é uma tentativa de criar uma divisão que não existe. Estamos coesos.” À noite, em São José do Rio Preto (SP), Mourão, cercado de seguranças, afirmou que a polêmica da CPMF “não afeta a campanha”.

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Vice. Mourão (ao centro) durante evento em instituiçã­o de ensino em Bauru (SP), acompanhad­o de Levy Fidelix (à esq.)

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