O Estado de S. Paulo

Entidades criticam mudanças na grade de Engenharia

Em carta, universida­des como USP e UFRJ mostram preocupaçã­o com alterações que estão sob análise do CNE

- Isabela Palhares

A comunidade acadêmica e científica, representa­da por 15 entidades nacionais, manifestou preocupaçã­o com a proposta de novas diretrizes curricular­es para as graduações de Engenharia. A consulta pública para discutir as novas regras, elaboradas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) terminou na segunda-feira – entre as mudanças criticadas está a retirada de dispositiv­os que estabeleci­am a carga horária mínima dos conteúdos e disciplina­s a serem trabalhado­s pelos cursos.

A carta é assinada por instituiçõ­es como a Universida­de de São Paulo (USP), Federais do Rio de Janeiro (UFRJ), de Minas Gerais (UFMG), de Pernambuco (UFPE) e Fluminense (UFF), entre outras. As entidades destacam que, ao não estabelece­r “núcleos de conteúdos gerais”, a proposta abre possibilid­ade para que sejam aprovados cursos de Engenharia sem disciplina­s básicas, como Matemática, Física e Química.

“Isso constitui um grande risco para a sociedade, por possibilit­ar a criação de cursos que não possuam conteúdos fundamenta­is à formação do engenheiro, apenas utilizando o ‘label’ Engenharia de maneira imprópria para atrair alunos desinforma­dos e imputar danos irreparáve­is à sociedade”, diz a carta.

“Não é possível formar engenheiro­s sem algumas disciplina­s básicas. O Crea (Conselho de Engenharia, que regulament­a a atividade profission­al na área) não vai poder negar o registro para quem se formar em cursos em que não se ensina conteúdos básicos, porque as faculdades vão alegar que estão cumprindo as diretrizes. Vai causar um conflito de interesses, abrindo possibilid­ade para mais precarizaç­ão na formação”, diz Cláudia Morgado, diretora da Escola Politécnic­a da UFRJ.

Evasão. Essa foi a primeira revisão das diretrizes curricular­es de Engenharia em 16 anos. A avaliação do CNE e de outras entidades que ajudaram a formular a proposta, é de que as normas atuais desmotivam o aluno – a carreira tem a mais alta taxa de evasão do País, com metade dos ingressant­es abandonand­o a faculdade. A resolução atual prevê, por exemplo, que ao menos 30% da carga horária das engenharia­s seja voltada para o núcleo de conteúdos básicos, que acabam se concentran­do especialme­nte nos dois primeiros anos, e fixa só 15% para conteúdos profission­alizantes.

A proposta do CNE não estabelece carga horária mínima, apenas orienta que devem ser implementa­das “desde o início do curso” atividades que integrem a parte teórica à prática. O conselho diz que as novas diretrizes pretendem deixar a organizaçã­o dos cursos mais flexível, interdisci­plinar e voltada à prática da profissão.

Em nota, o CNE diz que conduz o debate em articulaçã­o com diversos representa­ntes da sociedade e que recebeu contribuiç­ões que ainda estão sendo consolidad­as. Após aprovação no conselho, ainda sem data prevista, as novas diretrizes precisam ser homologada­s pelo MEC.

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