O Estado de S. Paulo

O ‘rali Bolsonaro’

- Fábio Alves

Areação do mercado financeiro a cada pesquisa que aponta para uma maior possibilid­ade de vitória do candidato Jair Bolsonaro, do PSL, nas eleições presidenci­ais é um sinal claro da aposta em um candidato de direita. É o “rali Bolsonaro”.

E até onde chegariam a Bolsa brasileira e a cotação do dólar ante o real em caso de vitória de Bolsonaro?

Os investidor­es consideram, neste momento, que o “rali Bolsonaro” num cenário de eventual vitória dele na eleição presidenci­al seria apenas um “relief rally”, ou seja, um rali de alívio e, por tabela, temporário.

O sentimento de alívio seria mais pela derrota da esquerda, personific­ada na candidatur­a de Fernando Haddad (PT), do que propriamen­te pela empolgação com um eventual governo Jair Bolsonaro.

Tanto que chamou atenção na pesquisa Ibope/Estado/TV Globo, divulgada na terça-feira, a disparada de 11 pontos porcentuai­s de Haddad, que se consolidou em segundo lugar com 19%. É verdade que o mercado já esperava Haddad subir mais nas pesquisas de intenção de voto e ficar em segundo lugar, mas um cresciment­o de 11 pontos em apenas uma semana não pode ser minimizado.

Para os investidor­es, mais importante do que Bolsonaro passar de 26% para 28% no primeiro turno foi a melhora do seu desempenho nas simulações de segundo turno na pesquisa Ibope.

Mas o cenário do “rali Bolsonaro” não será apenas de céu de brigadeiro até o final das eleições.

Isso porque muitos investidor­es não descartam a probabilid­ade de que Haddad consiga mesmo até ultrapassa­r Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto na virada do primeiro para o segundo turno, o que vai injetar uma grande dose de nervosismo. Mais ainda: nessa trajetória de cresciment­o de Haddad nas pesquisas de intenção de voto, se o candidato petista ficar, pelo menos, 5 pontos porcentuai­s à frente de Bolsonaro nas simulações de segundo turno, não se descarta o Ibovespa recuando fortemente, caindo do patamar atual ao redor de 78 mil pontos para até 70 mil pontos, e o dólar subindo até R$ 4,50.

Mas, afinal, como seria o “rali Bolsonaro” caso o candidato do PSL venha a ser eleito presidente?

Investidor­es acreditam que o dólar possa recuar até R$ 3,80 e o Ibovespa volte para um patamar de 85 mil pontos.

E por que esse rali pode ser temporário? Porque, na fotografia de hoje, muitos investidor­es ainda se mostram céticos em relação à capacidade de Bolsonaro implementa­r as reformas estruturai­s necessária­s, em especial a da Previdênci­a.

Sobre essa reforma, inclusive, há dúvidas por parte dos investidor­es sobre a qualidade do projeto de reforma elaborado por Paulo Guedes, o coordenado­r do programa econômico de Bolsonaro e tido como futuro ministro da Fazenda num eventual governo do candidato do PSL.

Além disso, o “rali Bolsonaro” dependerá de notícias sobre a formação de um eventual governo dele. Como seria a composição ministeria­l? Esse ministério abrangeria uma coligação de partidos que pudesse garantir os 308 votos necessário­s para aprovar uma reforma da Previdênci­a?

Também será atentament­e monitorado pelo mercado – com impacto nos preços dos ativos – quem seria o coordenado­r político num eventual governo Bolsonaro.

Teria esse coordenado­r a habilidade para costurar uma aliança para garantir uma base fiel e sólida no Congresso?

Dependerá da resposta a essas perguntas o quanto o “rali Bolsonaro” conseguirá durar e levar os preços dos ativos brasileiro­s a outro patamar.

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