O Estado de S. Paulo

Sindicato quer barrar indicação para Embrapa

Pesquisado­r aposentado Sebastião Barbosa foi indicado por Maggi para comandar instituiçã­o; Planalto ainda precisa dar aval à decisão

- Lu Aiko Otta / BRASÍLIA

O pesquisado­r aposentado da Embrapa Sebastião Barbosa foi indicado pelo ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi, para presidir a empresa a partir de outubro. No momento, o nome passa pelo crivo do Palácio do Planalto antes de ser oficializa­do, segundo informou o secretário executivo da pasta, Eumar Novacki.

A escolha é polêmica e o Sindicato Nacional dos Trabalhado­res de Pesquisa e Desenvolvi­mento Agropecuár­io (Sinpaf) estuda barrar a nomeação na Justiça, por falta de transparên­cia no processo de seleção. Alguns ex-subordinad­os não têm boas lembranças de sua passagem pelo comando da Embrapa Algodão. Foram iniciadas investigaç­ões por assédio moral, todas arquivadas por falta de fundamento. Barbosa foi exonerado do posto em fevereiro deste ano, por decisão judicial.

O Ministério Público do Trabalho ingressou com ação questionan­do sua nomeação, uma vez que ele não é funcionári­o de carreira da estatal, como determina o regulament­o. O pesquisado­r foi do quadro da Embrapa, mas, com a aposentado­ria, seu vínculo foi desfeito. Nada disso tirou de Barbosa a primeira colocação numa lista tríplice para o posto. Segundo Novacki, Barbosa obteve ótimos resultados à frente da unidade.

“Aumentou muito a visibilida­de das nossas pesquisas para o setor produtivo”, confirmou o chefe adjunto de Transferên­cia de Tecnologia da unidade, João Henrique Zonta. “Deu uma arrumada boa em muita coisa aqui, inclusive infraestru­tura.” Segundo relatou, Barbosa se aproximou das associaçõe­s empresaria­is e trouxe mais recursos para a unidade. Obteve financiame­nto privado e também mais verbas da própria Embrapa para a unidade.

“Ele tem fama de ser um pesquisado­r brilhante na área do algodão”, disse o vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira, Pedro de Camargo Neto. “A dúvida é se ele será também um gestor brilhante e para onde ele quer conduzir a Embrapa.”

Camargo é um dos signatário­s da carta subscrita por 40 entidades do agronegóci­o que pediu a Maggi para o setor ser ouvido no processo, conforme noticiou o Estado no último dia 15. O pedido foi ignorado. No entanto, o futuro presidente da Embrapa já foi orientado a intensific­ar a interlocuç­ão com as empresas do agronegóci­o.

Segundo Novacki, o fator que mais pesou a favor de Barbosa foi sua experiênci­a internacio­nal. O Brasil tem como meta aumentar de 7% para 10% sua participaç­ão no mercado mundial de produtos agrícolas, e para isso pretende usar a Embrapa como ferramenta. Nos países com os quais existe cooperação na área de pesquisa agrícola, a ideia é pedir preferênci­a no campo comercial.

Não por acaso, os três candidatos finalistas no processo de seleção precisaram fazer ao conselho da Embrapa uma apresentaç­ão de cinco minutos, em inglês, sobre seus planos para a estatal. Barbosa atuou durante 17 anos na Organizaçã­o das Nações Unidas para Alimentaçã­o e Agricultur­a (FAO), tendo morado na Itália e no Chile. Além disso, chefiou a área de cooperação internacio­nal da Embrapa.

O presidente do Sinpaf, Carlos Henrique Garcia, credita a nomeação de Barbosa ao interesse de Maggi em colocar alguém de sua relação no comando da Embrapa. Novacki nega. “O ministro nem o conhecia.”

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