O Estado de S. Paulo

Brasil deve dar apoio à nova OMC

Governo, porém, quer incluir temas de interesse de emergentes, como o fim dos subsídios dos países ricos que distorcem o mercado agrícola

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA

O governo brasileiro vai apoiar a ideia de uma reforma na Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC), ameaçada pela guerra comercial entre EUA e China e pela pior crise do sistema internacio­nal desde sua criação. No entanto, só deve aceitar mudanças nas regras internacio­nais se temas do interesse de países em desenvolvi­mento também forem atendidos, principalm­ente no que se refere ao combate de mais de 20 anos da diplomacia nacional pelo fim dos subsídios dos países ricos que distorcem o mercado agrícola.

A posição do Itamaraty será explicada aos demais governos quando um grupo de 13 países se reunir em Genebra hoje para começar a desenhar um plano para salvar a OMC. O encontro foi convocado pelo Canadá, como forma de preparar uma reunião ministeria­l no país em outubro.

No centro do debate estará um projeto elaborado pela União Europeia para “refundar" o sistema comercial mundial e promover a maior reforma nas instituiçõ­es em um quarto de século. O plano é criar uma “nova” OMC, com regras mais adaptadas ao século 21 e, assim, evitar que o governo americano abandone o sistema internacio­nal. O problema, para os emergentes, é que os “velhos temas” das distorções agrícolas jamais foram solucionad­os e, agora, podem ser dados como encerrados.

Nos últimos meses, o presidente americano, Donald Trump, levou os tribunais da OMC à beira de uma paralisia e deixou claro que os EUA poderiam se retirar do acordo. Se por meses a direção da OMC acreditou que as ameaças não se concretiza­riam, o cenário começou a mudar quando a Casa Branca se retirou do acordo nuclear com o Irã, denunciou o acordo climático e reduziu seus compromiss­os com refugiados. Se não bastasse, a onda de retaliaçõe­s comerciais foi um sinal claro de que o discurso de ameaça poderia se transforma­r em realidade.

Temas tabus. O governo brasileiro já deixou claro que está disposto a conversar e que não existem “temas tabus”. Em outras palavras, o Itamaraty está pronto para debater qualquer assunto, incluindo o fim da divisão dos países da OMC entre “economias em desenvolvi­mento e economias desenvolvi­das”. Para os países mais pobres, as regras davam espaço para maior proteção em setores como o industrial, algo que americanos querem acabar.

No documento europeu, que servirá de base para a negociação, “o resultado (do atual sistema) é que o grupo de países em desenvolvi­mento agora inclui algumas das maiores nações comerciais do mundo, com diferenças significat­ivas em comparação a outros membros do grupo e que, em alguns casos, têm níveis de desenvolvi­mento superiores a países que fazem parte do dito grupo de economias desenvolvi­das”.

Pelo projeto, portanto, países poderiam se “graduar” do status de emergente e, assim, competir sob as mesmas regras hoje que vigoraram para EUA e Europa. A China é o alvo dessas regras.

No esforço para modernizar a OMC, a UE sugere que acordos possam ser fechados apenas entre alguns governos e que não seja necessário contar com todos, como ocorre hoje.

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DENIS BALIBOUSE/REUTERS-26/7/2018 Reunião. Países-membros da OMC começam a discutir mudança no organismo multilater­al

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