Para Azevêdo, disputa pode ir além de tarifas
Advertência “Há muita munição. Isso pode escalar para outras áreas. É um caminho muito perigoso.” Roberto Azevêdo DIRETORGERAL DA OMC
A disputa comercial entre EUA e China poderá ir além da elevação de tarifas de importação de lado a lado, alertou ontem, no Rio, o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o embaixador brasileiro Roberto Azevêdo. Desde o início do ano, o governo Donald Trump já elevou tarifas de produtos que equivalem a US$ 250 bilhões em importações da China, quase a metade do que os americanos compram dos chineses, o que, segundo economistas, ameaça o crescimento da economia mundial.
“Algumas pessoas acham que se esgotando as tarifas do comércio bilateral (a disputa) acabou. Não acho que acabou, não. Há muita munição. Isso pode escalar para outras áreas, que não apenas a tarifária. É um caminho muito perigoso”, disse Azevêdo a jornalistas, após participar de evento da Federação das Indústrias do Rio.
A disputa comercial ir além da “área tarifária”, como disse Azevêdo, significaria incluir “barreiras não tarifárias”, como exigênciastécnicasoufitossanitárias. O diretor-geral da OMC evitou citar exemplos, para não dar “munição” à disputa, mas disse que há uma “quantidade” l de opções.
Segundo o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, José Augusto Castro, as exigências técnicas ou fitossanitárias são barreiras difíceis de detectar. Isso porque são colocadas como questão de segurança ou saúde pública, mas, muitas vezes, têm o objetivo real de restringir importações e proteger o mercado local. “Se isso se alastrar, atinge o comércio internacional mais ainda.”
O efeito seria mais generalizado porque, diferentemente das tarifas, facilmente aplicadas aos produtos de um país específico, as exigências técnicas ou fitossanitárias costumam valer para todos os países. Nesse caso, conforme o presidente da AEB, os países emergentes tendem a sair mais prejudicados.
Já o embaixador José Alfredo Graça Lima, conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), considera improvável que a disputa chegue a tanto.“Em matéria de comércio internacional, as sobretaxas já fazem estrago suficiente. Não acredito em outras formas de restrição.”