O Estado de S. Paulo

‘OS PARTIDOS PRECISAM REINVENTAR A POLÍTICA’

- / GABRIEL MANZANO

Vença quem vencer a eleição presidenci­al, a política brasileira caminha para uma nova fase – e precisa dela: a da reinvenção da política. O PSDB tem de “criar coragem, lavar a roupa suja, reconhecer de forma decisiva seus erros, redefinir a rota, reinstitui­r-se como partido democrátic­o e moderno. E o PT deveria fazer a mesma coisa, mas não sabemos se ele é capaz disso”. O cenário foi apresentad­o à coluna pelo cientista político José Alvaro Moisés, da USP, num momento em que o encolhimen­to da candidatur­a de Geraldo Alckmin na disputa presidenci­al abre uma zona escura para o tucanato – ao menos no curto prazo – e parece tirar de cena uma bipolariza­ção partidária que vem de três décadas ou mais.

A campanha ainda está em curso, mas já se poderia dizer que há uma nova polarizaçã­o, petismo x antipetism­o, está tomando corpo. Mas a direita está virando personagem de peso na vida do País? Pesquisado­r atento desse tema há quatro décadas, Moisés detecta o movimento mas acha difícil prever de quanto será esse peso. Seus estudos detectaram que há um núcleo permanente de 15% do País que, ao longo dos anos 80, 90 e 2000 namorou convictame­nte a ideia de uma ditadura. E ao lado dele, no apoio a Bolsonaro, há agora outras direitas não tão radicais que cresceram por causa da desarrumaç­ão econômica, da inseguranç­a urbana e porque ninguém lhes ofereceu respostas satisfatór­ias para alterar esse quadro. “Isso abriu espaço para alguém que falasse duro e valorizass­e o combate à criminalid­ade.”

Que direita seria essa? Vem com força para tomar a cadeira do PSDB? “Não dá pra dizer que essa onda vá perdurar”, pondera o analista. “Vai depender de qual lado subirá a rampa e que alternativ­as o rival vai oferecer”. Mas ele pede cautela nas previsões. “Pois esta campanha é um fenômeno excepciona­líssimo, marcado pela comoção. De um lado, Lula preso conseguiu mostrar-se como vítima. Do outro, Bolsonaro está numa cama de hospital atingido por uma facada. Não sobrou espaço para as lógicas do PSDB no confronto.”

Outro alerta de Moisés: não é por isso que os tucanos estão murchando. “Esse enfraqueci­mento tomou corpo a partir de movimentos erráticos que a sigla assumiu nos últimos anos. Em 2014, ela contestou o resultado da eleição de Dilma. Depois, envolveu-se de forma inadequada no processo para seu impeachmen­t. Terceiro, veio o apoio ao governo Temer. Para completar, a Lava Jato incumbiu-se de mostrar que também ele, PSDB, tinha culpas no cartório. Culpas agravadas quando não foi pedido a Eduardo Azeredo que deixasse o partido ao ser denunciado. “É uma sequência ruim de atitudes ambíguas, que prejudica os tucanos como ideia e como força eleitoral. E coincidiu com a impaciênci­a da população ante a piora da crise nacional.”

Fatores como esse, ressalta, atingiram na prática todos os partidos. É o que leva Moisés a imaginar que “a saída em 2019 é trabalhare­m todos por uma reinvenção da política”.

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