‘Caso Dedé’ inicia revolta de clubes
Cruzeiro foi à Conmebol reclamar da expulsão do zagueiro no jogo com o Boca e lidera união do Brasil contra a entidade
A expulsão do zagueiro Dedé, do Cruzeiro, na partida de ida das quartas de final da Libertadores, contra o Boca Juniors, anteontem, fez com que os clubes brasileiros iniciassem um movimento de união na tentativa de aumentar a representatividade do País na Conmebol. O pontapé inicial partiu do próprio Cruzeiro, que, na sequência, ganhou apoio de Santos e Palmeiras.
Dedé foi expulso após choque com o goleiro Andrada, do Boca. Sem intenção, o zagueiro deu uma cabeçada no rival em dividida pelo alto. O argentino fraturou o maxilar inferior e deve ficar sem jogar por dois meses. O juiz paraguaio Eber Aquino reviu o lance com auxílio do VAR (árbitro assistente de vídeo) e deu cartão vermelho para o jogador do Cruzeiro.
Revoltada, a diretoria mineira publicou carta de repúdio à Conmebol, na qual pediu abertura de investigação do caso e cobrou uma posição da CBF. “Esperamos que a CBF assuma imediatamente a sua responsabilidade na defesa dos clubes brasileiros, que há tanto tempo são prejudicados maliciosamente pela arbitragem internacional”, diz trecho da nota.
A CBF cobrou por meio de ofício a Conmebol, que respondeu rapidamente, mas de maneira evasiva (mais informações nesta página).
O Santos usou o bom humor nas redes sociais para sair em defesa do Cruzeiro. “A Conmebol não decepciona: consistência! Força, Cruzeiro”, escreveu o clube paulista no Twitter. O Cruzeiro retribuiu o apoio. “Vamos trabalhar forte pra reverter no dia 04/10. Valeu, Peixe.”
No mês passado, o Santos se queixou da punição sofrida pela escalação irregular do volante Sánchez no jogo de ida das oitavas, contra o Independiente. Além de perder no tribunal por 3 a 0 (em campo, foi 0 a 0), o Santos não poderia escalar o atleta no duelo da volta. Após a queixa, a Conmebol liberou Sánchez, mas manteve a derrota.
No Chile, o presidente do Palmeiras, Maurício Galiotte, foi mais incisivo e aumentou o coro pela união dos clubes do País. “Temos de nos unir. O problema não é o VAR ou uma jogada pontual. A gente tem de ter representatividade na Conmebol. O Brasil é muito importante para a Conmebol, para as competições como Libertadores e Sul-Americana. Os assuntos têm de ser tratados. Todos os clubes têm de ser respeitados, com um trabalho mais efetivo”, disse à ESPN.
O presidente do Cruzeiro, Wagner Pires de Sá, e o supervisor de futebol do time mineiro, Benecy Queiroz, foram ontem à sede da Conmebol, em Luque, no Paraguai, para conversar com o presidente da entidade sul-americana, Alejandro Domínguez. Os dirigentes protocolaram solicitação de anulação dos efeitos decorrentes da expulsão de Dedé. O pedido é que o atleta possa disputar a partida de volta, dia 4 de outubro.
“Estamos indignados com tudo o que aconteceu. Não podemos admitir que a decisão pessoal de um árbitro coloque em xeque um sistema tão avançado como o VAR, que vem para contribuir com os avanços do futebol mundial”, disse Sá.
Objetividade. O presidente do Grêmio, atual campeão da Libertadores e da Recopa Sul-Americana, Romildo Bolzan Júnior, considera salutar que os clubes brasileiros se unam. Mas cobra que essa união deve ser para mudar “conceitos” da Conmebol e não apenas para reclamar de situações em que se sintam prejudicados pela entidade, sobretudo em questões relacionadas a jogos e arbitragem. O dirigente gaúcho destoa do discurso da maioria dos cartolas do País.
“Se a gente não tiver uma pauta para discutir, de nada vai adiantar. Temos de trabalhar em cima de uma lista de temas sobre os conceitos do futebol sul-americano. Se não for assim, a pauta vai se perder, fica inexpressiva porque o interesse é individual, e não coletivo”, disse o cartola ao Estado.
Para o dirigente, cabe exclusivamente aos clubes mudar o quadro atual e não adiantaria tentar transferir para a CBF essa responsabilidade.
O presidente do Grêmio insiste que, antes de qualquer movimentação contra a Conmebol, os dirigentes brasileiros precisam definir uma lista de assuntos considerados prioritários e que envolvam todos os times. “Os interesses acabam ficando muito particularizados, e não são coletivos. Esse tipo de situação resulta em uma pauta sem expressão e representatividade. Situações de última hora só tratam de interesses específicos”, comentou Bolzan.