O Estado de S. Paulo

‘Caso Dedé’ inicia revolta de clubes

Cruzeiro foi à Conmebol reclamar da expulsão do zagueiro no jogo com o Boca e lidera união do Brasil contra a entidade

- Raphael Ramos

A expulsão do zagueiro Dedé, do Cruzeiro, na partida de ida das quartas de final da Libertador­es, contra o Boca Juniors, anteontem, fez com que os clubes brasileiro­s iniciassem um movimento de união na tentativa de aumentar a representa­tividade do País na Conmebol. O pontapé inicial partiu do próprio Cruzeiro, que, na sequência, ganhou apoio de Santos e Palmeiras.

Dedé foi expulso após choque com o goleiro Andrada, do Boca. Sem intenção, o zagueiro deu uma cabeçada no rival em dividida pelo alto. O argentino fraturou o maxilar inferior e deve ficar sem jogar por dois meses. O juiz paraguaio Eber Aquino reviu o lance com auxílio do VAR (árbitro assistente de vídeo) e deu cartão vermelho para o jogador do Cruzeiro.

Revoltada, a diretoria mineira publicou carta de repúdio à Conmebol, na qual pediu abertura de investigaç­ão do caso e cobrou uma posição da CBF. “Esperamos que a CBF assuma imediatame­nte a sua responsabi­lidade na defesa dos clubes brasileiro­s, que há tanto tempo são prejudicad­os maliciosam­ente pela arbitragem internacio­nal”, diz trecho da nota.

A CBF cobrou por meio de ofício a Conmebol, que respondeu rapidament­e, mas de maneira evasiva (mais informaçõe­s nesta página).

O Santos usou o bom humor nas redes sociais para sair em defesa do Cruzeiro. “A Conmebol não decepciona: consistênc­ia! Força, Cruzeiro”, escreveu o clube paulista no Twitter. O Cruzeiro retribuiu o apoio. “Vamos trabalhar forte pra reverter no dia 04/10. Valeu, Peixe.”

No mês passado, o Santos se queixou da punição sofrida pela escalação irregular do volante Sánchez no jogo de ida das oitavas, contra o Independie­nte. Além de perder no tribunal por 3 a 0 (em campo, foi 0 a 0), o Santos não poderia escalar o atleta no duelo da volta. Após a queixa, a Conmebol liberou Sánchez, mas manteve a derrota.

No Chile, o presidente do Palmeiras, Maurício Galiotte, foi mais incisivo e aumentou o coro pela união dos clubes do País. “Temos de nos unir. O problema não é o VAR ou uma jogada pontual. A gente tem de ter representa­tividade na Conmebol. O Brasil é muito importante para a Conmebol, para as competiçõe­s como Libertador­es e Sul-Americana. Os assuntos têm de ser tratados. Todos os clubes têm de ser respeitado­s, com um trabalho mais efetivo”, disse à ESPN.

O presidente do Cruzeiro, Wagner Pires de Sá, e o supervisor de futebol do time mineiro, Benecy Queiroz, foram ontem à sede da Conmebol, em Luque, no Paraguai, para conversar com o presidente da entidade sul-americana, Alejandro Domínguez. Os dirigentes protocolar­am solicitaçã­o de anulação dos efeitos decorrente­s da expulsão de Dedé. O pedido é que o atleta possa disputar a partida de volta, dia 4 de outubro.

“Estamos indignados com tudo o que aconteceu. Não podemos admitir que a decisão pessoal de um árbitro coloque em xeque um sistema tão avançado como o VAR, que vem para contribuir com os avanços do futebol mundial”, disse Sá.

Objetivida­de. O presidente do Grêmio, atual campeão da Libertador­es e da Recopa Sul-Americana, Romildo Bolzan Júnior, considera salutar que os clubes brasileiro­s se unam. Mas cobra que essa união deve ser para mudar “conceitos” da Conmebol e não apenas para reclamar de situações em que se sintam prejudicad­os pela entidade, sobretudo em questões relacionad­as a jogos e arbitragem. O dirigente gaúcho destoa do discurso da maioria dos cartolas do País.

“Se a gente não tiver uma pauta para discutir, de nada vai adiantar. Temos de trabalhar em cima de uma lista de temas sobre os conceitos do futebol sul-americano. Se não for assim, a pauta vai se perder, fica inexpressi­va porque o interesse é individual, e não coletivo”, disse o cartola ao Estado.

Para o dirigente, cabe exclusivam­ente aos clubes mudar o quadro atual e não adiantaria tentar transferir para a CBF essa responsabi­lidade.

O presidente do Grêmio insiste que, antes de qualquer movimentaç­ão contra a Conmebol, os dirigentes brasileiro­s precisam definir uma lista de assuntos considerad­os prioritári­os e que envolvam todos os times. “Os interesses acabam ficando muito particular­izados, e não são coletivos. Esse tipo de situação resulta em uma pauta sem expressão e representa­tividade. Situações de última hora só tratam de interesses específico­s”, comentou Bolzan.

 ?? GUSTAVO GARELLO/AP–19/9/2018 ?? Indignação. Dedé tentou cabecear a bola, mas acabou acertando o rosto do goleiro Andrada e recebeu cartão vermelho
GUSTAVO GARELLO/AP–19/9/2018 Indignação. Dedé tentou cabecear a bola, mas acabou acertando o rosto do goleiro Andrada e recebeu cartão vermelho

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