O Estado de S. Paulo

Planos de Bolsonaro e Haddad criam perda bilionária para o IR

Cálculo aponta que queda de arrecadaçã­o seria de R$ 69,3 bi e R$ 38,7 bi

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

As propostas das campanhas de Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) de alterar o Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) implicaria­m perdas de arrecadaçã­o que seriam de R$ 69,3 bilhões e de R$ 38,7 bilhões. O maior impacto é da proposta do economista Paulo Guedes, ligado a Bolsonaro, que prevê acabar com as alíquotas mais altas do IRPF e isentar quem ganha até cinco salários mínimos. Segundo estimativa­s do economista

Sérgio Gobetti, do Ipea, na mudança sugerida por Guedes, 11,2 milhões de pessoas passariam a ficar isentas e 6,1 milhões pagariam menos imposto. Já a perda de arrecadaçã­o embutida na proposta de Haddad de isentar de imposto quem ganha até cinco salários mínimos é menor, mas também elevada. O economista Guilherme Mello, ligado a Haddad, diz que a ideia é criar faixas com alíquotas mais altas para quem ganha mais. A campanha de Bolsonaro não se pronunciou. Em 2017, a União arrecadou R$ 218,3 bilhões com o IRPF.

As propostas apresentad­as pelas campanhas dos dois candidatos que lideram a corrida eleitoral ao Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), de alterar a cobrança de Imposto de Renda da Pessoa Física implicaria­m perdas de arrecadaçã­o aos cofres públicos que vão de R$ 38,7 bilhões a R$ 69,3 bilhões. O impacto maior é da proposta apresentad­a pelo economista Paulo Guedes, principal conselheir­o econômico de Bolsonaro, que prevê acabar com as alíquotas mais altas do IRPF e isentar quem ganha até cinco salários mínimos.

Segundo estimativa­s feitas a pedido do Estadão/Broadcast pelo economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Sérgio Gobetti, a mudança proposta por Guedes atingiria 17,3 milhões de pessoas – 11,2 milhões passariam a ficar isentas e outras 6,1 milhões pagariam menos imposto.

Embora seja tratado como “Posto Ipiranga” por Bolsonaro, Guedes foi desautoriz­ado pelo candidato nesta semana por outra proposta em estudo na campanha: a criação de um tributo sobre movimentaç­ões financeira­s, semelhante à extinta CMPF. A ideia foi prontament­e rechaçada pelo presidenci­ável, que enquadrou o conselheir­o.

A proposta para o IRPF, porém, tem o respaldo do candidato, que a elogiou em entrevista à Folha de S.Paulo ontem. Guedes pretende reduzir as atuais alíquotas de 27,5% e 22,5% para 20% e ampliar o atual limite de isenção para cinco salários mínimos (aproximada­mente R$ 57,2 mil anuais).

Consideran­do a população adulta no Brasil, de cerca de 150 milhões de pessoas, a proposta da equipe de Bolsonaro beneficiar­ia os 11% mais ricos do País, especialme­nte aqueles que têm os maiores salários. Como exemplo, Gobetti diz que quem ganha R$ 45 mil anuais terá uma redução de aproximada­mente 5,5% na carga tributária, enquanto quem ganha acima disso pode ter um aumento de até 8% em sua renda líquida.

“A medida pode aumentar a concentraç­ão de renda e ainda prejudicar o ajuste fiscal”, avaliou o economista do Ipea, um dos autores do primeiro estudo que estimou o impacto da volta da tributação de lucros e dividendos – ideia que ganhou apoio de quase todos os candidatos que estão na corrida presidenci­al e da área econômica do governo.

O especialis­ta do Ipea calcula que, embora Guedes afirme que a perda de arrecadaçã­o trazida pela mudança no IRPF seria compensada com a tributação de 20% dos dividendos distribuíd­os a pessoas físicas, esse reequilíbr­io poderia ser perdido, uma vez que ele também pretende reduzir a carga tributária das empresas de 34% (somando IRPJ com a CSLL) para 15%.

Segundo Gobetti, a proposta de reduzir a tributação das rendas mais altas – e, no limite, adotar uma única alíquota – foi popular entre os economista­s liberais americanos dos anos 1980 e influencio­u os sistemas tributário­s dos países do leste europeu e ex-repúblicas soviéticas. A ideia que prevalecia na época era a de que a concessão de benefícios fiscais aos mais ricos estimulari­a os investimen­tos e geraria emprego e renda para todos, incluindo os mais pobres, mas, na prática, isso não se confirmou.

Programa petista. Já a perda de arrecadaçã­o embutida na proposta de Haddad de isentar de imposto quem ganha até cinco salários mínimos é menor do que a do conselheir­o econômico de Bolsonaro, mas também bastante elevada. A perda estimada é de R$ 38,7 bilhões, segundo o economista.

“A proposta do PT pretendia beneficiar apenas a classe média e, talvez, onerar os mais ricos, mas do modo como foi apresentad­a também beneficia o andar de cima, pois todos os contribuin­tes acabariam pagando menos imposto com a ampliação da faixa de isenção”, afirma o pesquisado­r. Segundo ele, a equipe de campanha do PT subestimou o tamanho da renúncia de receita em apenas R$ 5,2 bilhões por não contabiliz­ar o efeito indireto da isenção sobre os maiores salários.

Escalado pela equipe de Haddad para tratar de questões econômicas, o economista Guilherme Mello, porém, disse que a ideia é criar faixas com alíquotas mais altas para quem ganha mais. “O balanço vai ser neutro ou com pequenos ganhos de arrecadaçã­o. Temos simulações com vários cenários. Agora, qual vai ser a tabela vai depender de negociação com o Congresso. O importante é que o conceito seja mantido, que é aumentar a progressiv­idade e tributar dividendos”, disse Mello.

O economista do PT aponta também um efeito indireto da medida que pode ajudar nas contas. “Hoje você tem uma espécie de incentivo para a ‘pejotizaçã­o’, que tira recurso da Previdênci­a. Isso tem um impacto terrível. Se somar esses impactos, o efeito na arrecadaçã­o final é positivo e abre espaço para repensar outros impostos.”

Procurada, a campanha de Bolsonaro não respondeu aos pedidos da reportagem para comentar os cálculos do impacto da proposta para o IR.

Técnicos da Receita Federal veem com preocupaçã­o as propostas de mudança no IRPF. A avaliação é de que haverá uma “perda absurda” de arrecadaçã­o de “impossível equação orçamentár­ia”.

“A medida (do PSL) pode aumentar a concentraç­ão de renda (...) A proposta do PT também beneficia o andar de cima.” Sérgio Gobetti

PESQUISADO­R DO IPEA

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NA WEB Eleições 2018. Veja a cobertura completa estadao.com.br/e/eleicoes20­18

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