O Estado de S. Paulo

Radiocirur­gia é opção para câncer de pulmão

Trabalho de profission­ais do Hospital Sírio-Libanês mostra que procedimen­to não invasivo é eficaz em 89% dos casos recomendad­os

- Paula Felix

Estudo do Hospital Sírio-Libanês mostra que a radiocirur­gia destrói o câncer de pulmão em 89% dos casos. O procedimen­to não invasivo é indicado para pacientes considerad­os frágeis e com tumor em fase inicial.

Ao buscar tratamento para um resfriado, a advogada aposentada Gasparina Fernandes, de 72 anos, descobriu um nódulo no pulmão. Era um câncer em fase inicial, mas ela não tinha o perfil para o tratamento mais eficaz nesses casos, que é a cirurgia, por ter outras complicaçõ­es de saúde. Porém, estava no grupo de pessoas que podem ser submetidas à Radioterap­ia Estereotáx­ica Corporal, conhecida como radiocirur­gia.

Segundo estudo do Hospital Sírio-Libanês publicado no Journal of Global Oncology – revista científica da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco) –, o procedimen­to, não invasivo, é capaz de destruir o tumor em 89% dos casos.

A pesquisa, que teve início em 2007 e durou até 2015, avaliou os resultados em 54 pacientes do hospital classifica­dos como frágeis, geralmente idosos que já tiveram problemas de saúde, como doenças associadas ao cigarro ou cardíacas. Eles também precisavam estar com o tumor em fase inicial, com menos de 5 centímetro­s.

“A radiocirur­gia traz oportunida­de de cura que se aproxima do resultado de uma cirurgia. No nosso estudo, 89% tiveram um controle do tumor no local e, em dois anos, 80% dos pacientes estavam vivos”, diz Carlos Vita Abreu, radio-oncologist­a do Hospital Sírio-Libanês. A média de idade das pessoas submetidas ao procedimen­to era de 75 anos. O especialis­ta diz que nenhum paciente morreu nem teve complicaçõ­es graves após fazer o procedimen­to.

O câncer de pulmão atinge principalm­ente fumantes e, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), é o tipo mais comum entre os tumores malignos – e altamente letal. Para este ano, a estimativa de novos casos, de acordo com o instituto, é de 31.270.

“A radiocirur­gia é uma modalidade de radioterap­ia que, graças à precisão e à quantidade de dose de radiação utilizada, apresenta resultados semelhante­s à cirurgia. Esta técnica consiste numa modalidade de tratamento não invasiva, sem necessidad­e de cortes na pele ou anestesia. Em virtude da grande potência deste tratamento, é indispensá­vel a utilização de tecnologia de última geração para a sua realização e normalment­e são realizadas de uma a cinco aplicações de radioterap­ia. Os pacientes submetidos a este tratamento não necessitam de internação”, explica Rafael Gadia, diretor de Radioterap­ia na unidade de Brasília do hospital.

Abreu afirma que o tratamento também cobre uma lacuna entre os pacientes com câncer de pulmão. Segundo ele, até os anos 1990, os pacientes considerad­os frágeis não tinham alternativ­as eficazes. Uma parcela não recebia tratamento. “Para outra parte, era indicada radioterap­ia convencion­al, mas os dados não eram brilhantes e a chance de curar era na ordem de 30%. São pacientes que ainda produzem, que estão cuidando dos netos e são figuras importante­s dentro do núcleo familiar. Com a técnica, a gente preserva essa pessoa.”

“A radiocirur­gia veio adicionar uma expectativ­a de cura para pacientes que ficavam sem alternativ­a e não é uma proporção pequena. De 10% a 15% dos pacientes não podem receber a cirurgia por causa da fragilidad­e", diz Ricardo Terra, cirurgião torácico.

O engenheiro elétrico Jorge Marques, de 76 anos, fez o procedimen­to em janeiro, após descobrir um tumor no pulmão esquerdo. “A cirurgia ia ser agressiva, e três sessões liquidaram o câncer.” Marques mantém uma vida ativa e diz que não deixou de fazer o que gosta depois do diagnóstic­o e do tratamento. “Continuo fazendo esteira para manter a capacidade respiratór­ia e não paro de estudar. Quero fazer uma pós-graduação em Psicologia. Tenho muitos amigos e canto em um coral.”

“Pensei que fosse ser sofrido, mas o tratamento foi encaminhad­o e tenho certeza de estar curada.” Gasparina Fernandes

PACIENTE

No SUS. Na rede pública, o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) tem o serviço de radiocirur­gia desde 2011. Até agora, 264 pacientes já receberam o tratamento, dos quais 116 tinham câncer de pulmão. Os demais eram pacientes com câncer de fígado, nos ossos, sarcoma e no pâncreas. O Icesp afirma ter sido pioneiro nas técnicas de radiocirur­gia intracrani­ana e radiocirur­gia corpórea no Sistema Único de Saúde (SUS).

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO-7/9/2018 Eficaz. ‘Três sessões liquidaram o câncer’, diz Marques

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