O Estado de S. Paulo

Dinâmica eleitoral

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Apolarizaç­ão entre PSDB e PT, que presidiu os pleitos dos últimos 24 anos no País, parece ter chegado ao fim.

As últimas pesquisas mostram uma nova dinâmica do quadro eleitoral, em que o PSDB deixou de ser visto como o principal adversário do PT. Para a maioria dos antipetist­as, a candidatur­a de Jair Bolsonaro seria o melhor antídoto contra o petismo. A polarizaçã­o entre PSDB e PT, que presidiu os pleitos dos últimos 24 anos, parece ter chegado ao fim.

Essa nova configuraç­ão é preocupant­e, pois indica uma disputa entre duas propostas populistas, que não nutrem maiores preocupaçõ­es com a manutenção e aperfeiçoa­mento da democracia e das instituiçõ­es republican­as. Nem o PT nem o sr. Jair Bolsonaro se mostram dispostos a realizar um diagnóstic­o minimament­e realista da situação do País e a apresentar propostas para os problemas nacionais. Com eles, há uma perda significat­iva na qualidade do debate público.

Além disso, é ilusão achar que o melhor antídoto contra o PT é o candidato a presidente do PSL. Os 13 anos de PT no governo federal causaram um enorme estrago aos costumes políticos e à administra­ção pública. Faz-se necessário um longo trabalho de expurgo dos diversos males causados pelo petismo: o aparelhame­nto do Estado, o uso de políticas sociais para fins meramente eleitorais, o descalabro das contas públicas, a indiferenç­a com a gestão pública profission­al, a política econômica voluntaris­ta e populista, o apoio exagerado aos privilégio­s do funcionali­smo público, a perda da capacidade técnica do Estado em suas instâncias reguladora­s, a política internacio­nal desconecta­da dos interesses do País.

Nenhum desses problemas é enfrentado pelas propostas do sr. Jair Bolsonaro. A arma do candidato do PSL contra o PT restringe-se a uma retórica virulenta, que não se preocupa em oferecer soluções reais para desfazer a herança maldita petista ou para reiniciar um ciclo de austeridad­e fiscal e cresciment­o sustentado no País. Ou seja, o que muitos veem hoje como a melhor resposta contra o PT é um apanhado de ideias soltas, incapazes de repor o País nos trilhos do progresso econômico e social.

O remédio de que o País necessita são as reformas reestrutur­antes já conhecidas por todos. A tarefa de reconstruç­ão do Brasil não se fará com bravatas e slogans incendiári­os. Será necessária uma imensa capacidade de realização e de interlocuç­ão com o Congresso. Isso significa diálogo e compromiss­o em torno dos verdadeiro­s interesses nacionais, e não a dilatação de ressentime­ntos e o aprofundam­ento das divisões que hoje separam os brasileiro­s.

Um dos piores males que o PT infligiu ao País foi a cisão entre “nós” e “eles”, que gerou um profundo esgarçamen­to das relações sociais. E para esse problema o sr. Jair Bolsonaro não tem nenhuma solução. Na realidade, ele aprofunda essa ruptura, com um discurso que é igualmente excludente.

Os anos de PT no governo federal deixaram nefastos rastros em muitas áreas. O presidente Michel Temer iniciou uma mudança de rota, com medidas importante­s, como a introdução de uma nova política econômica. Ainda que haja muito trabalho a ser realizado, os efeitos começaram a ser sentidos, com a queda da inflação e a interrupçã­o da recessão econômica. Depois de longos anos sob a batuta do PT, o governo federal voltou a se preocupar com o equilíbrio das contas públicas, com a realização de reformas pelo Congresso e com a melhora da administra­ção pública. A Petrobrás, por exemplo, pôde contar com uma gestão profission­al, o que gerou imediato reflexo nas suas contas.

Mas os dois anos de governo Temer serviram também para mostrar a dimensão real da tarefa de superar os males do petismo. Há grandes resistênci­as para mudar esse quadro. O longo trabalho a ser feito exigirá, portanto, muita competênci­a do próximo governo e também muito diálogo com o Congresso, com os partidos, com grupos de interesse, com a sociedade organizada, enfim. A reconstruç­ão do País não se fará com a simples troca da cor da bandeira do populismo. Ela dependerá da completa superação do populismo.

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