O Estado de S. Paulo

Donald Trump questiona assédio de juiz.

Presidente dos EUA usa sua conta no Twitter para questionar veracidade da acusação contra seu indicado para a Suprema Corte

- Beatriz Bulla CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, usou ontem sua conta no Twitter para questionar a veracidade da acusação de assédio sexual que foi levantada contra o juiz indicado por ele para assumir uma cadeira na Suprema Corte, Brett Kavanaugh. O juiz foi acusado pela professora universitá­ria Christine Blasey Ford de assédio sexual na década de 80.

Com a reação, Trump despertou uma nova onda de manifestaç­ões femininas nas redes sociais sobre assédio sexual, em apoio à denúncia de Christine. Durante toda a semana, desde que o escândalo veio à tona, Trump evitou comentário­s sobre a acusação contra Kavanaugh, mas ontem ele quebrou o silêncio.

“Não tenho dúvidas de que, se o ataque a Ford foi tão ruim quanto ela diz, as acusações teriam sido feitas junto às autoridade­s locais por seus pais amorosos”, escreveu Trump, em questionam­ento sobre a veracidade da acusação. Ele pediu que documentos da época sejam apresentad­os por Christine ao público.

A sugestão de que a denúncia é falsa e deve ser corroborad­a por uma acusação formal feita à época foi criticada pela senadora republican­a Susan Collins, que se declarou chocada. “Eu não estou dizendo que é o que aconteceu neste caso – mas sabemos que as alegações de assédio sexual são um dos crimes mais não declarados que existem”, disse a republican­a a jornalista­s ontem. Ela considerou ainda “inapropria­do” o tuíte de Trump.

A acusação contra Kavanaugh já havia reacendido na imprensa americana as comparaçõe­s com o movimento #MeToo, que se popularizo­u em 2017 ao levar a uma série de denúncias via redes sociais de assédio sexual praticados especialme­nte em ambientes de trabalho. O movimento ganhou a adesão de celebridad­es americanas e cresceu com a denúncia contra o produtor de cinema Harvey Weinstein.

O tuíte de Trump causou uma nova onda de reações de mulheres nas redes sociais que passaram a compartilh­ar histórias sobre os motivos de não terem reportado casos de assédio às autoridade­s. Com a hashtag “WhyIDidntR­eport” (porque eu não relatei), as histórias ficaram no primeiro lugar da lista de tópicos mais comentados no Twitter ontem.

Uma das que usou a plataforma para contestar o presidente americano foi a atriz e ativista Alyssa Milano, que virou uma espécie de porta-voz do movimento #MeToo no ano passado. “Eu fui abusada sexualment­e duas vezes. Na primeira, era uma adolescent­e. Eu nunca fiz uma denúncia policial e levei 30 anos para contar aos meus pais. Se alguma sobreviven­te de assédio sexual quiser se somar a isso, por favor, comente. #MeToo”, escreveu Alyssa.

Organizaçõ­es como a Womans March, que organiza a Marcha das Mulheres nos EUA, se somaram ao movimento. “Muitas de nós temos essas histórias. Muitas de nós nunca tivemos segurança para compartilh­ar as histórias. E homens como Donald Trump são o motivo”, postou a organizaçã­o, que passou a convocar uma manifestaç­ão de apoio a Christine Ford em Washington, na segunda-feir, com o mote “Eu acredito em Christine”.

Trump, no Twitter, disse que Kavanaugh é “um homem bom, com reputação impecável” e afirmou que o juiz está “sob ataque de políticos radicais de esquerda que não querem ouvir respostas, mas apenas atrasar (a votação)”. “Eu passo por isso com eles todos os dias”, escreveu Trump, que acusa a oposição de usar o escândalo para obstruir a votação da indicação do juiz.

Ontem, em Washington, amigos e familiares de Kavanaugh organizam um evento para dar testemunho­s favoráveis ao juiz. O próprio Trump é acusado por pelo menos 15 mulheres de assédio sexual. Em maio, algumas dlas vieram a público para detalhar o que teriam sofrido.

É o caso de uma ex-recepcioni­sta que acusa Trump de beijála à força ou da ex-miss Carolina do Norte de 2006, que acusa Trump de inspeciona­r pessoalmen­te os camarins dos concursos de beleza organizado­s por uma de suas empresas. O presidente nega as acusações.

Nomeação. A votação do nome de Kavanaugh, que estava prestes a acontecer antes do escândalo vir à tona, foi adiada. Agora, os senadores organizam os depoimento­s de Christine e Ford, que devem acontecer na segunda-feira. Depois da Comissão de Justiça votar a indicação, a maioria do plenário do Senado ainda precisa aprovar o nome indicado por Trump para compor a Suprema Corte.

“Não tenho dúvidas de que, se o ataque à doutora Ford foi tão ruim quanto ela diz, as acusações teriam sido feitas junto às autoridade­s locais por seus pais amorosos”

“(Kavanaugh) é um homem bom, com reputação impecável e está sob ataque de políticos radicais de esquerda que não querem ouvir respostas, mas apenas atrasar (a votação). Eu passo por isso com eles todos os dias em Washington” Donald Trump

PRESIDENTE DOS EUA

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ANDREW HARRER/WASHINGTON­POST Escolha. Kavanaugh, antes de sabatina em comissão do Senado; presidente, que tem pelo menos 15 denúncias de assédio contra ele, saiu em sua defesa

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