O Estado de S. Paulo

Governo tem R$ 15 bi que não pode gastar

Recursos ficam parados porque os projetos para os quais foram destinados ainda não foram concluídos; valor vai aliviar déficit primário

- IIdiana Tomazelli Adriana Fernandes Eduardo Rodrigues / BRASÍLIA

A equipe econômica espera encerrar o ano com R$ 15 bilhões à disposição sem poder gastá-los porque os projetos não andaram. O chamado “empoçament­o” de recursos vai contribuir para que o déficit primário do setor público fique em cerca de R$ 125 bilhões, disse ontem o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida.

Se confirmada essa previsão, o resultado será R$ 36,3 bilhões melhor do que o permitido pela meta, que é um rombo de até R$ 161,3 bilhões. As contas de estatais federais e de Estados e municípios também devem encerrar o ano melhor que o projetado e ajudar a reduzir o déficit, de acordo com as projeções oficiais.

A “folga” acaba gerando uma situação considerad­a esdrúxula diante do quadro de extremo aperto nas contas públicas, em que faltam recursos em algumas áreas e sobram em outras. De acordo com a revisão do Orçamento anunciada ontem, o governo terá R$ 4,1 bilhões para redistribu­ir a outras despesas dentro do teto de gastos, mas os pedidos dos ministério­s já somam R$ 6,7 bilhões e “crescem por segundo”, diz o secretário.

O “empoçament­o” de dinheiro é fruto do excesso de vinculaçõe­s de receitas e despesas, além da evolução mais lenta de projetos, explicou Almeida. Algumas receitas só podem bancar um tipo específico de gasto, e há despesas que não podem ser canceladas ou remanejada­s. Um exemplo é o Fundo Penitenciá­rio Nacional (Funpen), que tem mais de R$ 1 bilhão parados à espera de projetos finalizado­s para a construção de presídios.

O fenômeno atinge desde emendas parlamenta­res até pastas como Educação, Saúde e Defesa. Esse quadro de amarras é que vai fazer com que, mesmo com o limite de gastos fixado pela Constituiç­ão, o governo não consiga chegar ao fim do ano gastando tudo o que pode.

Almeida criticou o excesso de vinculaçõe­s no Orçamento e disse que é preciso rediscutir as regras que causam esse represamen­to de dinheiro. “O empoçament­o que vai ocorrer este ano acontece há duas décadas”.

Só no caso da Saúde, R$ 2,1 bilhões estavam parados em julho de 2018. Esses recursos não podem ser redistribu­ídos a outras áreas mais necessitad­as. É por isso que o próprio Ministério da Saúde precisou solicitar uma verba adicional de R$ 800 milhões para adquirir medicament­os para o programa Farmácia Popular.

As emendas parlamenta­res também são um reduto de dinheiro represado. No primeiro semestre, o governo empenhou mais de R$ 6 bilhões em emendas individuai­s para driblar a proibição desses repasses nos três meses que antecedem as eleições. A promessa de pagamento é a primeira fase do gasto, mas é valiosa para a campanha de parlamenta­res que querem se reeleger. No entanto, muitas das ações beneficiad­as por essas emendas ainda não contam com o projeto.

O Ministério da Educação disse que consumiu R$ 19,3 bilhões do limite de R$ 20,2 bilhões e que o pagamento das despesas “está seguindo todos os procedimen­tos regulares e sem atraso”. A pasta explicou que conta com muitas entidades de administra­ção indireta, sobre as quais “não possui ingerência” após a liberação dos recursos.

 ?? BETO BARATA/ESTADÃO - 24/3/2006 ??
BETO BARATA/ESTADÃO - 24/3/2006

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil