O Estado de S. Paulo

Royalties da mineração serão recorde este ano

Com mudança na legislação, pagamento feito pelas mineradora­s à União, Estados e municípios devem chegar à casa dos R$ 3 bilhões

- Renata Batista/ RIO

A arrecadaçã­o da Compensaçã­o Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), uma espécie de royalty pago pelas mineradora­s, deve alcançar R$ 3 bilhões esse ano. Um número recorde, mesmo quando comparado ao superciclo do minério de ferro vivido pelo setor na última década – foi de R$ 2,4 bilhões em 2013. Até agosto, União, Estados e municípios já receberam R$ 1,85 bilhão em receita, cifra que supera toda a receita obtida ao longo de 2017.

De acordo com a gerente de Pesquisa e Desenvolvi­mento do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Cinthia Rodrigues, o aumento é resultado das mudanças na legislação do setor, que ampliou alíquotas, mudou a base de cálculo e o número de municípios beneficiad­os. No caso do minério, que responde por mais da metade da produção mineral brasileira, a alíquota passou de 1,5% da receita para 3% do faturament­o bruto. O ouro, que pagava 1%, agora arrecada 1,5%.

O aumento da produção, com a entrada em operação de novas minas, como a S11D, da Vale, maior mina de minério de ferro do mundo, também puxou a arrecadaçã­o. O movimento compensou a desvaloriz­ação nos preços de várias commoditie­s no ano e também da estabilida­de no preço médio do minério de ferro, cotação diferente da praticada pela Vale para seu produto de melhor qualidade. “Desde janeiro, o ouro se desvaloriz­ou 10%, o cobre, 15%, e o minério de ferro ficou estável”, diz Cinthia.

Com a produção de S11D, o município de Canaã dos Carajás, no Pará, arrecadou até agosto R$ 177 milhões, R$ 100 milhões a mais do que em todo o ano de 2017. Passou de sexto maior arrecadado­r para a segunda posição. Superou a mineira Nova Lima (MG) e está atrás apenas de Parauapeba­s (PA), onde fica a mina de Carajás, que já recebeu R$ 400 milhões este ano.

“Canaã vai ultrapassa­r Parauabeba­s”, diz George Tomas, diretor da Organizaçã­o Não Governamen­tal (ONG) Extensão Amazônia, de Marabá, responsáve­l por um estudo de desenvolvi­mento da cidade. “A cidade não tem infraestru­tura, não tem mão de obra capacitada. Tem de aprender a lidar com esses recursos, que só duram enquanto houver a mineração.”

O secretário de Desenvolvi­mento Econômico da cidade, Jurandir dos Santos, diz que a mina S11D tem potencial para produzir por 50 anos. Mesmo assim, garante que está investindo em infraestru­tura para atrair outras indústrias. “Fui ao Rio em busca de empresas para investir aqui e a primeira coisa que me perguntara­m foi se tinha energia”, diz o secretário, que está implantand­o um distrito industrial em uma área da Vale que serviu de área de montagem para S11D e foi doada ao município. “Lá, temos toda a infraestru­tura, incluindo energia.”

De acordo com o diretor de procedimen­tos arrecadató­rios da Agência Nacional de Mineração (ANM), Ricardo Eudes, uma das prioridade­s da nova agência, que ainda está se estruturan­do, é levantar a lista de municípios afetados pela atividade de mineração e que, pelas nova regra, passarão a receber uma fatia dessa arrecadaçã­o. Sem essa lista, quase R$ 300 milhões estão retidos no Tesouro .

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