O Estado de S. Paulo

Prévia da inflação surpreende analistas

IPCA-15 subiu 0,09% em setembro, o menor resultado para o mês desde 2006; queda nos preços dos alimentos ajudou a manter taxa estável

- Daniela Amorim / RIO Maria Regina Silva

A prévia da inflação oficial no País surpreende­u positivame­nte em setembro. Com a ajuda da queda nos preços dos alimentos, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) subiu 0,09%, o menor resultado para o mês desde 2006, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE).

O resultado animou analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que esperavam uma inflação média de 0,17%, e ajudou a reduzir os contratos de juros no mercado futuro. Na avaliação de economista­s, o desempenho moderado dos preços aumenta as chances de uma manutenção da taxa básica de juros, a Selic, no patamar atual de 6,5% ao ano.

“O IPCA-15 reforça um pouco a percepção de que a ociosidade elevada tende a manter a inflação baixa. Com atividade fraca, (a ociosidade) pode absorver os impactos do câmbio (sem descontrol­e dos preços). Portanto, pode diminuir a urgência de se mexer nos juros”, disse Flávio Serrano, economista sênior do Haitong Banco de Investimen­to do Brasil.

A taxa de inflação acumulada pelo IPCA-15 em 12 meses desceu de 4,30% em agosto para 4,28% em setembro, abaixo do centro da meta de 4,5% determinad­a pelo Conselho Monetário Nacional. Para o economista Pedro Costa Ferreira, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), o cenário inflacioná­rio benigno tem mantido as expectativ­as ancoradas, o que pode evitar uma antecipaçã­o do ciclo de aperto monetário pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central.

“Acho que os juros podem ficar até mais baixos do que o mercado está esperando no ano que vem, em função dessa crise (de incertezas elevadas e atividade econômica lenta) e da inflação controlada”, opinou Ferreira.

Segundo o último boletim Focus, divulgado semanalmen­te pelo BC com expectativ­as de analistas do mercado financeiro, a previsão é que a Selic se mantenha em 6,50% até o fim deste ano, mas suba a 8,00% ao fim de 2019.

Energia.

Em setembro, os consumidor­es pagaram menos pela cebola, batata-inglesa, leite longa vida e carnes. Os combustíve­is voltaram a ficar mais baratos pelo terceiro mês seguido. Já a energia elétrica teve a sétima alta consecutiv­a, mas o ritmo de aumento perdeu força (0,34%). A prévia da inflação de setembro só não foi mais baixa por causa do encarecime­nto de 17,12% das passagens aéreas, maior pressão sobre o IPCA-15 do mês, o equivalent­e a uma contribuiç­ão de 0,05 ponto porcentual.

O resultado do IPCA-15 como um todo é uma boa notícia nesse momento de pressão cambial, citou o economista Pedro Ramos, do Banco Sicredi. “A ociosidade segue funcionand­o como limitador de repasse (da alta do dólar sobre o real).”

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