O Estado de S. Paulo

Clinton critica política comercial de Trump

Para ex-presidente dos EUA, ao invés de uma ‘guerra’, “é necessária uma parceria com a China para tornar o mundo um lugar melhor”

- Victor Rezende Eduardo Laguna

O ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton fez críticas à atual política comercial do país e afirmou que, apesar de Washington precisar reformular suas relações comerciais, “é necessária uma parceria com a China para tornar o mundo um lugar melhor”.

Em evento organizado pela XP na capital paulista, Clinton foi questionad­o sobre o futuro dos conflitos comerciais entre EUA e China e afirmou que isso dependerá das eleições americanas de meio de mandato, que ocorrerão no início de novembro. “Acredito que seria melhor para o mundo se os democratas vencerem”, afirmou o ex-presidente dos EUA no painel, que também contou com a presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Ao contrário do que diz o atual presidente dos EUA, Donald Trump, Clinton disse que os EUA “não estão sendo explorados no comércio” e ressaltou que uma “economia melhor” é necessária tanto para os EUA quanto para parceiros comerciais americanos. A afirmação do ex-presidente democrata contrasta com políticas de Trump, que costuma dizer em comícios e em seu perfil no Twitter que parceiros comerciais tradiciona­is dos EUA estão deixando o país para trás.

Clinton também comentou brevemente sobre a crise financeira de 2008, que completou dez anos este mês. “Quando houve o crash, disseram que um programa do meu governo teria sido o responsáve­l. Acredito que a culpa seja da atividade especulati­va envolvendo o setor imobiliári­o, mas precisamos ressaltar que a riqueza perdida já foi recuperada”, pontuou Clinton.

Cresciment­o. O líder democrata também relativizo­u o atual desempenho da economia dos EUA. De acordo com ele, a economia americana já estava “crescendo bem” antes da eleição presidenci­al americana de 2016, que consagrou Trump como presidente. Clinton também enfatizou que há uma forte desigualda­de de renda no país. “Apesar do forte boom no mercado acionário americano, cerca de 40% das pessoas têm dificuldad­e para pagar as contas no fim do mês”, disse o ex-presidente.

Clinton disse ainda que, apesar de reações como o Brexit - a saída do Reino Unido da União Europeia -, a globalizaç­ão é um movimento irreversív­el. Clinton lembrou as origens do problema: muitas pessoas se sentem economicam­ente injustiçad­as pela globalizaç­ão, assim como rejeitam a abertura de fronteiras a novas culturas.

“Temos que identifica­r o que está causando esse fenômeno, digamos, de ‘Brexit global’. Era óbvio que a abertura do comércio e a imigração trariam o risco de deixar pessoas para trás. Enxergo as reações como parte do processo, mas creio que não é possível reverter a globalizaç­ão”, assinalou Clinton.

Para o ex-presidente, a saída aos conflitos entre setores da sociedade passa por mais inclusão e empoderame­nto de pessoas que se sentem excluídas. “Num mundo interdepen­dente, grupos heterogêne­os, com diferentes pensamento­s, funcionam melhor do que sociedades em que todos pensam igual. Teríamos um mundo melhor se fôssemos mais inclusivos.”

Clinton considerou que muito esforço ainda precisa ser feito num momento em que as pessoas perdem a fé na democracia, fazendo uma referência às eleições brasileira­s. “Não sei se todos que concorrem a eleição no Brasil acreditam na democracia”, afirmou o ex-presidente norte-americano.

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YURI GRIPAS/REUTERS–6/11/2017 Guerra comercial. EUA não são explorados, diz Clinton

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