O Estado de S. Paulo

Ciro, Alckmin e Marina tentam se cacifar como ‘3ª via’

Candidatos no bloco intermediá­rio têm 14 dias para reverter coesão do eleitorado antipetist­a em torno de Bolsonaro e do lulista em Haddad

- / DANIEL BRAMATTI, GILBERTO AMENDOLA, PEDRO VENCESLAU, RICARDO BRANDT e MARIANNA HOLANDA

Situados no bloco intermediá­rio das intenções de voto, Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede) têm 14 dias para, se quiserem se cacifar como uma terceira via, reverter a coesão do eleitorado antipetist­a em torno de Jair Bolsonaro (PSL) e do lulista/petista em torno de Fernando Haddad (PT). Esse cenário tem moldado as estratégia­s de quem ainda luta para chegar ao segundo turno. O foco de Ciro será insistir em apresentá-lo como um nome capaz de quebrar o que o candidato chama de “polarizaçã­o odienta”. Os marqueteir­os de Alckmin não indicam que vão alterar a busca do voto útil. Produziram comerciais que apelam para o medo de uma polarizaçã­o PSL-PT e pregam que os demais

postulante­s do campo da centro-direita “não são competitiv­os”. Após perder uma camada significat­iva de intenções de voto com o cresciment­o de Haddad nas pesquisas, Marina mira o eleitorado negro, pobre, de baixa escolarida­de e, principalm­ente, as mulheres. Até o momento, as quatro pesquisas Ibope/Estado/TV Globo indicam dificuldad­es para a viabilizaç­ão de uma terceira via.

A duas semanas da votação em primeiro turno, a campanha presidenci­al segue uma tendência que representa um desafio às candidatur­as que podem despontar como uma terceira via à polarizaçã­o entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). A análise das pesquisas mostra que, se quiserem se cacifar como uma terceira via, os candidatos situados no bloco intermediá­rio das intenções de voto – Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede) – terão 14 dias para reverter o movimento atual que está sendo impulsiona­do pela coesão do eleitorado antipetist­a em torno de Bolsonaro e do lulista/petista em torno de Haddad.

Este cenário tem moldado as estratégia­s das campanhas que ainda lutam para chegar ao segundo turno da eleição. O foco da campanha de Ciro será insistir em apresentá-lo como um nome de terceira via, capaz de quebrar aquilo que o próprio candidato tem chamado de “polarizaçã­o odienta”.

Os marqueteir­os de Alckmin não indicam que vão alterar a estratégia agressiva em busca do voto útil. Produziram comerciais que apelam para o medo de uma polarizaçã­o PSL-PT e pregam que os demais postulante­s do campo da centro-direita “não são competitiv­os”.

Após perder uma camada significat­iva de intenções de voto com o cresciment­o de Haddad nas pesquisas, Marina mira no eleitorado negro, pobre, de baixa escolarida­de e, principalm­ente, nas mulheres – sua principal base de votos, mas que encolheu nas pesquisas mais recentes. Nas últimas semanas, a candidata da Rede também adotou um tom mais propositiv­o.

Até o momento, a série de quatro pesquisas Ibope/Estado/TV Globo indica dificuldad­es para a viabilizaç­ão de uma terceira via. Os candidatos do PSL e do PT são os dois únicos que ganharam terreno em todos os levantamen­tos. Os demais oscilaram ou caíram.

Há uma quantidade razoável de eleitores “volúveis”, que admitem probabilid­ade “alta” ou “muito alta” de mudar de voto para evitar a vitória de um candidato do qual não gostam. Os volúveis são um terço do total.

Mas esse cálculo político não alteraria a opção daqueles que veem seu candidato como favorito. Nove em cada dez eleitores de Bolsonaro acham que ele vai vencer, segundo o Ibope. E seis em cada dez apoiadores de Haddad consideram que o petista é quem subirá a rampa do Palácio do Planalto em 2019.

Restam então os eleitores volúveis de Alckmin, Marina e Ciro. Na remota hipótese de o tucano virar depositári­o da totalidade dos votos volúveis dos outros dois e dos chamados “nanicos”, além de manter todos os seus próprios simpatizan­tes não convictos, Alckmin subiria de 7% para 14% – taxa insuficien­te para assumir o segundo lugar na corrida.

Na hipótese de Ciro herdar os volúveis de Alckmin e Marina, ele passaria de 11% para 16% – e ainda ficaria abaixo dos 19% de Haddad. No caso da candidata da Rede, um rearranjo nesse sentido a deixaria com 14%.

Ou seja, a viabilidad­e de um candidato de “terceira via” depende, acima de tudo, de uma eventual queda de Bolsonaro ou de Haddad, ou de ambos.

Para o cientista político Oswaldo Amaral, professor da Universida­de Estadual de Campinas (Unicamp), resta a Alckmin, por exemplo, recuperar eleitores antipetist­as – segmento de 30% do eleitorado.

“Por mais paradoxal que seja, a campanha do Alckmin deve torcer para a próxima pesquisa

mostrar que o Haddad estar na frente do Bolsonaro de três a quatro pontos no segundo turno. Isso vai dar força para o discurso dele (de que o voto no candidato do PSL representa um passaporte para a volta dos petistas ao

poder) dessa etapa final de primeiro turno de se posicionar como candidato competitiv­o e único capaz de derrotar o PT”, disse Amaral, que dirige o Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop), na Unicamp.

A campanha tucana trabalha com a crença de que o candidato do PT já tem vaga garantida no segundo turno.

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