O Estado de S. Paulo

O Brasil é um cavalo que precisa de um ginete com mãos de seda

Para vice de Bolsonaro, País é equino que precisa de um condutor com mãos de seda e pernas de ferro

- Vice de Bolsonaro Hamilton Mourão

O Brasil é um cavalo maravilhos­o que precisa de um ginete com mãos de seda e pernas de ferro. A avaliação é do general reformado Hamilton Mourão (PRTB), candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), informa Pablo Pereira. O Estado acompanhou Mourão em atos de campanha em Bauru, São José do Rio Preto e Catanduva. Protegido por policiais federais, ele tem evitado a imprensa e só fala com apoiadores. Selfies, apenas com militantes indicados por assessores.

Um cavalo. O Brasil é um cavalo que precisa de um ginete com luvas de seda, cintura de borracha e pernas de ferro. A comparação do País com um animal foi feita na quinta-feira passada, em palestra em Catanduva, interior paulista, pelo general reformado Antônio Hamilton Martins Mourão, de 65 anos, candidato a vice na chapa do presidenci­ável Jair Bolsonaro (PSL).

Mourão gosta de fazer essa associação em palestras da campanha eleitoral quando ataca o tamanho do Estado brasileiro, critica a crise política e econômica e exalta o potencial de desenvolvi­mento nacional.

“Gosto muito desse animal”, afirmou Mourão na semana passada, quando fez campanha também em Botucatu, Bauru e São José do Rio Preto e falou para plateias com até 800 militantes e simpatizan­tes do bolsonaris­mo. O Estado acompanhou a cruzada paulista de Mourão na quarta e na quinta-feira.

Sempre protegido por policiais federais, que barram a aproximaçã­o de curiosos e jornalista­s,

ele viajou em um comboio montado por uma SUV na frente e outro carro atrás, todos com vidros escuros, além das escoltas de PMs locais em carros e motos.

Tido por interlocut­ores como gentil e educado, Mourão só teve um breve contato com a imprensa na manhã do primeiro dia da viagem, pouco antes do início do evento em Bauru, na Faculdade de Direito da cidade. Foi quando estourou a polêmica da CPMF, após declaraçõe­s do economista Paulo Guedes sobre tributos. Abordado pelo Estado num corredor, quando saía de uma produtora de TV de aliados, falou rapidament­e do caso e criticou a criação de imposto.

“Temos uma carga tributária boçal. Criar imposto é um tiro no pé”, disse, antes de ser levado por assessores para o carro principal da comitiva, no qual viajou no banco traseiro ao lado do candidato a deputado federal Levy Fidelix (PRTB) e a filha dele, Livia, candidata à Assembleia de São Paulo. “Trouxe ele aqui porque aqui é de confiança”, afirmou o pastor Luiz Carlos Valle, candidato do PSL a deputado federal.

No interior paulista, que chamou de “fundão do País”, Mourão passou então a evitar contato com jornalista­s e negou pedidos de entrevista. Mantido isolado por assessores, mostravase acessível somente a poucos

apoiadores selecionad­os por bolsonaris­tas para fotos e vídeos. A preferênci­a era sempre para militantes escolhidos pela campanha, que gravavam selfies para as redes sociais.

Em São José do Rio Preto, a cerca de 230 quilômetro­s, Mourão foi recebido por entusiasma­dos seguidores. O empresário do setor hoteleiro Sérgio Dória, um dos privilegia­dos com acesso à sala exclusiva, teve de esperar do lado de fora até ser autorizado a se aproximar do general.

Na saída, contou que levou um pedido ao candidato. “Uma mensagem dele para a região do Maranhão, que hoje é um reduto petista. Temos de reverter isso lá”, afirmou Dória. Quando o militar reformado entrou na sala da palestra, usando um acesso lateral e exclusivo, o hino brasileiro foi cantado em pé. João Onório, de 35 anos, funcionári­o público, de Votuporang­a, a cerca de 80 quilômetro­s, exibia, orgulhoso, tatuagem ainda fresca de Bolsonaro no braço direito.

‘Balcão de negócios’. Afastado das funções no Exército no ano passado, após quase meio século nos quartéis e tendo comandado tropas no Amazonas e no Rio Grande do Sul, Mourão tem um histórico de retórica rebelde que terminou por abatê-lo na carreira quando, ainda fardado, falou demais e forçou o “amigo” comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, a dispensá-lo da Secretaria de Economia e Finanças do Exército.

O caso: indignado com a crise nacional, Mourão soltou os cachorros no chefe da coisa toda, ou seja, no presidente da República, Michel Temer, nada menos do que o Comandante em Chefe das Forças Armadas. No Clube do Exército, em Brasília, ainda fardado, disse que Temer operava com um “balcão de negócios”. Foi a gota d’água e Villas Bôas desceu-lhe “a borduna”, como já disse o próprio Mourão, reconhecen­do o erro

com bom humor.

Candidato pela mão do padrinho partidário, Levy Fidelix, velho conhecedor dos caminhos da política nanica brasileira, dono do PRTB, ao qual aderiu o general reformado para formar a coligação com o PSL, Mourão parece moverse em campo minado. “Eu não sou um político, estou político”, afirmou em uma das palestras para, a seguir, descer o porrete na Constituiç­ão “que tem mais de 100 emendas e deve ser reformada”.

Ele gosta de avisar que a comparação do Brasil com um cavalo se deve a uma caracterís­tica muito pessoal. “Sou um amante da arte equestre”, confessou em Catanduva. O alvo é o Estado pesado e caro, que ele vê como “um animal capaz de saltar 1m80, mas que está sendo montado por um ginete de 180 quilos, de mão pesada e pernas frouxas”. “Temos de desamarrar esse animal maravilhos­o”, diz. “O governo tem de dar a ordem e as senhoras e senhores, o progresso”.

Resta saber se o jeito Mourão de ser vingará nas urnas para levar ao Planalto um ginete, também amante dos equinos, que, aliás, é conhecido pelo apelido de “Cavalo”. /

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Em campanha. Mourão vive cercado por seguranças e evita a imprensa
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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Blindado. O general reformado Hamilton Mourão, vice de Bolsonaro, com seguranças na Praça da República, em Catanduva, após falar para cerca de 40 pessoas no fim de carreata

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