Para bendizer
Governo entregará ao sucessor uma inflação contida.
Ogoverno entregará ao sucessor uma inflação contida, administrável e abaixo da meta de 4,5%, se nenhum desastre político ocorrer até o fim do ano. Será um bom ponto de partida para o novo presidente, mas, a partir daí, preços acomodados dependerão de uma gestão sensata das contas públicas e de horizontes mais claros para os mercados. A expectativa de um fim de ano sem grandes tensões no front dos preços foi reforçada pela divulgação do IPCA-15 de setembro, com alta de 0,09% nas quatro semanas até o meio deste mês. O indicador de agosto havia subido 0,13%. O novo número é o mais baixo para setembro desde 2006, quando a variação ficou em 0,05%. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 é elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A duas semanas das eleições, as pressões inflacionárias permanecem moderadas, apesar das incertezas políticas e das preocupações quanto à orientação do próximo governo. Se a calmaria dos preços persistir, o Copom, Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC), poderá manter em 6,50% a taxa básica de juros, a Selic, nas duas deliberações finais de 2018. As sessões estão previstas para o fim de outubro e para dezembro.
O comitê poderá repetir a taxa reafirmada pela quarta vez na reunião encerrada na última quarta-feira. A instabilidade cambial tem afetado alguns preços no atacado, mas sem reflexos importantes no comércio varejista. Se o cenário permanecer sem grandes abalos, haverá condições para sustentar juros moderados até a passagem da faixa presidencial.
Com juros básicos de 6,50%, o custo da dívida pública permanecerá inferior ao dos últimos anos. Também isso será um bom legado para o próximo governo, especialmente se for possível, sem voluntarismo, evitar ou retardar novas altas da Selic em 2019. Qualquer legado positivo será precioso para o novo presidente e sua equipe. O presidente Michel Temer provavelmente fechará o exercício de 2018 com resultado fiscal melhor que o previsto inicialmente, isto é, com déficit primário inferior ao limite de R$ 159 bilhões fixado no Orçamento. Mas a programação financeira para 2019 será muito apertada. Será muito trabalhoso, pelas indicações disponíveis até agora, encerrar o balanço com o déficit primário de R$ 139 bilhões estabelecido nas diretrizes orçamentárias.
Será igualmente difícil manter o governo em funcionamento normal e ao mesmo tempo respeitar o teto de gastos e a regra de ouro das finanças públicas, isto é, a proibição de contratar dívidas para cobrir despesas de custeio. Mesmo se essas despesas forem cobertas dentro das normas hoje em vigor, a administração federal terá problemas para atender às condições básicas de sua operação. Sobrará pouco dinheiro para as chamadas despesas discricionárias. Além dos investimentos, essas despesas incluem, apesar do nome, vários gastos indispensáveis ao funcionamento da máquina federal.
Se tudo correr da melhor maneira, o sucessor do presidente Michel Temer poderá bendizer pelo menos parte da herança. No ano, a inflação medida pelo IPCA-15 ficou em 3,23% até setembro. Em 12 meses, a taxa acumulada passou de 4,30% no período até agosto para 4,28% no encerrado em setembro. Dos nove grupos de bens e serviços cobertos pela pesquisa somente um, alimentação e bebidas, apresentou recuo de preços em setembro. Mas os demais, de modo geral, avançaram moderadamente.
As expectativas de inflação continuam moderadas, segundo a pesquisa Focus, uma consulta conduzida semanalmente no mercado pelo BC. As últimas projeções indicam, pelas medianas, taxas de inflação de 4,09% em 2018, 4,11% em 2019, 4% em 2020 e 3,92% em 2021. Pelo mesmo levantamento, os juros básicos ficarão em 6,50% até o fim deste ano. Cada um dos três anos será encerrado com a Selic em 8%.
São cenários muito razoáveis, apesar das incertezas ligadas à sucessão presidencial. Se for vitoriosa a combinação de populismo e irresponsabilidade, em poucos meses o cenário poderá ficar em desordem.