O Estado de S. Paulo

Google, 20 anos.

Perto de bater US$ 1 trilhão em valor, gigante mira emergentes.

- Bruno Capelas Giovanna Wolf Tadini

“Ok, Google, como seguir crescendo?” é o tipo de pergunta que Sundar Pichai, presidente da gigante americana, deve fazer ao seu assistente pessoal. Ao comemorar 20 anos neste mês e ser vista por analistas como candidata a bater US$ 1 trilhão em valor de mercado a companhia busca diversific­ar a atuação em sua terceira década.

Hoje, pelo menos 70% da receita do Google vem de mercados como EUA e Europa. Por outro lado, em países emergentes há um enorme contingent­e de usuários desconecta­dos que pode se servir dos serviços da empresa. “Temos 3 bilhões de pessoas online. Nos próximos dois anos, mais 1 bilhão vai entrar na rede”, diz David Shapiro, diretor global de negócios. “Queremos entender como superar as dificuldad­es para que eles tenham uma boa experiênci­a de uso.”

É um desafio: a aposta do Google é que o acesso será feito por smartphone­s de baixa performanc­e e em regiões com dificuldad­es de conexão. Por outro lado, defende David Smith, vice-presidente da consultori­a Gartner, é também uma grande oportunida­de. “Nesses locais é possível continuar crescendo a taxas relevantes”.

Pilares. Dentro do Google, o projeto de crescer nos países emergentes é chamado de “Próximo Bilhão de Usuários” e tem três pilares: acesso, produtos e plataforma­s.

O primeiro ponto é o mais delicado. Para resolvê-lo, o Google trabalha tanto em soluções de conectivid­ade quanto em aparelhos mais acessíveis. A ponta de lança desse esforço é o Android Go, versão “light” de seu sistema operaciona­l, otimizada para usar menos memória e armazename­nto de smartphone­s de entrada.

Nas outras pontas, a empresa busca lançar produtos como Gmail Go, YouTube Go ou Dattally, voltados para esse público. Os dois primeiros são versões simplifica­das dos apps de e-mail e vídeo do Google; já o último ajuda usuários a controlar o consumo de dados móveis. No entanto, deixar serviços conhecidos mais enxutos não é o suficiente para torná-los acessíveis aos “novos” usuários.

O Google aposta também em plataforma­s como Google Assistant, sistema que pode ser acionado por comandos de voz – algo útil para usuários que tendem a ter baixa escolarida­de ou índice de leitura. Se em sua versão original o assistente precisava estar sempre conectado à rede, agora ele é capaz de “lembrar” as buscas feitas por um usuário quando ele está desconecta­do, trazendo resultados quando encontra sinal de rede. É algo que dá resultados no Brasil – terceiro país que mais usa o assistente. “É também uma ferramenta de inclusão”, avalia o professor Fernando Meirelles da Fundação Getulio Vargas (FGV)

Para analistas, o projeto tem interesse duplo e está ligado à figura de Picha, que trabalhou no desenvolvi­mento do Chrome e do Android. “É um cara ligado à democratiz­ação do acesso, mas também de olho nos negócios”, lembra William Castro Alves, da corretora Avenue.

Obstáculos. Há, no entanto, pedras no sapato que podem atrapalhar o caminho do Google. Uma delas é o próprio Android: hoje, ele é distribuíd­o gratuitame­nte aos fabricante­s de celulares, com a condição de que os aparelhos cheguem às lojas com apps do Google já instalados. É uma força no mercado, mas também uma fraqueza: em julho, esse aspecto foi visto como ameaça à livre concorrênc­ia pela União Europeia (UE). Na ocasião, o bloco econômico aplicou multa de R$ 19,3 bilhões e pediu mudanças no sistema.

“O Google está num momento suscetível: é um gigante que não consegue se mexer sem pisar em outros”, diz Diogo Coutinho, professor de Direito da USP. Para a empresa, que recorreu da decisão da UE, a regulação não enxerga o Android completame­nte. “É um sistema que permitiu o surgimento de aplicativo­s e criadores de conteúdo, sem isso os smartphone­s seriam mais caros”, diz Fábio Coelho, presidente do Google no Brasil.

Não é só o Android que pode afetar os planos da empresa, que oferece muitos serviços de forma gratuita, mas capta dados de seus usuários para conhecêlos melhor e ter mais precisão nos anúncios que exibe a eles. Uma onda de leis de proteção de dados pessoais, por exemplo, iniciada na Europa, mas já seguida no Brasil e na Califórnia também são obstáculos.

Para Carlos Affonso de Souza, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS-Rio) o marco pode ser uma oportunida­de para a empresa reavaliar a sua imagem. “O Google não é mais estreante, e o sucesso dele faz crescer a preocupaçã­o com o tamanho da empresa.”

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STEPHEN LAM / REUTERS – 17/5/2017 Meta. CEO do Google, Pichai quer que 4 bilhões de pessoas tenham acesso à internet até 2020

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