O Estado de S. Paulo

Partidos também precisam de reforma para atrair lideranças

Movimento afirma que alteração ideal não deve depender de limitação de número de partidos, mas aprimorar controles

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Quando se fala em reforma política logo se aponta uma solução como prioritári­a: a redução do número de partidos – são 35 em atividade e outros 74 com pedido de registro no TSE. A proposta vira e mexe é citada por algum candidato como se a quantidade apenas e não a qualidade do debate de ideias definisse a representa­tividade política.

Para o cientista político e cofundador do Movimento Transparên­cia Partidária, Marcelo Issa, a reforma ideal não depende de uma limitação de partidos, mas de um aprimorame­nto deles, com maior controle, transparên­cia, participaç­ão de mulheres e mecanismos novos que permitam uma verdadeira renovação interna e externa.

“Se os partidos não são transparen­tes, como vamos exigir que a política seja? São eles, gostem ou não, que dão o cardápio de opções ao eleitor. Eu defendo que uma próxima reforma proponha mudanças no funcioname­nto dos partidos para que eles se abram a novas lideranças, deixem de ter donos – com limitação de mandatos de presidente­s – e se tornem mais íntegros, com a adoção de mecanismos de compliance, por exemplo.”

Credibilid­ade. Devolver credibilid­ade aos partidos, muitos deles envoltos em escândalos de corrupção, seria também um caminho para torná-los mais atrativos. Sem confiança nas legendas atuais, quem não é do ramo se sente refratário em aderir a um projeto político. E o resultado é visto nas urnas, diante da baixa taxa de renovação especialme­nte nos mandatos parlamenta­res, apesar de o Brasil ter 16,8 milhões de filiados – 8,5% da população total – e 29 mil candidatos apenas nesta eleição, para um total de 1.654 cargos em disputa.

Se acreditass­e em um partido, a instrument­adora cirúrgica Irani Dias, de 46 anos, possivelme­nte já teria ao menos cogitado se candidatar a algum cargo público. Ativista na área da habitação e dos direitos da mulher, ela já negou diversos convites para disputar uma eleição.

“Eu não vou entrar nessa para partido nenhum cumprir cota. Sei que me convidam por causa da cota das mulheres. Mas, hoje, do jeito que as coisas estão, não me vejo em nenhum partido. O certo, na minha opinião, é a liberação da candidatur­a avulsa. Daí, sim, poderia pensar a respeito”, afirma Irani, líder comunitári­a do Jardim Brasil, na zona norte da capital paulista.

Consciente das necessidad­es de sua região, Irani também defende a aprovação do voto distrital misto, para que o território onde mora tenha de fato um representa­nte. “A zona norte hoje é terra de ninguém. Não tem um político identifica­do com o que a gente quer, o que a gente precisa. Isso faz falta.” /

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Transparên­cia. Para Issa, partidos políticos devem mudar

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