Impasse e perspectiva de crise motivam luta por novo referendo
Militantes contrários ao Brexit acreditam que falta de acordo pode pavimentar caminho para nova consulta popular
A iminência de um divórcio “litigioso” entre o Reino Unido e a União Europeia, ou seja, sem um acordo para a manutenção de uma área de livre-comércio, impulsionou nos últimos dias uma campanha pela realização de um novo referendo sobre o Brexit.
A “People’s vote”, iniciativa popular que já vinha ganhando espaço na sociedade civil, agora tomou forma política graças à decisão dos maiores sindicatos do país, ligados ao Partido Trabalhista, de pressionar o chefe da legenda, Jeremy Corbyn, a jogar os trabalhistas na oposição frontal ao Brexit.
Até aqui, Corbyn, que em seu passado já foi alinhado a posições eurocéticas, mantinha uma posição ambígua sobre o assunto. Mas, ameaçado de ser removido do cargo de chefe da oposição por um escândalo de antissemitismo, o trabalhista estaria se preparando para anunciar a mudança de posição no próximo congresso do partido. Ex-primeiros-ministros históricos, como Tony Blair e Gordon Brown, e novos líderes, como o prefeito de Londres, Sadiq Kahn, também pressionam o partido contra o Brexit, temendo um desastre financeiro para o país.
A situação é, além de tudo, tentadora para o Partido Trabalhista. Como 70% dos eleitores do Partido Conservador apoiam o Brexit, segundo pesquisas, os trabalhistas acabaram concentrando a maior parte do eleitorado refratário ao divórcio entre as duas legendas históricas.
Uma pesquisa do instituto YouGov apontou que os trabalhistas poderiam ganhar até 1,5 milhão de votos a mais caso decidam incorporar a bandeira de um segundo referendo para que a população decida se aceita ou não os termos da separação. Esse número de eleitores seria suficiente, segundo analistas, para desempatar a disputa entre Corbyn e a premiê, Theresa May, em favor dos trabalhistas.
Ex-presidente do YouGov, Peter Kellner diz que o Partido Trabalhista teria um forte argumento de campanha em relação ao eleitorado que se opõe ao Brexit. “Os eleitores não trabalhistas que o partido poderia ganhar superam os eleitores trabalhistas do partido em quase 9 para 1”, explica Kellner.
Os principais percalços da campanha por um novo referendo são a própria primeira-ministra, refratária a uma nova consulta, e seu arquirrival no interior do partido, o ex-prefeito de Londres e ex-chanceler Boris Johnson, que cobiça o cargo de premiê.
Outra chance “Os eleitores não trabalhistas que o partido poderia ganhar superam os eleitores trabalhistas do partido em quase 9 para 1” Peter Kellner EX-PRESIDENTE DO YOUGOV, SOBRE AS CHANCES DE UM VOTO CONTRA O BREXIT