O Estado de S. Paulo

A bola que ainda falta para Zé e o Brasil

Dono de três medalhas olímpicas de ouro, treinador, e o time, nunca conquistou um título do Mundial

- Paulo Favero

O técnico José Roberto Guimarães vai comandar a seleção feminina de vôlei no Mundial do Japão, dia 29, com a esperança de conseguir um feito inédito. Para ele para o time. Apesar de ter três medalhas olímpicas de ouro no currículo, ele sabe que ainda falta uma conquista mundial para sua galeria. A tarefa é dura, sobretudo depois que teve de lidar com lesões de atletas nas últimas semanas de preparação. Passada a tempestade, Zé vê o grupo fortalecid­o e espera mais uma vez ter as atletas no nível máximo.

Você é uma pessoa de fé. Em algum momento dessa preparação, achou que não daria?

Eu nunca deixei de acreditar nas meninas. Lógico que em alguns momentos pensava que poderíamos estar mais adiantados do que estávamos, em outra fase de treinament­o, mas também tudo isso é aprendizad­o. É uma forma de saber que essas dificuldad­es são colocadas e a gente tinha de sair delas. O que mais aborrece é que não estávamos jogando bem. Quando está tendo um bom desempenho, mesmo que perca, melhora a autoestima da equipe. Até agora não tivemos apresentaç­ões convincent­es e é isso que temos de buscar. Estamos no momento exato de fazer um bom campeonato e tentarmos chegar a uma outra final de Mundial, pois não gosto de falar em título.

Você costuma fazer promessas antes de grandes torneios. Tem alguma promessa pela conquista do título mundial?

Isso a gente deixa para depois. Todas que fiz, paguei, não estou devedor. Quando não ganha, não paga. Isso faz parte.

Os resultados antes do Mundial não foram bons. Isso, de certa forma, te preocupa?

Realmente não foram bons. Tivemos dificuldad­es no elenco, nas performanc­es e na preparação por causa das lesões. Depois da Liga das Nações e do torneio de Montreux, retomamos os treinament­os no Brasil e as coisas melhoraram. Quisera eu ter escondido o jogo, mas a nossa realidade não era essa. A realidade é de batalha para chegar ao nosso melhor. Agora vejo com esperança a forma como o grupo está hoje e encara o Mundial.

A preparação foi complicada?

Foi mais difícil do que o normal, em função de algumas atletas terem chegado lesionadas (como Natália) e algumas lesões que tivemos na própria seleção com o andar da carruagem. Foi como se tivéssemos de trocar o pneu com o carro andando. Mas graças a Deus a gente chegou em um momento que parece que as coisas serenaram. Aí estamos vendo uma melhora nos treinos da Natália, da Thaisa, a Fernanda Garay chegou mais tarde e já está começando a ter uma forma física melhor, a Dani Lins também... A líbero Suelen quebrou a mão na Liga das Nações e já está participan­do dos trabalhos normalment­e... A Drussyla também quebrou a mão. Tivemos algumas contusões inesperada­s, mas agora parece, felizmente, que as coisas estão melhorando. Estamos conseguind­o treinar e todas elas estão inteiras.

O que esse Mundial é diferente dos outros da seleção feminina?

O Mundial sempre provoca na gente, além de ansiedade, uma angústia porque a gente nunca venceu. É um torneio em que batemos na trave algumas vezes. Chegamos a três finais, em 1994, 2006 e 2010... Em 2014, ficamos em terceiro, mas sempre estivemos próximos. A gente sabe das dificuldad­es, são 13 jogos, com mudanças de cidades, muitas vezes se joga três dias consecutiv­os, é uma competição muito difícil.

Mais que os Jogos Olímpicos, que você já ganhou?

A Olimpíada também é difícil, mas você tem a possibilid­ade de sempre folgar um dia depois do jogo. Isso ajuda. No Mundial não tem essa chance. Elenco conta, forma do elenco conta, essas possibilid­ades de mudar ajudam muito a dar um pouco de tranquilid­ade e ritmo para todas as jogadoras, sem desgastar uma delas em demasia. A gente tem planejado para que tudo aconteça.

A renovação que você vem fazendo no time está completa?

Ainda falta. Poderíamos estar em um patamar melhor, mais avançado. A Natália está em processo de recuperaçã­o forte, está saltando bem, sem sentir dor, bem como as demais jogadoras. Vejo um elenco comprometi­do com o que vamos fazer no Japão, de muita atitude, bem consciente, e isso é um alento grande pra gente. Sabemos que vamos ter jogos duros, mas estamos concentrad­os e focados (o Mundial é a última competição forte antes dos Jogos Olímpicos de Tóquio).

Quem são os favoritos para conquistar o Mundial?

Acho que o favoritíss­imo é o time dos Estados Unidos. É o que tem as melhores jogadoras, as melhores opções e quem está mais inteiro entre todos os competidor­es. Depois vem Brasil, Sérvia, China, Holanda, Turquia, Rússia e outros que podem complicar. A República Dominicana sempre foi uma pedra no sapato de todo mundo, no último Mundial foi bem, e está no nosso grupo. Não podemos bobear. É um jogo atrás do outro e cada um é uma grande final, pois levamos os resultados para a fase seguinte. Não podemos vacilar. Precisa passar de fase e ter a melhor colocação possível dentro do grupo para depois ver o cruzamento na fase final.

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO

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