O Estado de S. Paulo

Propostas econômicas para o próximo governo

- PAULO LEME E-MAIL: PAULO.LEME@BUS.MIAMI.EDU PAULO LEME ESCREVE MENSALMENT­E

Mesmo faltando apenas duas semanas para o primeiro turno das eleições gerais de 2018, os candidatos à Presidênci­a ainda não explicaram aos eleitores como vão resolver o problema fiscal. Essa informação é essencial para que o próximo presidente ganhe o mandato necessário para implementa­r um árduo ajuste fiscal em 2019.

O preço dos ativos brasileiro­s despencou porque o mercado financeiro acha que é improvável que o próximo governo fará esse ajuste. O real se desvaloriz­ou 26% em relação ao dólar e o CDS (credit default swap) do Brasil de cinco anos dobrou para 280 pontos-base. O CDS mede o risco país e seu spread é o preço do seguro contra o calote da dívida externa.

Mas nem tudo está perdido, porque o Brasil conta com três condições macroeconô­micas iniciais favoráveis para iniciar o ajuste fiscal. O Brasil tem US$ 380 bilhões em reservas internacio­nais e não tem problemas nem de balanço de pagamentos nem de dívida externa; as expectativ­as de inflação estão ancoradas abaixo da meta (4,25% para 2019); e o sistema bancário é sólido. Essas condições iniciais favoráveis limitam o custo social do ajuste macroeconô­mico.

O próximo governo terá cinco grandes desafios. Primeiro, as finanças públicas são insustentá­veis e, portanto, o Estado terá de encolher. Segundo, para que o ajuste fiscal seja viável, o País tem de voltar a crescer. Terceiro, para gerar e financiar o cresciment­o teremos de aumentar as taxas de poupança e de investimen­to, que hoje são de apenas 16,4% e 16,0% do PIB. Quarto, teremos de aumentar a produtivid­ade total dos fatores, que hoje é praticamen­te zero. Isso significa que o nosso limite de cresciment­o sustentáve­l se encontra abaixo de 2,0%. Quinto, teremos de reconstrui­r a nossa infraestru­tura e os serviços públicos (educação, saúde e segurança pública), que se encontram em estado deplorável.

Para alcançar esses objetivos, o governo terá de adotar um programa ancorado em um ajuste fiscal primário da ordem de 5,0% do PIB e na reforma da Previdênci­a e dos regimes de aposentado­ria pública. O governo também terá de resolver a grave crise fiscal dos Estados e municípios.

O tempo para o gradualism­o já se esgotou. O ajuste fiscal terá de ser imediato, do contrário a dívida pública bruta chegará a 100% do PIB (88% em 2018). Metade do ajuste virá da redução dos gastos correntes, incluindo subsídios, folha de pagamento e desvincula­ção da receita. A outra metade virá da eliminação das desoneraçõ­es tributária­s e da folha de pagamentos; recuperaçã­o da receita gerada pelo efeito do cresciment­o na arrecadaçã­o; e da receita gerada por um programa ambicioso de privatizaç­ões.

Para que a economia cresça, o governo terá de atuar em quatro eixos. Primeiro, reduzir o tamanho do Estado, estimular a liberdade econômica, e deixar que o sistema de preços funcione. Os empresário­s seriam responsáve­is pelos investimen­tos e geração de empregos. Por outro lado, eles estariam sujeitos à livre concorrênc­ia, o que significa eliminar barreiras à entrada aos negócios, garantir a igualdade de condições de acesso aos mercados e ao crédito, implementa­r controles eficazes contra monopólios e cartéis, e que a Justiça assegure o cumpriment­o rigoroso dos contratos e da lei.

O segundo é criar um marco regulatóri­o com regras confiáveis para que o setor privado brasileiro e o investidor estrangeir­o invistam e modernizem a infraestru­tura. O terceiro é promover uma ampla reforma bancária e do mercado de capitais que estimule a concorrênc­ia, reduza depósitos compulsóri­os, elimine créditos direcionad­os e poupança compulsóri­a, permitindo que os bancos privados e o mercado de capitais voltem a ser responsáve­is pela expansão do crédito. O quarto é implementa­r reformas estruturai­s que aumentem a produtivid­ade total dos fatores para 2,0%. As principais reformas incluiriam a abertura da economia ao comércio internacio­nal e a promoção de uma reforma tributária que reduza os custos do nosso complexo sistema de impostos e crie o imposto sobre valor agregado (IVA).

Espero que os eleitores cheguem às urnas bem informados para que possam tomar a melhor decisão possível sobre o futuro da nação.

Tempo para gradualism­o se esgotou. O ajuste terá de ser imediato

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