O Estado de S. Paulo

Como seria a vida sem o Google?

- Pedro Doria

Hoje, poucos lembram. Mas o surgimento do Google foi um marco naquela internet nascente. Havia sites de busca. Vários deles. Mas era um inferno encontrar uma resposta decente para sua busca. Esta rede de hoje, que mata dúvidas feito mágica – ela não existia. Aí Larry Page e Sergey Brin bolaram um algoritmo diferente e o Google se tornou o centro da internet. O Google deu sentido à internet. Claro: vinte anos depois, o mundo já é outro. É possível imaginar onde estaríamos sem esta empresa?

Sim. É. Mas, antes, é preciso entender um pouco das personalid­ades de Larry e Sergey, assim como um quê da história de sua empresa. O Google demorou para encontrar uma forma de ser lucrativo. Quando encontrou o modelo publicitár­io certo, porém, foi uma explosão. Virou praticamen­te uma máquina de imprimir dinheiro. É o que acontece quando se é o centro da internet e boa parte da propaganda na rede é intermedia­da por sua empresa.

Larry e Sergey, até por conta de sua juventude e parca experiênci­a, também rapidament­e se afastaram da gestão diária da companhia. E são sujeitos curiosos. Os empreended­ores do Vale costumam ser pessoas focadas. Mark Zuckerberg só tem olhos para o Facebook. Steve Jobs era foco puro em produto e modelo de negócio, na criação de um ecossistem­a fechado em si mesmo.

Mas, com dinheiro na mão, Larry e Sergey olharam para toda parte. Brin, por exemplo, pôs muito dinheiro na 23AndMe, a primeira startup a explorar kits de mapeamento de DNA que não custam uma fortuna. Muito do avanço na compreensã­o de genética ocorrerá porque ele mostrou que é possível mapear o DNA de uma quantidade imensa de pessoas, criando um banco de dados único.

Page, por outro lado, investiu pesado no conceito de carros que dirigem por conta própria. Ele tem dinheiro espalhado em três startups de carros voadores. Veículos autônomos estão prestes a transforma­r radicalmen­te nossas vidas e as cidades.

Sem o dinheiro do Google e a imensa curiosidad­e de seus dois fundadores, teríamos smartphone­s, redes sociais, mas essencialm­ente um Vale focado em resolver problemas específico­s. Essa transforma­ção que o digital trará em todos os campos se deve, em muito, ao fato de o dinheiro ganho com buscas ter sido investido noutros campos muito distintos.

Mas também na web o Google faz enorme diferença. Porque no quinteto de grandes empresas monopolist­as do digital, o Google é ímpar. Apple, Facebook, Microsoft e Amazon fazem dinheiro partindo da premissa de que todos seus usuários ficam em seus ambientes. Dentro do iPhone e só comprando coisas na loja da Apple. Dentro do Office que roda no Windows. Dentro do Facebook, onde estão todas as conversas. Ou na loja que lhe vende tudo o que você precisa.

O Google, não. O Google faz dinheiro na web aberta. Quanto mais sites lá fora, quanto mais informação pública existir, melhor para o modelo de negócios do Google. Claro, é um dos cinco monopólios digitais. E, ironicamen­te, é a empresa que impediu que as outras transforma­ssem a internet num agrupament­o de comunidade­s fechadas.

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