O Estado de S. Paulo

O thriller na era das ferramenta­s novas

‘Buscando...’, premiado em Sundance, usa celulares e telas de computador para mostrar pai cuja filha desaparece­u

- Luiz Carlos Merten

Já virou lenda em Hollywood – para convencer os produtores de que tinha cacife para levar a realização de Buscando .... até o fim, o diretor Aneesh Cheganty preparou uma versão amadora, na qual interpreta­va todos os papéis. O sucesso foi grande e Cheganty conseguiu reunir o capital, e o elenco, para fazer seu filme que estreou na quinta, 20.

Nos últimos anos, o cinema tem buscado novas formas para contar velhas histórias. Um pai que procura a filha desapareci­da está longe de ser uma trama original. Sabendo disso, Cheganty inova no aspecto formal. Em seu recente Unsane/Distúrbio, Steven Soderbergh já contara a história de uma mulher internada num instituto psiquiátri­co – e que se considera perseguida por um assassino – utilizando como câmera somente um celular IPhone. Há quase 30 anos, vale lembrar, Wimn Wenders, que presidia o júri de Cannes em 1989, viu o futuro do cinema em sexo, mentiras e videotape, que o estreante Soderbergh fez com uma câmera de vídeo.

O que faz Cheganty em Buscando...? Ele narra sua história por meio de câmeras de celular e telas de computador, como se o público estivesse seguindo em tempo real a tragédia desse homem que se desespera cada vez mais. Conseguirá ele localizar o paradeiro da filha? Existe certa semelhança com o nacional , Ferrugem, de Aly Muritiba, porque em ambos os filmes há um subtexto segundo o qual as pessoas, os pais inclusive, nunca chegam a conhecer completame­nte os filhos. De perto, todo mundo surpreende. Ninguém é normal? Em sucessivas entrevista­s, Cheganty disse que se inspirou num videogame pelo qual é louco – Heavy Rain. Seu objetivo não era criticar a internet – “O mais certo seria criticar o uso que as pessoas fazem dela; é uma ferramenta, não tem culpa de nada”, chegou a declarar –, nem tampouco jogar simplesmen­te a carta do gênero.

De cara, antes mesmo que a garota desapareça, há uma espécie de apresentaç­ão da família. Cada membro possui um login no laptop de uso comum. A garota despede-se, diz que está indo para a casa de uma amiga. Por volta da meia-noite, o telefone toca duas vezes, mas papai nem se preocupa. Pela manhã, começa o pesadelo, quando ele percebe que a filha não voltou, não está na casa da colega. Sumiu! Aneesh Cheganty nasceu em Redmond, Washington, de pais indianos, em 1991 – tem 27 anos, portanto. Em 2014, seu curta Seeds fez sensação no YouTube, logrando 1 milhão de visualizaç­ões em apenas 24 horas. A partir daí, e sempre trabalhand­o com novas tecnologia­s, ele preparou o thriller Buscando... Em janeiro, recebeu o prêmio Alfred P. Sloan no Sundance. A carreira segue com o beneplácit­o de Hollywood e ele prepara Run, sobre garota que desconfia de que a mãe possui um segredo que a faz tornar-se perigosa, inclusive para a filha.

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SONY PICTURES Atualizaçã­o. Novas formas para contar velhas histórias

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