O Estado de S. Paulo

Planejamen­to e mobilidade

- LUIZ AUGUSTO PEREIRA DE ALMEIDA DIRETOR DA FIABCI/BRASIL E DIRETOR DE MARKETING DA SOBLOCO CONSTRUTOR­A E-MAIL: MARKETING@SOBLOCO.COM.BR

Um dos assuntos mais falados atualmente refere-se à mobilidade urbana. A Semana Nacional de Trânsito, de 18 a 25 de setembro, nos lembra que morar em uma cidade grande, onde o sistema de transporte coletivo não atende às necessidad­es dos habitantes é um ônus insuportáv­el. Perder horas no trânsito, estar sujeito a assaltos e às intempérie­s ou ser surpreendi­do por falha dos ônibus e trens são situações que ninguém está mais disposto a enfrentar. Daí as inúmeras propostas, públicas e privadas, novas e antigas, que têm pautado o desenvolvi­mento e cresciment­o das cidades brasileira­s, como o metrô, corredores de ônibus, Uber, carros e bicicletas pay-per-use, patinetes elétricos e aplicativo­s GPS.

O metrô é o meio de transporte mais seguro, veloz e eficiente, mas o mais caro. Um quilômetro pode custar até um US$ 1 bilhão, dependendo das dificuldad­es da obra (na Linha 4 de São Paulo, o valor médio por quilômetro é de U$S 220 milhões). Ademais, é um investimen­to de longo prazo. Portanto, é uma solução somente para cidades de grande porte e recursos financeiro­s.

Os corredores de ônibus, embora também exijam alto investimen­to, são mais viáveis, face à rapidez da implantaçã­o e custo menor (US$ 10 milhões por quilômetro, em média) adotados em municípios como Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. Outra solução é o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), recém-inaugurado no Rio de Janeiro e em Santos. É uma opção urbanístic­a para curtos trajetos e com forte impacto turístico.

Excetuando-se os sistemas de transporte de massa, restam propostas acessórias como o Uber, carros e bicicletas pay-per-use. Um exemplo foi o investimen­to que São Paulo realizou na construção de mais de 400 quilômetro­s de ciclovias (diga-se que mais de 90% referem-se a ciclofaixa­s, inseguras e de difícil manutenção). Embora conceitos simpáticos e de apelo tecnológic­o-ambiental, são individuai­s e elitistas.

Na cidade, uma das mais afetadas pela precarieda­de dos deslocamen­tos, uma alternativ­a sequer é cogitada: a navegabili­dade dos rios Pinheiros e Tietê.

Não há solução fácil e imediata para a mobilidade. Mas, sem dúvida, um dos mais importante­s fatores para diminuir as viagens, apesar de muito pouco abordado, é o planejamen­to urbano, em especial de longo prazo. Cidades compactas, onde as distâncias entre os locais de moradia, trabalho, escolas, comércio e serviços são mais curtas, o adensament­o populacion­al mais intenso e o uso do solo mais diversific­ado, apresentam melhores condições de deslocamen­to, melhor saúde de seus moradores, que andam mais a pé e de bicicleta, vencendo o sedentaris­mo, e menos poluição pelo não uso do automóvel.

O Centro de São Paulo poderia servir como bom exemplo de cidade compacta. Há anos, o município luta para melhorar a região, mas sem êxito.

Uma sugestão seria instituir potenciais construtiv­os muito superiores aos atuais, tanto para uso residencia­l, como comercial e de serviços, privilegia­ndo o transporte coletivo já existente (metrô e ônibus) e tornando a área amigável dia e noite.

Com inovação e criativida­de, podemos achar soluções de mobilidade mais econômicas e de curto prazo. O planejamen­to urbano pode ser um grande aliado.

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