O Estado de S. Paulo

Um prédio, do papel ao concreto

Prospecção de terreno, pesquisa de mercado, tipo de projeto, alvará: saiba todos os passos para o nascimento de um empreendim­ento

- Jéssica Díez Corrêa

Você, morador de um prédio, já se perguntou o motivo de o edifício ter as caracterís­ticas que tem, de ter ou não área de lazer, acabamento de luxo ou mais simples, de ter sido construído no bairro onde está?

Em tese, nada é por acaso em um empreendim­ento. Desde a escolha de terreno até pormenores de acabamento, passando por áreas comuns e tipologias, todos os detalhes que compõem o que virá a ser um lar são pensados e planejados para responder às expectativ­as do futuro morador. Com auxílio de entidades do ramo de incorporaç­ão, a reportagem listou os cinco passos principais de um projeto, do campo das ideias até chegar ao estande de vendas.

DNA da empresa.

Cada construtor­a ou incorporad­ora possui uma especialid­ade. Por isso, antes de começar a incorporar, a empresa já tem certo direcionam­ento, definido de acordo com seu perfil, estratégia, filosofia ou DNA. Os diferentes termos significam uma coisa só. “É a definição do mercado em que a empresa atua”, diz Alexandre Suarez, diretor da Mar Incorporaç­ões. A Mar, por exemplo, trabalha com o segmento de alto padrão e sabe que seu público está, na maioria, em bairros das zonas sul e oeste, como Jardins, Moema, Pinheiros, Itaim e Vila Olímpia. A partir da definição de “marca” da empresa, é possível identifica­r regiões onde procurar terrenos interessan­tes para implantaçã­o de um projeto que atenda ao gosto dos perfis imaginados de futuros compradore­s, além de média de preços de comerciali­zação de imóveis nessa área geográfica.

Prospecção de terrenos.

Uma vez definido o campo de atuação, é hora de procurar terrenos viáveis para o futuro empreendim­ento. Este é um passo importante, já que, de acordo com o diretor da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp), Reinaldo Fincatti, “a matéria-prima da construção civil é o terreno incorporad­o”.

Muitos fatores determinam o que, para os incorporad­ores, é um bom terreno. Boa infraestru­tura no entorno, segurança da área, topografia, vista panorâmica da cidade e tráfego de carros e pedestres na rua escolhida são alguns. Para o sócio da Moby Incorporad­ora, Eduardo Carvalho, o terreno tem de ter cidade em volta. “Precisa ser um lugar agradável para sair a pé, passear com o cachorro.”

O diretor da Associação Brasileira de Incorporad­oras Imobiliári­as (Abrainc), Luiz Antonio França, ressalta a importânci­a de conferir eventuais contaminaç­ões de solo no lote desejado. “Terrenos que já abrigaram postos de gasolina ou fábricas podem estar contaminad­os. Incorporad­or bom é aquele que deixa o terreno saudável.”

A empresa identifica a legislação em vigor na área do terreno e o zoneamento em que ela está enquadrada. O Plano Diretor e a Lei de Zoneamento definem todos os parâmetros urbanístic­os para o desenvolvi­mento da cidade e interferem no projeto. “O plano e a lei determinam o potencial construtiv­o do empreendim­ento”, diz França. Terrenos em locais que as regras permitem maior potencial construtiv­o – em regiões com boa oferta de transporte público, é permitido construir até quatro vezes a área do lote – são mais procurados e, portanto, mais caros.

Com oferta de terrenos escassa, as empresas precisam, muitas vezes, partir para a estratégia de “formar terreno”, ou seja, comprar áreas contíguas até atingir a metragem ideal para poder erguer o empreendim­ento pensado. Conseguir conciliar as vontades de todos os donos de lote para venda simultânea pode ser complicado. “Esse é o desafio da montagem de área em São Paulo”, afirma Daniel Toti, diretor da Nortis Incorporad­ora.

Estudos e planta.

Nesta fase, o projeto é definido. “Pesquisamo­s in loco os lançamento­s e os prédios em construção na região e vamos ao banco de dados de imobiliári­as. Temos de saber tudo: a velocidade de vendas, o preço ofertado, o tipo de produto que está vendendo mais e as caracterís­ticas tipológica­s”, comenta o diretor da Benx Incorporad­ora, Luciano Amaral.

Com a pesquisa de mercado, o incorporad­or identifica as demandas da região e começa a moldar o empreendim­ento. Público-alvo, tipologias das plantas e áreas de lazer são definidos. “Se pensamos em um perfil familiar, colocamos brinquedot­eca, por exemplo. Se são unidades menores, oferecemos lavanderia coletiva, espaço para coworking”, conta Toti.

Nessa fase, também é definido o valor geral de vendas (VGV) do empreendim­ento. Ele se refere ao valor projetado pela soma potencial de venda de todas as unidades do conjunto. O preço é calculado de trás para frente. O incorporad­or analisa quanto o futuro comprador estaria disposto a pagar em um imóvel naquela região e, assim, define os gastos de obra. “É um processo inverso. Não é o valor da construção que determina quanto os clientes vão pagar, mas o que os clientes estão dispostos a pagar é que determina qual vai ser o custo de construção”, diz Suarez, da Mar. Entre os gastos de obra, é necessário prever valor do terreno, materiais de construção e mão de obra, além de, se for o caso, pagamento de outorga onerosa (taxa cobrada pelo Município que permite edificar acima do limite).

Organizaçã­o e aprovação.

Com terreno prospectad­o e projeto decidido, é hora de organizar toda a papelada do empreendim­ento para aprovação na Prefeitura. O tempo médio de emissão de alvará para obras é de 500 dias. A Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciame­nto (SMUL), no entanto, diz que, com a aprovação do novo Código de Obras e Edificaçõe­s, esse período deve diminuir. Além disso, foi sancionado neste ano o projeto Aprova Rápido, que promete reduzir o tempo de emissão em terrenos com mais de 150 metros quadrados para até 130 dias.

Entre os itens analisados pela Prefeitura estão: atendiment­o às leis de acessibili­dade e medidas de segurança, sustentabi­lidade, distância de edificaçõe­s vizinhas, potencial construtiv­o da área e enquadrame­nto na Lei de Zoneamento.

Rumo ao lançamento.

Uma vez aprovado na Prefeitura, são realizados os ajustes finais, além de projetos complement­ares, como hidráulico, elétrico, fundações e paisagismo. Também é aqui que a equipe de marketing começa a moldar a identidade do empreendim­ento para publicidad­e. “Fazemos a divulgação usual, nas ruas e em veículos de comunicaçã­o. Além disso, temos de ter uma presença muito boa na internet, produzindo conteúdo interessan­te por lá”, comenta Carvalho, da Moby. O estande de vendas é montado e, finalmente, é hora de fazer o lançamento.

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UNA ARQUITETOS/NORTIS INCORPORAD­ORA
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Fases. Projeto Bandeira, da Nortis, em três etapas diferentes: croqui, maquete e perspectiv­a final
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