O Estado de S. Paulo

Crise na construção civil trava retomada de investimen­tos no País

Capital. Setor acumula perdas há quase 51 meses, enquanto compra de máquinas e equipament­os mostra recuperaçã­o desde o início de 2017; taxa de investimen­to em relação ao PIB, de 17,4%, continua longe da máxima histórica, de 21%, registrada em 2013

- Daniela Amorim / RIO

Após praticamen­te 51 meses de perdas acumuladas, a construção civil ficou estagnada em julho ante o mesmo mês de 2017, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Já a compra de máquinas e equipament­os teve cresciment­o de 14,1% em julho.

A crise ainda persistent­e na construção está impedindo uma retomada mais consistent­e dos investimen­tos no País. Após praticamen­te 51 meses de perdas acumuladas, a construção civil ficou estagnada em julho em relação ao mesmo período do ano anterior. Os dados compõem o cálculo do Monitor do PIB, apurado pela Fundação Getulio Vargas (FGV).

Os investimen­tos da construção civil só registrara­m expansão em abril (2,7%), consideran­do-se um período de 4 anos e 4 meses. Já a compra de máquinas e equipament­os, que mostra recuperaçã­o desde o início de 2017, teve cresciment­o de 14,1% em julho de 2018 ante julho do ano passado, a 13.ª taxa positiva consecutiv­a.

O empresaria­do brasileiro vem retomando a modernizaç­ão do parque produtivo, mas a recuperaçã­o da taxa de investimen­tos na economia não decola por conta da paralisaçã­o nas obras de infraestru­tura e do receio das famílias em compromete­r a renda com financiame­nto imobiliári­o diante do cenário ainda complicado do mercado de trabalho, avaliou Claudio Considera, coordenado­r do Monitor do PIB da FGV.

A Formação Bruta de Capital Fixo (indicador usado para medir investimen­tos na economia) subiu 4,5% em julho de 2018 ante julho de 2017. A taxa de investimen­to em relação ao PIB foi de 17,4% no mês de julho. Em 2013, quando atingiu o auge da série histórica, essa taxa estava próxima de 21%.

“Os empresário­s estão investindo em maquinário. Mas não está havendo investimen­to em construção”, diz Considera. “Não há obras de infraestru­tura. Os governos não estão construind­o. E as famílias estão preocupada­s. A taxa de desemprego está elevadíssi­ma, as pessoas ficam receosas de se compromete­r com financiame­nto de longo prazo.”

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) espera que os investimen­tos tenham desempenho positivo no terceiro trimestre, ajudados por uma base de comparação fraca, apesar do aumento das incertezas no cenário doméstico e mundial.

“Vemos uma recuperaçã­o cíclica, mas num ambiente menos favorável, tanto interno quanto externo. É normal que, em alguns casos, os empresário­s decidam postergar a decisão de investimen­tos. Mas não dá para dizer que já esteja acontecend­o”, diz Leonardo Mello de Carvalho, técnico de Planejamen­to e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconô­micas do Ipea. “Por mais que o ambiente tenha ficado um pouco menos benigno, os efeitos não devem ser vistos imediatame­nte.”

O Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP) projetava um cresciment­o de 0,5% no PIB da construção em 2018, mas agora espera uma retração de 0,6% se o PIB brasileiro crescer 1,4%, e de 1% caso o PIB suba 1,1%. “A construção civil reage a investimen­tos e sem isso, não há possibilid­ade de melhora no curto prazo. Frente às incertezas econômicas, revimos para baixo nossa projeção para o PIB da construção de 2018”, diz o vicepresid­ente de Economia do SindusCon-SP, Eduardo Zaidan.

A avaliação dos empresário­s da construção sobre a situação atual está em 72,4 pontos, nível que indica pessimismo (abaixo de 100 pontos), 25,4 pontos aquém do patamar pré-crise, do segundo trimestre de 2013, mostrou a sondagem da FGV.

“O fundo do poço ficou para trás, mas está melhorando bem devagarzin­ho”, diz Ana Maria Castelo, coordenado­ra de Projetos na Superinten­dência de Estatístic­a Públicas do Ibre/FGV.

Entre os fatores que empurraram o setor de construção para a atual crise estão o fim de obras de infraestru­tura para os grandes eventos esportivos realizados no País, o ajuste fiscal conduzido por governos federal e regionais, as investigaç­ões da Operação Lava Jato envolvendo grandes construtor­as e as dificuldad­es enfrentada­s pelo mercado imobiliári­o, diz Ana Maria Castelo. “A crise econômica foi o golpe de misericórd­ia.”

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