O Estado de S. Paulo

Candidatos recusam reunião para unir o centro

Ideia do encontro, que acabou cancelado, foi do movimento “Não aos extremos”

- Paulo Beraldo Gilberto Amendola

Uma reunião com candidatos à Presidênci­a da República para discutir a possibilid­ade de formar uma chapa única de centro, prevista para acontecer ontem em São Paulo, acabou sendo cancelada após a desistênci­a dos presidenci­áveis. O encontro estava sendo articulado por um movimento intitulado “Não aos Extremos”, que tem como um de seus integrante­s o ex-ministro da Justiça Miguel Reale Jr.

Ao Estado, o jurista disse que a ideia era promover um encontro entre os candidatos para combater o que ele chamou de “os extremos” das eleições, numa referência a Jair Bolsonaro, candidato do PSL, e o petista Fernando Haddad. “Queremos estabelece­r um governo único e um plano de governo com vários candidatos governando juntos. Ainda pensamos que essa união é possível”, afirmou ele. “Queríamos (com essa reunião) um entendimen­to em torno de pontos fundamenta­is e um plano de ação. Estamos em um momento em que é importante esses candidatos se conscienti­zarem e atenderem esse desejo da sociedade civil (de união).”

Não é a primeira iniciativa no sentido de tentar unir os candidatos do centro político. Em junho passado, por exemplo, um grupo de lideranças políticas encabeçada­s pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador Cristovam Buarque (PDTDF) lançou um “Manifesto por um polo democrátic­o e reformista”. O gesto coincidiu com o cresciment­o de Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto.

Reale Jr. também assina o documento “Pela democracia, pelo Brasil”, lançado neste final de semana por um grupo que inclui intelectua­is, juristas, artistas, esportista­s e empresário­s. Neste caso, porém, o foco exclusivo é a candidatur­a de Bolsonaro, considerad­a uma “ameaça franca” ao “patrimônio civilizató­rio”.

Negociaçõe­s. Segundo ele, as negociaçõe­s na tentativa de organizar a reunião de ontem “foram difíceis”. “De início, alguns aceitaram e outros, não.” O jurista disse que houve uma reunião virtual prévia entre assessores das campanhas. “Muitos candidatos se sensibiliz­aram com a ideia de uma ‘concertaçã­o’, um governo compartilh­ado. Espero que essa ideia ainda possa prosperar.”

Entre os consultado­s para a

reunião, estavam Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), Alvaro Dias (Podemos) e Henrique Meirelles (MDB). Somados, os quatro tiveram 17% dos votos na pesquisa Ibope/Estado/TV

Globo divulgada anteontem. Líder isolado, Bolsonaro apareceu com 28%, seguido por Haddad, com 22%. Ciro Gomes (PDT) tem 11%.

Questionad­a, a equipe de Dias informou que ele iria ao evento “para ouvir”, porque a possibilid­ade de desistir da candidatur­a está descartada. Em nota, Marina informou ter sido procurada na quinta-feira passada por pessoas ligadas a Reale Jr. para encontro com Dias e João Amoêdo (Novo). “Os contatos entre assessores prosseguir­am até o domingo, quando foi informado que os candidatos Geraldo Alckmin e Henrique Meirelles também participar­iam. Diante do novo contexto, ainda no domingo, a assessoria de Marina Silva declinou do convite.”

Amoêdo também foi convidado, mas recusou. Procurada, a equipe do candidato afirmou que ele não iria falar sobre o assunto. Meirelles informou que em nenhum momento cogitou participar da reunião. O candidato do MDB reforçou a necessidad­e de ter um candidato de centro em condições de ganhar, mas afirma que ele seria o mais

capacitado para isso.

Já Alckmin disse que nunca esteve em sua agenda participar da reunião. “Surgiram várias ideias de vários partidos tendo em vista a proximidad­e das eleições de buscar um denominado­r comum, mas essas coisas não são fáceis. Acho difícil que alguém abra mão da sua candidatur­a, são aspirações legítimas, acho difícil”, afirmou ele.

Para o diplomata Rubens Barbosa – que participa do movimento “Democracia, sim” –, neste momento este tipo de movimento só terá força que acontecer “um fato político novo”.

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ANDRE DUSEK / ESTADÃO-28/4/2016 Iniciativa. O jurista Miguel Reale Jr. diz que promoção de encontro tem como objetivo combater os ‘extremos’ das eleições

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