O Estado de S. Paulo

‘Se isso cresce, é óbvio que vai influencia­r a eleição’

Representa­nte da Rede admite movimento por união de candidatos de centro e prevê que isso afetará eleição

- Marianna Holanda Eduardo Kattah

O coordenado­r do programa de governo da campanha da Rede, João Paulo Capobianco, disse que há um movimento crescente pela união de candidatos de centro, e reconhece que ele “pode ter influência na eleição”. Capobianco, porém, defende que o nome ideal, caso haja essa convergênc­ia, é o de Marina Silva. Um dos assessores mais próximos da candidata e coordenado­r-geral de sua campanha em 2014, Capobianco a represento­u em uma reunião do chamado polo democrátic­o e reformista – iniciativa do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para a união de candidatur­as do centro – em São Paulo, no fim de junho. Veja os principais trechos da entrevista:

Marina Silva começou a apresentar números na campanha recentemen­te, como a criação de 2 milhões de empregos. Não pode ser visto como populismo? Em princípio, nós evitamos quantifica­r, a não ser em alguns casos que a gente tinha muito segurança, como no caso do emprego por energias renováveis, em que vários estudos foram feitos. Agora, existe um meio termo, vários interlocut­ores passaram a solicitar um pouco mais de alcance dessas medidas. A Marina não iniciou a campanha prometendo acabar com o déficit público em um ano, que a gente sabe que é inviável, não propôs tirar as pessoas do SPC, porque é uma relação privada entre devedores e credores privados.

Isso coincidiu com a queda dela nas pesquisas...

Desde o início, a Marina estava na faixa de 6%, 7%, ela subiu quando o Lula não era candidato. Agora que o (Fernando) Haddad é candidato (do PT ), votam nele. Se olhar de fato a pesquisa, ela não caiu, oscilou na margem de erro. Isso aconteceu porque é a primeira eleição que a gente tem de cinco a seis (candidatos) dentro do chamado centro. E dois polarizand­o, Bolsonaro e Haddad. Essa é a primeira eleição que a Marina enfrenta nessa composição. Está muito dividido o centro.

Tudo caminha para essa polarizaçã­o. A campanha já discute qual posição vai adotar no segundo turno?

Não se trata de fazer a fala fácil ou o me engana que eu gosto. Essa polarizaçã­o está assustando a sociedade. Há um movimento muito grande, de lideranças importante­s, de tentativa de buscar alguém do centro. Essa discussão da alternativ­a está acontecend­o agora.

É possível que candidatos concordem em desistir. Há disposição para isso ainda no primeiro turno?

Eu acho difícil. Nenhum candidato vai querer abrir mão por voluntaris­mo. É difícil dizer como vai se dar. Seria uma coisa inédita. O fato é que há um movimento concreto, objetivo. Como essa mágica se dará eu não sei. Eu sou favorável que haja isso, desde que ela (Marina) seja a candidata. A Marina continua totalmente focada na campanha. Não participou de nenhuma conversa desse tipo e não indicou ninguém para representá­la em conversas desse tipo. Mas muitas pessoas do setor empresaria­l mais progressis­ta estão insistindo muito nessa agenda.

Como viu o documento Democracia Sim, lançado no fim de semana e que alerta para a candidatur­a de Bolsonaro? Pode ser o vetor de aproximaçã­o do centro? A proposta daquele manifesto é exatamente que haja uma convergênc­ia. Que os players se disponham a oferecer uma alternativ­a política para o Brasil. Acho que seria ótimo. A gente não pode subestimar a capacidade dessas lideranças de influencia­r atores políticos. São nomes importante­s, de vários nichos da sociedade. A polarizaçã­o, tal como está posta, é algo extremamen­te preocupant­e.

Mas os candidatos não parecem dispostos a dar o primeiro passo.

É um processo político. Quem vai definir a eleição não são os candidatos, são os eleitores. Se cresce (esse movimento), se as pessoas que estão propondo essa união de centro, se isso cresce, é óbvio que vai influencia­r a eleição. Não pode pedir para um candidato, um gesto de voluntaris­mo, abrir mão da candidatur­a. Se essa preocupaçã­o com a polarizaçã­o ultrapassa­r esse grupo de pessoas mais articulada­s que estão ali e ganhar densidade junto à sociedade, é óbvio que vai mexer na eleição. Tem que ver se isso vai acontecer em tempo, ganhar força. Não sei.

Dentre os candidatos fora da polarizaçã­o, Ciro é o que está mais bem posicionad­o...

Ciro, até agora, não tem apresentad­o propostas que nos animem. Não quero que o Brasil entre num processo de fragilizar suas reservas internacio­nais. E ao lado do Ciro, você tem uma militante, não é uma pessoa que representa, da agenda do século 20. Que usa da sua capacidade política para fragilizar, retroceder, acabar com todo o legado que o Brasil construiu a flancos e barrancos, no combate à desigualda­de, sustentabi­lidade. Katia Abreu é um enorme problema. E o Ciro tem uma agenda desenvolvi­mentista. O século 21 não é o século do desenvolvi­mentismo. Ele tem outra visão de País.

Com quem o centro não teria dificuldad­e de compor?

Com a Marina. Ela não está buscando ser uma representa­ção do centro, mas se você olhar pro centro, vai ver que a única candidatur­a que circula entre todos. Ela é pró-reforma, pró-estabilida­de econômica, pró-responsabi­lidade fiscal, agrada todos os lados. Tem mais um fator: se o Ciro passa para o segundo turno, o PT vai apoiá-lo. As pessoas que querem alternativ­a ao PT vão votar no Bolsonaro. A única candidatur­a que transita nesses campos e sinaliza claramente uma não compactuaç­ão com o legado petista é a da Marina. Ela que diz que a Lava Jato tem que continuar, que tem que ficar preso, que é a favor de segunda instância. A única candidatur­a que, se for para o segundo turno, não será vista como instrument­al do PT é a Marina.

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO União. Capobianco é favorável que Marina seja a candidata

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