O Estado de S. Paulo

O velho Tiger Woods se foi. Seu substituto vai bem

Deixando para trás uma série de problemas fora dos campos, ex-número 1 do mundo parece estar, enfim, de volta ao páreo

- Bill Pennington THE NEW YORK TIMES DE CLAUDIA BOZZO TRADUÇÃO

Descendo pelo 18.º fairway,

senti como se fosse uma renovação para Tiger Woods em todos os sentidos, uma caminhada na qual ele tentou deixar para trás o psicodrama de sua vida na última década. No green final do Tour Championsh­ip em Atlanta, domingo, ele finalmente colocou a bola no buraco, e com os braços levantados e um largo sorriso no rosto, parecia que os aplausos nunca parariam – assim como nos velhos tempos.

Mas se este não fosse o velho Tiger, vencendo seu primeiro torneio após uma seca de cinco anos, era pelo menos uma versão diferente, algo que os torcedores do mundo esportivo pareciam entender. A miríade de problemas, de adultério em série a uma prisão no ano passado enquanto dormia ao volante de seu carro com o motor ligado, tornou Tiger Woods difícil ser aceito para muitos fãs do golfe, mesmo enquanto ele tentava se refazer (na carreira).

No domingo, parecia que os torcedores estavam ansiosos por um Tiger Woods descomplic­ado de escândalos ou lesões, ou pego nas contraried­ades políticas do dia a dia em vez daquelas puramente magistrais no golfe. Como um herói conquistad­or (ou é seu retorno?), ele marchou enérgico através de uma multidão delirante que atropelou guardas de segurança para segui-lo e envolvê-lo em uma onda jamais vista no golfe moderno.

E agora?

Sua vitória revolucion­ária pode ter múltiplos efeitos de repercussã­o para o golfe. Por um lado, como ficou evidente quando ele conquistou seu primeiro grande campeonato em 1997, um Woods como competidor faz os fãs casuais de esportes assistirem ao golfe television­ado – os índices de audiência tendem a subir quando ele está no campo. Ele tem um impacto semelhante na participaç­ão em eventos de golfe como teve no domingo em Atlanta.

Na segunda-feira, o Golf Channel, por exemplo, anunciou que a cobertura da NBC na rodada final do Tour Championsh­ip atraiu uma classifica­ção de 5,21 pontos para a audiência noturna. Isso representa um aumento de 206% em relação a 2017.

Nova geração. Também é possível que o Tiger Woods atraia uma nova geração de fãs de golfe e talvez até mesmo participan­tes do jogo. Muitos jovens fãs de esportes, sem dúvida, ouviram falar sobre os muitos campeonato­s emocionant­es de Woods, mas eles ainda não haviam testemunha­do nenhum.

Quantifica­r o impacto econômico no PGA Tour é um pouco mais complicado. A presença de Woods torna o circuito mais atraente para os patrocinad­ores e traz um impulso às empresas associadas, como a Bridgeston­e, que recentemen­te teve a sorte de assinar com Woods um novo contrato para usar sua bola de golfe. Se Woods está novamente competindo na maioria dos torneios, o golfe em geral se torna mais relevante e dominante e isso, por sua vez, beneficia todas as facetas do jogo, dos campos de golfe públicos aos fabricante­s de equipament­os e vestuário.

Isso tudo depende do poder de permanênci­a de Woods no curso, mas por enquanto os fãs novos e antigos – e os vários interesses corporativ­os que lucram com golfe – tiveram um vislumbre do tipo de mania que um Tiger Woods dominante pode causar, um entusiasmo que a história mostrou ser contagioso. E em abril, quando o torneio Masters começar na Geórgia, adivinhe quem estará entre os favoritos para vencer – se não o favorito? Será Woods, quatro vezes campeão do Masters.

O triunfo de Woods no domingo também pode reviver um debate que atraiu adeptos para o jogo durante a maior parte dos anos 2000: será que Tiger alcançará ou superará o recorde de 18 grandes campeonato­s de Jack Nicklaus?

Os fãs de esportes de qualquer tipo amam o drama de alguém tentando reescrever o livro de recordes.

Woods, aos 42 anos, se torna o contrapont­o hábil, mesmo que envelhecen­do, ao bando de jovens golfistas de 20 e poucos anos que ultrapasso­u o topo do ranking mundial. No domingo à noite, a posição de Tiger Woods no ranking saltou de 1,193.º do fim do ano passado para 13.º.

A grande questão no mundo do golfe, no entanto, era saber se um Tiger renovado ainda seria vitorioso.

Em Atlanta, na semana passada, Woods anunciou que voltaria a ser um competidor com uma primeira rodada brilhante. Quase instantane­amente, as vendas de ingressos para o torneio aumentaram 30%. No sábado à noite, Woods tinha uma vantagem de três tacadas com uma rodada para terminar. Antecipaçã­o para a rodada final era palpável. Mesmo em um atarefado domingo da NFL, os fãs de esportes estavam garantindo o agendament­o de seus dias vendo golfe no fim da tarde.

E como intérprete e artista, Woods não decepciono­u ao assumir o controle do torneio desde o início. Ele construiu uma liderança de cinco tempos comandada com sete buracos para jogar, e enquanto ele parecia um pouco agitado nos estágios finais, teve a vitória na mão quando começou a marchar para o buraco 18, como ao rebocar uma escolta de milhares de torcedores em júbilo.

“Eu senti vontade de chorar e comecei a chorar”, Woods disse mais tarde sobre seu avanço no green final. “Mas eu tive de me recompor porque ainda tinha algumas tacadas para terminar o que comecei.”

Quando acabou, a torcida por Woods praticamen­te abafou os anunciador­es de televisão que estavam falando em microfones pressionad­os diretament­e contra seus lábios.

“Eu tive alguns anos não muito fáceis”, disse Woods. “E esse ano inteiro, o apoio dos fãs tem sido algo que não me lembro de ter ocorrido antes. Quando voltei, não sabia o que esperar. Mas a energia dos fãs me levou naqueles dias em que era difícil para mim. Eles têm sido ótimos para mim.”

Tiger, de certa forma, está de volta. Mas há algo novo. Seu povo sentia falta dele./

Tiger Woods

Golfista norte-americano ‘O apoio dos fãs tem sido algo que não me lembro de ter ocorrido antes. Eles têm sido ótimos’

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REGIS DUVIGNAU/REUTERS Faminto. Em Atlanta, Tiger voltou a ser competitiv­o

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