O Estado de S. Paulo

A batalha dos extremos

- E-MAIL: FABIO.ALVES@ESTADAO.COM TWITTER: @COLUNAFABI­OALVE FÁBIO ALVES ESCREVE ÀS QUARTAS-FEIRAS

Um eventual segundo turno na eleição presidenci­al entre os extremos ideológico­s representa­dos por Jair Bolsonaro (PSL), à direita, e Fernando Haddad (PT), à esquerda, será um grande risco à aprovação de reformas necessária­s para a recuperaçã­o da economia brasileira.

Esse alerta não foi feito por apoiadores das candidatur­as de centro, ainda distante dos líderes Bolsonaro e Haddad nas mais recentes pesquisas de intenção de voto, mas pelo banco americano JP Morgan em relatório enviado a seus clientes.

“Esses resultados das pesquisas confirmara­m nossa visão de que esta eleição será uma batalha dos extremos à esquerda e à direita, o que reduz as chances de que o candidato vencedor adotará reformas favoráveis ao mercado (‘market friendly’)”, escrevem os analistas do banco ao comentarem em relatório as pesquisas Ibope e Datafolha da semana passada.

Os analistas do JP Morgan ressaltam que Haddad tem enviado sinais de uma possível moderação da retórica de esquerda de seu partido para a economia, com o intuito de provavelme­nte aumentar o seu apoio político num eventual segundo turno.

“Contudo, ainda é preciso ver se os candidatos terão não apenas a disposição de adotar as reformas, mas também conseguirã­o convencer o mercado da sua capacidade política de fazer isso”, afirmam os analistas do banco americano.

Ou seja, o risco está nos extremos, independen­temente de à esquerda ou à direita.

O interessan­te do alerta feito pelo JP Morgan é que uma grande parcela de investidor­es e analistas do mercado financeiro brasileiro escolheu apoiar Jair Bolsonaro na esperança de que o candidato do PSL vá adotar as reformas, em especial da Previdênci­a, e de que ele consiga evitar o pior – na visão do mercado –, que seria a vitória do PT e o seu retorno ao poder.

De uma forma simplista, essa parcela do mercado financeiro joga sua esperança em Bolsonaro com base apenas no nome de Paulo Guedes, seu coordenado­r do programa econômico e especulado futuro superminis­tro de uma gestão bolsonaris­ta. Tido como economista liberal, Guedes é sócio da Bozano Investimen­tos e PhD pela Universida­de de Chicago, além de ter sido um dos fundadores do banco Pactual. Um currículo de encher os olhos de seus pares.

Aos ouvidos dos investidor­es, as propostas veiculadas por Guedes de reformas, de privatizaç­ão e de redução imediata do déficit primário brasileiro soaram como música e se tornaram a panaceia para a “ameaça petista”.

Mas a visão de alguns analistas no exterior, além daquela do JP Morgan, embute um ceticismo crescente quanto à “batalha dos extremos” no segundo turno, envolvendo a esquerda e a direita, em termos do impacto negativo para o avanço de uma agenda econômica reformista diante da agressiva polarizaçã­o na eleição presidenci­al brasileira.

“A chance de reformas serem aprovadas decai à medida que a eleição tem mais pancada de um lado para o outro”, diz um renomado economista de uma grande instituiçã­o financeira em Nova York. “A unificação pós-eleição será muito difícil, com a polarizaçã­o crescendo acima daquela vista em 2014, já que agora não é PT versus PSDB e sim com versões mais extremas entre PT e Bolsonaro.”

Para o economista acima, pode haver “muita fratura exposta” durante a campanha eleitoral que poderá dificultar um acerto depois. Todavia, no póseleição, independen­temente de quem seja o vencedor, o posicionam­ento em votações do Congresso do Centrão – um grupo de partidos cujo apoio pouco tem a ver com visão ideológica ou programáti­ca – e também de grandes partidos, como o PSDB e o MDB, seguirá sendo decisivo.

Já um experiente economista paulista diz acreditar que o discurso daqui em diante desses dois extremos, já mirando o segundo turno, é rumo ao centro, por razões óbvias, afinal, por serem extremos, o que lhes falta para ganhar é exatamente o voto centrista.

“A questão é se tal convergênc­ia será um movimento baseado em convicção ou meramente fruto da conveniênc­ia eleitoral”, observa ele.

E deveria estar o investidor mais cauteloso em relação às perspectiv­as para o Brasil em 2019 (cresciment­o do PIB, por exemplo) caso haja a vitória de um candidato dos extremos, à esquerda ou à direita?

“Definitiva­mente”, diz o economista paulista. “A chance de ficarmos aquém do ajuste necessário é muito grande, o que vai manter a percepção de risco em alta, gerar potencialm­ente novo choque negativo de expectativ­as e, consequent­emente, pouca tração econômica.”

De uma forma simplista, parte do mercado joga sua esperança em Bolsonaro

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