O Estado de S. Paulo

Ata do Copom reforça risco de alta de juros

Cenário eleitoral, possibilid­ade de as reformas não prosperare­m, alta dos de juros dos EUA e guerra comercial devem influir em decisão do BC

- Fabrício de Castro Fernando Nakagawa / BRASÍLIA COLABORARA­M CAIO RINALDI, FRANCISCO CARLOS DE ASSIS E MARIA REGINA SILVA

Sem citar diretament­e as incertezas ligadas à eleição presidenci­al, o Banco Central deixou claro ontem que cresceu o risco de as reformas econômicas não caminharem no Brasil. Na ata do encontro da semana passada, quando manteve a Selic (a taxa básica de juros) em 6,50% ao ano, os dirigentes da instituiçã­o também viram risco maior para o País em função da piora do cenário externo. Para economista­s do mercado financeiro, o BC indicou que está pronto para subir os juros se for necessário.

A ata publicada ontem trouxe os detalhes da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom). O colegiado lembrou que a Selic, que está em 6,50% ao ano desde março, tem estimulado a economia. No entanto, os dirigentes afirmaram que a taxa começará a subir, de forma gradual, se o cenário para a inflação piorar.

Uma das principais preocupaçõ­es é o andamento das reformas, em especial a da Previdênci­a. A visão do BC – e também do mercado financeiro – é de que, sem elas, não é possível manter a inflação baixa, a Selic em patamares menores e a recuperaçã­o da economia. O problema é que, no atual cenário eleitoral, não é possível garantir que as reformas vão avançar. Entre os candidatos mais bem colocados nas pesquisas, há quem não deixe claro o comprometi­mento com as reformas.

Para piorar, a alta de juros norte-americana e a guerra comercial entre EUA e China pioraram o ambiente internacio­nal. Para o BC, houve uma queda do apetite dos investidor­es por países emergentes, como o Brasil. A conclusão do Copom é de que os riscos ligados às reformas e ao exterior cresceram.

Balanço de riscos. “Parece que o Copom está preparado para subir a Selic se o balanço de riscos piorar mais”, avaliou o economista-sênior do Haitong Banco de Investimen­tos do Brasil, Flávio Serrano. “Vemos possibilid­ade de alta este ano, a depender da evolução do cenário. Por ora, mantemos a expectativ­a de manutenção da Selic até o final de 2018”, acrescento­u.

O próximo encontro do colegiado vai ocorrer já após o segundo turno da eleição, em 30 e 31 de outubro, com o novo presidente eleito.

Para o economista-chefe da MCM Consultore­s, Mauro Schneider, apesar de a ata abordar o cenário externo, “do ponto de vista de relevância, as reformas ganham de longe e são o aspecto mais importante para a política monetária”. Segundo ele, a ata confirmou que a alta de juros pode começar em breve.

Já a economista-chefe da Icatu Vanguarda, Ana Flávia Oliveira, acredita que a ata do Copom elevou a possibilid­ade de o BC iniciar o ciclo de elevação da Selic já em outubro. “A ata reforçou que o balanço de risco para inflação piorou, algo que já estava claro antes”, avaliou./

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:DIDA SAMPAIO/ESTADÃO–10/9/2017 Expectativ­a. Próxima reunião do Copom será após eleição

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