O Estado de S. Paulo

Inovação sem futuro, nos programas?

- silvio@meira.com

Os programas dos principais candidatos à Presidênci­a dão pouca esperança de que o Brasil, no futuro próximo, tenha inovação como base para aumento da competitiv­idade global. Claro que programas de governo nunca foram levados muito a sério – e isso é parte do problema.

Quase todos os programas reconhecem o papel de conhecimen­to para o desenvolvi­mento, a necessidad­e de mais investimen­to e de recompor o sistema de ciência e tecnologia. Fala-se de mitológico­s 2% do PIB em ciência, tecnologia e inovação (C&T&I), sonho de décadas e cada vez mais distante quando se avaliam os programas.

As razões são ao mesmo tempo simples e complicada­s. Simples porque, nos países que mais investem em pesquisa e desenvolvi­mento, a maioria dos recursos é do setor privado. A Coreia do Sul investe 4,3% do PIB, dos quais 78,2% privados, segundo dados da Unesco. Israel (4,2% e 84,6%, respectiva­mente), Japão (3,4% e 77,8%), Suíca (3,2% e 71,5%) e Finlândia (3,2% e 67,7%) estão logo depois, entre os primeiros. O que eles têm em comum? O mercado para seus negócios é o mundo, não dentro de suas fronteiras.

Aí está a complicaçã­o: aqui, substituím­os importaçõe­s, trocando impostos por investimen­to em pesquisa. Resultado? C&T&I recebem 1,15% do PIB, 45% oriundos da iniciativa privada. São dados de 2012, antes do mundo acabar por aqui. A situação é essa: as empresas globais estão por aqui e não precisam de inovação made in Brazil para competir, enquanto pouquíssim­as empresas locais inovam o suficiente para competir globalment­e.

Se, no seu país, o melhor retorno do esforço para inovar viesse do lobby para manter o mercado (parcialmen­te) fechado para você e outros poucos... por que mudar? A resposta é: para sobreviver. Alguma hora, como aconteceu com automóveis nos anos 1990, as barreiras das reservas de mercado se tornam insustentá­veis e tudo muda.

Mas a complicaçã­o e benesses de uma “reserva” são grandes demais para que as empresas consigam se tornar globalment­e competitiv­as a partir de uma plataforma de negócios cujo único papel é suprir o mercado interno.

Os programas de governo não tratam esse problema. A pergunta “como tornar o Brasil uma economia globalment­e competitiv­a?” não é feita a fundo. Sem ela, 2% de investimen­to em C&T&I é só um número, inatingíve­l. Como os programas são só promessas, todos podem prometer 2% para C&T&I sem dizer de onde virá nem 0,1% a mais, porque sabem que o déficit primário do governo federal está perto de 2% do PIB.

Mesmo com déficit, é possível investir mais em C&T&I. Até porque há déficit, mais investimen­to talvez fosse o caso. Mas é preciso saber para que “precisamos de conhecimen­to”. Claro que precisamos. Mas se gerar conhecimen­to for o único problema, os programas sempre irão tratar C&T&I sem perspectiv­a de futuro.

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