Turista 4.0 exige renovação das PMEs
Presença digital e oferta de experiências que levem o viajante a se sentir um morador são os desafios atuais do setor
O fácil acesso e disseminação da informação levaram o turista a procurar por experiências únicas, que fujam de clichês e de pacotes de viagem genéricos sem nenhum tipo de personalização. Em 2017, o Google registrou 1 bilhão de buscas relacionadas a viagens e 56% delas foram feitas em smartphones. Revela-se então o grande desafio das pequenas e médias empresas do setor: atender a um turista altamente conectado e que anseia sentir-se como um local.
Cenário. Uma das ferramentas mais importantes para auxiliar as PMEs a atenderem o perfil do turista moderno é a análise de dados. De acordo com a TGI Ibope, 85% dos viajantes brasileiros têm acesso à internet, o que corresponde a 53,6 milhões de turistas conectados. Uma pesquisa da Euromonitor Brasil indica que em 2017, pela primeira vez, metade das vendas referentes à hospedagem foram feitas de forma online. A presença digital dos negócios mostra-se estratégica.
Sobre o comportamento financeiro do turista, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) revela que adeptos do Airbnb, plataforma comunitária de hospedagem, gastaram, em média, três vezes mais no comércio local em comparação a viajantes que se hospedam em hotéis.
O próprio Airbnb realizou uma pesquisa com hóspedes que estiveram no Brasil e mostrou um ambiente favorável para as PMEs. Cerca de 75% das acomodações do Airbnb ficam localizadas fora do eixo turístico tradicional, o que favorece a movimentação do comércio e serviços oferecidos. A empresa ainda mostra que mais da metade do tempo dos hóspedes durante a estadia é gasto em compras locais, nos bairros.
“Estamos falando do viajante 4.0, altamente preparado, imediatista e que busca por experiências marcantes. É a transformação digital no turismo”, diz a especialista em turismo e marketing digital Marta Poggi durante o Summit Turismo, evento do Sebrae Nacional, Ministério do Turismo e Embratur, realizado no início do mês em Brasília (DF).
Personalizado. Customização e comodidade foram os aliados na formatação da Instaviagem, empresa fundada em maio de 2017. Por meio de um questionário online, o cliente oferece informações do que ele busca conhecer ou fazer durante a viagem. O passo seguinte é pagar por um roteiro personalizado. O destino? É revelado apenas dois dias antes da data.
“O que as pessoas estão comprando com o Instaviagem, na verdade, é uma experiência única com facilidade. Percebemos que uma série de micro decisões, como onde se hospedar e pesquisa de preços de passagens, faziam com que as pessoas viajassem menos”, diz o CEO, Caio Andrade.
Para aumentar o volume de vendas, Andrade conta que a empresa está focada em viagens curtas. “As pessoas não viajam aos finais de semana porque dá muito trabalho. Estamos aqui para facilitar esse processo”, completa.
Como dificuldades para a consolidação do negócio, o CEO aponta a falta de estrutura em mobilidade, comum em muitas cidades do País. “Os clientes podem escolher viajar de ônibus. Mas, quando iniciamos a montagem do roteiro, identificamos que muitos itinerários não são possíveis pela falta de malha. E o Brasil também não trabalha com aviação de baixo custo.”
Coletivo. Com o objetivo de fortalecer a cidade mineira de Tiradentes como destino romântico, histórico, religioso e ecológico, 52 empreendedores do município se reuniram no coletivo Tiradentes Mais. “Sozinho ninguém tem condição financeira e nem perna para divulgar a cidade”, afirma uma das participantes, Rejane Cunha, dona do restaurante CasAzul Bistrô.
Para impulsionar a cidade e driblar a crise financeira, que impactou no faturamento das empresas, os membros do Tiradentes Mais contrataram uma agência para cuidar do marketing e do financeiro do coletivo. “Pretendemos fazer ações e promoções da cidade com diferentes focos. Tenho o bistrô há nove anos e percebo a mudança de público. Precisamos nos abrir para isso. Estou gostando de ser obrigada a me renovar como empreendedora”, conta.
“Queremos desvincular a ideia de que viagem é só nas férias. As pessoas não viajam mais porque dá trabalho. Estamos aqui para facilitar esse processo” Caio Andrade, CEO da empresa Instaviagem