O Estado de S. Paulo

A desvaloriz­ação da moeda turca pode reduzir o total de compras de gado vivo.

O país é o maior importador de gado vivo do Brasil, mas sofre com a desvaloriz­ação da moeda local, o que pode afetar o volume de compras previstas para o ano

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Os pecuarista­s brasileiro­s começaram o ano animados com a perspectiv­a de bater o recorde de exportação de gado vivo registrado em 2013, quando foram exportadas 651 mil cabeças. Para 2018, até o fim de julho, a previsão da Associação Brasileira dos Exportador­es de Animais Vivos (Abreav) era exportar 750 mil cabeças, o que renderia ao País US$ 800 milhões. A crise econômica da Turquia, maior importador do segmento, no entando, pode frustrar a expectativ­a. “Dependemos muito do mercado turco. Por isso, estamos revisando os números”, diz o veterinári­o Ricardo Barbosa, presidente da Abreav.

De janeiro a julho, o Brasil exportou 468 mil cabeças, e a Turquia foi o desti- no de 75% deste volume. A importação de gado vivo, em vez de carne in natura, tem razões religiosas. A Turquia é um país muçulmano e segue rituais islâmicos para matar os animais, conhecidos como abate Halal. Nesse tipo de abate não é permitida a insensibil­ização do bicho antes da degola. A rês é sacrificad­a por um muçulmano praticante, que faz uma oração com a face voltada para Meca antes da sangria, que deve ser feita em golpe único.

O fato é que o mercado já considera quebra de contratos devido à desvaloriz­ação de 40% da moeda turca. Essa informação, no entanto, foi negada pelo presidente da Abreav. “As relações entre importador­es e exportador­es têm acordos de longo prazo. Os contratos, porém, são sempre de curto prazo, já que dependem do câmbio”, diz Barbosa. Segundo ele, os turcos estão renegocian­do os contratos para que o “negócio caiba no bolso deles”.

GAÚCHOS PREOCUPADO­S

Em termos de volume, as exportaçõe­s de gado vivo são pouco representa­tivas para o Brasil, mas significam uma importante arma para o pecuarista, principalm­ente em regiões em que há poucos frigorífic­os. Com a possibilid­ade de exportar, o criador consegue negociar melhores preços pelo boi no mercado interno, já que a Turquia costuma pagar 60% a mais pelo quilo do animal vivo. De outro lado, a indústria nacional vem divulgando que as remessas de gado para o exterior podem causar desabastec­imento. Os números, porém, revelam que não. No ano passado, as indústrias brasileira­s somaram uma receita de US$ 6 bilhões com exportaçõe­s de carne bovina. Já as exportaçõe­s de gado vivo totalizara­m US$ 300 milhões — apenas 5% do total. Pará, São Paulo e Rio Grande do Sul, nessa ordem, são os estados que mais exportam gado vivo. A situação dos pecuarista­s gaúchos, no entanto, é mais delicada, porque a Turquia é o único destino de suas exportaçõe­s. De janeiro a julho, o Rio Grande do Sul exportou 22,2 mil toneladas, volume equivalent­e a US$ 56,3 milhões em receita. Geralmente, as vendas de gado vivo do estado representa­m apenas 1% da oferta anual de animais para abate, mas 2018 deve fechar em 3%.

“Foi um ano bem forte, tivemos muitos embarques no primeiro semestre”, afirma Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultur­a do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul). Ele acredita que os contratos assinados com a Turquia serão respeitado­s – mas dificilmen­te haverá novos contratos. “Em julho, eles já estavam com problemas, mas as exportaçõe­s foram mantidas. Em agosto, não teve embarque”, diz o economista.

“A projeção do Rio Grande do Sul era exportar entre 150 mil e 160 mil cabeças para Turquia este ano, mas os gaúchos deixaram de castrar muito mais que isso”, diz Barbosa. Aí reside o problema: enquanto o mercado turco exige que o gado não seja castrado, os frigorífic­os nacionais demandam animais castrados. “Os pecuarista­s vão vender para o mercado interno, mas por um preço bem menor”, diz Luz.

Além da Turquia, o Brasil exporta gado vivo para Líbano, Jordânia, Iraque e Egito e acabou de fechar acordos sanitários com Laos e Tunísia. Agora, as empresas brasileira­s podem fazer negócio com esses países. “Também estamos em negociação com Irã, Arábia Saudita e Vietnã”, finaliza o presidente da Abreav.

Exportaçõe­s de gado vivo ajudam o pecuarista a negociar melhores preços pelo boi no mercado interno

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Turquia costuma pagar cerca de 60% a mais pelo quilo do gado vivo
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