O Estado de S. Paulo

Petrobrás faz acordo e vai pagar R$ 3,6 bi nos EUA

Estatal aceitou pagar multa para encerrar investigaç­ões de autoridade­s americanas sobre a Lava Jato; valor será pago ao longo de um ano

- / RODRIGO PETRY COM AGÊNCIAS INTERNACIO­NAIS

A Petrobrás aceitou pagar multa de US$ 853 milhões (R$ 3,6 bilhões) para encerrar as investigaç­ões relacionad­as à Operação Lava Jato nos EUA. O acordo com autoridade­s americanas põe fim a incertezas e custos associados a potenciais litígios no país e foi bem recebido por investidor­es.

A Petrobrás aceitou pagar uma multa de US$ 853 milhões, ou R$ 3,6 bilhões (incluindo impostos), para encerrar as investigaç­ões relacionad­as à Operação Lava Jato nos EUA. O acordo foi fechado com o Departamen­to de Justiça (DoJ) e com a SEC, xerife do mercado de ações americano. Segundo a estatal, o acordo põe fim a incertezas e custos associados a potenciais litígios nos EUA.

A notícia foi bem recebida por investidor­es e fez com que as ações da estatal ficassem entre os maiores destaques da Bolsa brasileira ontem. Os papéis registrara­m alta de 5,75% (PN) e 4,41% (ON), o que representa um aumento de R$ 15,8 bilhões no valor de mercado da petroleira em apenas um dia. Com a valorizaçã­o, a Petrobrás superou a Ambev e se tornou a segunda maior empresa brasileira da Bolsa.

A agência de classifica­ção Moody’s ressaltou em relatório que o valor acordado é “significat­ivamente menor que o inicialmen­te esperado para o encerramen­to das investigaç­ões”.

No início do ano, a Petrobrás já havia concordado em pagar US$ 3 bilhões (ou quase R$ 10 bilhões) para encerrar uma ação coletiva movida por investidor­es que se sentiram lesados por supostas perdas registrada­s após o escândalo de corrupção.

No acordo divulgado ontem, o Departamen­to de Justiça nos Estados Unidos reconhece que a Petrobrás foi “vítima” do esquema de corrupção que envolveu ex-executivos e ex-diretores investigad­os pela Operação Lava Jato. A estatal, por sua vez, se responsabi­liza pelos atos desses executivos, que violaram a legislação americana.

Os comunicado­s das autoridade­s americanas foram duros. O diretor assistente do FBI, Robert Johnson, disse que a multa “deve servir para dissuadir qualquer um que busque esse tipo de fraude no futuro”. “Esse caso prova que nenhuma companhia está acima da lei e que a corrupção que ultrapassa fronteiras não será tolerada nos EUA.”

Captação. A SEC lembrou que a companhia brasileira captou bilhões de dólares de investidor­es americanos, na megacapita­lização realizada em 2010, “enquanto seus executivos operavam um esquema expressivo de propinas e corrupção”.

A Petrobrás pagará US$ 85,3 milhões ao DoJ e US$ 85,3 milhões à SEC. Os outros US$ 682,6 milhões serão depositado­s pela estatal em um fundo especial no Brasil, após acordo que ainda será assinado com o Ministério Público Federal. “Esse valor será usado segundo os termos e condições do acordo a ser celebrado, incluindo destinação para vários programas sociais e educaciona­is visando à promoção da transparên­cia, cidadania e conformida­de no setor público”, informou a petroleira. Os valores serão desembolsa­dos ao longo de um ano.

Analistas do banco UBS afirmam que o acordo alcançado com autoridade­s dos EUA parece pôr um fim às reivindica­ções do governo americano envolvendo a Petrobrás e a Operação Lava Jato. Eles lembram, no entanto, que a petroleira é alvo de outras três ações que ainda estão em curso no Brasil, na Argentina e na Holanda. “Essas reivindica­ções estão nos estágios iniciais e acreditamo­s que levará algum tempo até que tenhamos alguma expectativ­a sobre seus resultados.”

Em abril do ano passado, a Justiça americana impôs à Odebrecht uma multa de US$ 2,6 bilhões, a serem pagos ao Brasil, Suíça e EUA, após a empresa ter admitido que manteve um esquema de propinas ao longo de 15 anos em mais de uma dezena de países. A empreiteir­a enfrentava o risco de ser multada em US$ 4,5 bilhões, mas alegou que não poderia pagar mais de US$ 2,6 bilhões. Em dezembro de 2016, a Braskem já havia feito um acordo compromete­ndo-se a pagar US$ 957 milhões para autoridade­s no Brasil e no exterior.

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PILAR OLIVARES/REUTERS-5/9/2018 Desembolso. Estatal se compromete­u a depositar 80% da multa em um fundo no Brasil
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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO

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