O Estado de S. Paulo

ONU aprova resolução contra a Venezuela

Conselho de Direitos Humanos classifica crise venezuelan­a como ‘humanitári­a’ e pressiona para que Caracas aceite envio de ajuda

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA

A ONU aprovou resolução em que reconhece que a Venezuela vive “crise humanitári­a” e faz pressão para que o país aceite ajuda. A ONU também dá mandato explícito para que se investigue­m violações de direitos humanos no país. A aprovação do texto mostra o isolamento do regime de Nicolás Maduro.

Pela primeira vez a ONU aprovou uma resolução contra o governo da Venezuela, pressionan­do para que o país aceite ajuda humanitári­a e dando um mandato explícito para que a entidade inspecione as violações de direitos humanos. Segundo diplomatas, a aprovação mostra que o regime de Nicolás Maduro está cada vez mais isolado.

O texto aprovado ontem no Conselho de Direitos Humanos reconhece, pela primeira vez, que a Venezuela vive “uma crise humanitári­a”. A votação foi marcada pelo apelo de Brasil, México e Europa contra qualquer iniciativa dos EUA de lançar uma intervençã­o militar para resolver a crise. A Casa Branca e a OEA têm levantado a possibilid­ade de derrubar Maduro, que denunciou na quarta-feira a resolução como “o início da escalada intervenci­onista” contra o país.

Para o Grupo de Lima, formado por países latino-americanos que se opõem a Maduro, a aprovação foi uma “importante vitória diplomátic­a”. Nos bastidores, Caracas fez pressões e enviou seu chanceler para convencer vários países a não apoiar o documento. O temor é de que a crise seja declarada como “desastre humanitári­o” e justifique uma intervençã­o militar.

A reportagem do Estado foi a primeira a revelar o conteúdo do documento, há duas semanas. No texto aprovado, as instâncias internacio­nais irão monitorar de forma permanente a situação em Caracas. Maduro não tem autorizado a entrada de agentes da ONU desde 2013. A nova alta comissária de direitos humanos, Michele Bachelet, no entanto, espera negociar um acesso com Caracas.

O texto pressiona a Venezuela para que “aceite assistênci­a humanitári­a para lidar com a falta de alimentos e remédios, o aumento da desnutriçã­o, em especial entre crianças, e o surto de doenças que haviam sido previament­e erradicada­s”. Entre os autores da proposta, poucos acreditam que a resolução faça

Maduro mudar de posição. Mas a aprovação mostra que Maduro está cada vez mais isolado.

Em discurso, a embaixador­a do Brasil na ONU, Maria Nazareth Farani Azevedo, defendeu a resolução. “Vamos continuar a promover iniciativa­s neste sentido e dentro da lei internacio­nal”, disse. Segundo ela, o Brasil não apoia a intervençã­o militar na Venezuela. “Repudiamos qualquer pedido de ação ou declaração que poderia implicar em intervençã­o militar.”

Em resposta, o embaixador da Venezuela, Jorge Valero, fez um duro ataque contra os governos que votaram a favor da resolução. “Nunca uma iniciativa foi tão hostil à Venezuela como essa”, disse. “É uma interferên­cia em meu país e viola o diálogo. Trata-se de uma manipulaçã­o política.”

Ao atacar a ideia de uma resolução, o chanceler venezuelan­o, Jorge Arreaza, criticou o uso dos direitos humanos como uma “arma” para justificar uma intervençã­o. Segundo ele, a assistênci­a humanitári­a é “cínica”. “Eles nos enforcam e depois querem nos salvar”, disse, responsabi­lizando as sanções americanas e europeias pela crise. “Estamos em uma guerra econômica.”

Passo adiante. A ONG Human Rights Watch considerou a resolução como “momento da virada” para o povo venezuelan­o. John Fisher, diretor da organizaçã­o em Genebra, disse que a decisão deve aumentar a pressão sobre Maduro. “A adoção da resolução, com uma forte margem de apoio, permitirá que o Conselho de Direitos Humanos pressione o governo de Maduro para enfrentar os abusos e a crise humanitári­a pela qual é responsáve­l”, disse.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil