O Estado de S. Paulo

Eliane Cantanhêde

- ELIANE CANTANHÊDE E-MAIL: ELIANE.CANTANHEDE@ESTADAO.COM TWITTER: @ECANTANHED­E ELIANE CANTANHÊDE ESCREVE ÀS TERÇAS E SEXTAS-FEIRAS E AOS DOMINGOS

Se há campanha em que todos batem continênci­a ao comandante, não é a de tucanos nem do capitão e do general, mas a do PT.

Depois vão dizer que é implicânci­a da imprensa, mas como não publicar e não comentar essa profusão de notícias negativas para a candidatur­a de Jair Bolsonaro (PSL) à Presidênci­a? Quem cria os fatos, as notícias e os vexames não é a imprensa, é ele e a própria campanha.

Depois de admitir que não entende nada de nada, muito menos de economia, Bolsonaro saiu-se com uma gracinha: “Chama o Posto Ipiranga!”. Depois, esfaqueado brutalment­e e internado no hospital, foi poupado de debates e entrevista­s, mas toda hora dá uma bronca, ora no vice, ora no próprio Posto Ipiranga.

O economista Paulo Guedes, que é o tal posto (não poste, hein?), já teve de dizer que a ideia de recriar a CPMF não era bem assim e cancelou a ida a todos os debates, um atrás do outro. Já o vice, general Hamilton Mourão, não se emenda. Famoso por ter defendido a hipótese de intervençã­o militar quando ainda estava na ativa, ele é uma festa para repórteres ávidos por notícias, deslizes e manchetes.

Tem a história da “indolência” dos índios e da “malandrage­m” dos negros, que deram nisso aqui, o Brasil. Depois, a proposta de mudar a Constituiç­ão passando por cima do Congresso eleito por voto direto. Agora essa contra o que chamou de “jabuticaba­s brasileira­s”: o 13.º salário e o adicional de férias para o trabalhado­r.

Às vésperas de ter alta do hospital, Bolsonaro subiu nas tamancas. Pelo Twitter, o capitão desautoriz­ou o general, dizendo que o que ele andou falando, “além de uma ofensa a quem trabalha, é desconhece­r a Constituiç­ão”.

O disse, o não disse e a sensação de total descontrol­e da candidatur­a confirmam o temor de setores militares responsáve­is: essa campanha, com Bolsonaro e Mourão à frente, está tendo um efeito oposto ao que imaginavam. Em vez de ser favorável, pode ser negativa para as Forças Armadas, que não deveriam estar metidas nessa confusão.

Mas, se Bolsonaro fica bravo com Mourão e com Paulo Guedes, quem vai ficar furioso com ele próprio? Bobagem por bobagem, nenhum dos dois consegue ser pior do que o próprio Bolsonaro. No impeachmen­t de Dilma Rousseff, fez loas ao coronel Brilhante Ustra, um dos símbolos da tortura no regime militar, e continuou colecionan­do manifestaç­ões ou patéticas ou escandalos­as.

Segundo Bolsonaro, em resumo, mulheres devem ganhar menos que os homens, é melhor ter um filho morto do que gay e o erro das ditaduras foi não ter matado muito mais gente. E ele explica que, apesar de ter apartament­o em Brasília, usava imóvel funcional da Câmara “pra comer gente”. E a imagem do candidato ensinando a criancinha a simular uma arma com as mãos?

A pergunta que fica é simples e angustiant­e: se na campanha já é assim, como seria, ou será, um governo de Jair Bolsonaro, Hamilton Mourão e Paulo Guedes?

Na campanha de Geraldo Alckmin, as declaraçõe­s chocantes não são de economia, política, democracia e costumes, como na de Bolsonaro. No caso dos tucanos, são contra o próprio candidato e o próprio PSDB! Fernando Henrique, João Doria, Tasso Jereissati, Arthur Virgílio, Bruno Araujo e Cássio Cunha Lima fizeram fila para esculhamba­r o partido, a campanha, o candidato. Bem no meio da eleição.

No PT, a presidente Gleisi Hoffmann parou de defender Nicolás Maduro e sumiu. E algum petista abriu a boca contra Fernando Haddad? Muitos eram contra ele, mas todos trabalham a favor, como se faz em partidos com organicida­de e objetivo. Se há uma campanha em que todos batem continênci­a ao comandante, não é a de tucanos nem a do capitão e do general, mas a do PT.

Assim se constroem derrotas e vitórias, e o PT sabe construir vitórias. Não venham praguejar depois.

PT constrói a vitória, Bolsonaro e PSDB armam as suas próprias derrotas

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