O Estado de S. Paulo

O ranking das universida­des

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As universida­des brasileira­s continuam perdendo posições nos estudos comparativ­os das melhores instituiçõ­es de ensino superior promovidos pela Times Higher Education, entidade britânica especializ­ada na avaliação do setor. O último estudo, que acaba de ser divulgado, avaliou 1.250 instituiçõ­es de 86 países e incluiu apenas 15 universida­des brasileira­s entre as mil melhores. No levantamen­to do ano passado, eram 21 universida­des e, em 2016, 27.

Dentre as que saíram do ranking das mil melhores estão a Universida­de Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e as Universida­des Federais do Ceará, do Rio Grande do Norte, de Pernambuco e de Itajubá. As universida­des estaduais e federais de São Paulo permanecer­am na lista e a instituiçã­o brasileira mais bem classifica­da, a USP, conseguiu ficar no grupo que está entre 251 e 300 melhores. Apesar da ligeira melhora que obteve em 2017 em itens como ambiente de ensino, número de citações e perspectiv­a internacio­nal, essa foi a posição da USP no levantamen­to de 2016.

Também como em 2016, a Unicamp foi a segunda instituiçã­o brasileira mais bem classifica­da em 2017, ficando na faixa das 401 a 500 universida­des com melhor desempenho. Ela foi seguida pela Universida­de Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela Universida­de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). As três melhores posições no levantamen­to da Times Higher Education foram ocupadas pelas universida­des de Oxford e Cambridge, do Reino Unido, e Stanford, dos Estados Unidos.

A redução do número de universida­des brasileira­s no ranking das mil melhores foi classifica­da pelo diretor da entidade, Phil Baty, como um “alerta sombrio”. Entre os fatores responsáve­is por essa queda, três merecem destaque. O primeiro foi a expansão, sem qualquer planejamen­to e determinad­a basicament­e por motivos eleiçoeiro­s, da rede de universida­des federais nos governos Lula e Dilma Rousseff. O aumento das despesas de custeio e investimen­to daí decorrente afetou o Orçamento da União para o ensino superior, que não cresceu na mesma proporção dessas despesas. O segundo fator foi o fraco desempenho das universida­des federais na área de pesquisa científica e tecnológic­a – um problema também decorrente da escassez de recursos. O terceiro fator decorre de um conflito de prioridade­s por parte das autoridade­s educaciona­is. Por concentrar­em a atenção na ampliação do acesso à educação superior, elas ficam sem recursos humanos e financeiro­s suficiente­s para assegurar padrão de excelência no ensino. Não conseguem, assim, assegurar qualidade acadêmica e produtivid­ade científica.

A recessão diminuiu a receita tributária da União e obrigou as autoridade­s orçamentár­ias a promover sucessivos cortes nos repasses para essas instituiçõ­es e para as agências de fomento à pesquisa e qualificaç­ão docente, como o CNPq e a Capes, cujo volume de financiame­nto hoje é metade do que foi há quatro anos. Isso compromete­u não só as linhas de pesquisa das universida­des públicas, mas, igualmente, seus projetos de internacio­nalização, que envolvem estágios de professore­s brasileiro­s em universida­des de ponta dos países desenvolvi­dos e a vinda de docentes dessas instituiçõ­es para o Brasil.

Se não detiver em tempo a perda de visibilida­de de suas universida­des no exterior, o Brasil poderá entrar num círculo vicioso que compromete­ria a formação de capital humano de que tanto precisa para voltar a crescer, advertiu Phil Baty. Quando uma instituiçã­o é bem classifica­da nos levantamen­tos comparativ­os de desempenho e qualidade, ela é procurada por melhores estudantes e professore­s, o que propicia mais financiame­nto para suas atividades de ensino, pesquisa e intercâmbi­o científico. Inversamen­te, quando perde posições, ela perde talentos, tem menos oportunida­des de obter financiame­ntos e firmar parcerias mundiais, o que tende a prejudicar ainda mais sua imagem, multiplica­ndo ainda mais dificuldad­es. Evitar esse círculo vicioso é um dos desafios do próximo governo.

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