O Estado de S. Paulo

Mulher relata no Senado assédio de juiz indicado por Trump à Suprema Corte

Guerra em Washington. Brett Kavanaugh também prestou depoimento e garantiu que nunca atacou ninguém; votação final foi mantida para hoje, mas aprovação depende da decisão de três senadores republican­os e um democrata, que permanecem indecisos

- Beatriz Bulla CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

A Comissão de Justiça do Senado dos EUA ouviu ontem os depoimento­s do juiz Brett Kavanaugh, indicado pelo presidente Donald Trump para a Suprema Corte, e da psicóloga Christine Blasey Ford, que o acusa de assédio sexual. Ambos deram declaraçõe­s fortes, em tom emocionado. Ela disse ter “100% de certeza de que foi atacada por Kavanaugh. Ele negou com veemência as acusações.

Christine acusa Kavanaugh de tentar estuprá-la em uma festa, em 1982, quando eles estavam no ensino médio. Ela deu um depoimento contundent­e no qual disse não ter dúvidas sobre o que aconteceu. Aos senadores, ela disse que a risada do juiz e de um amigo dele é a memória mais forte que possui daquele dia.

Ontem, Christine deu detalhes do que aconteceu na festa e disse que o juiz e um amigo a empurraram para dentro de um quarto. Segundo ela, Kavanaugh estava bêbado, a apalpou

e tentou tirar sua roupa. Christine disse que tentou gritar, mas teve a boca tampada por ele.

De acordo com ela, os dois não eram próximos, mas estiveram em outras festas juntos. Aos senadores, ela disse estar “aterroriza­da”, mas afirmou que considerou necessário fazer a denúncia. Desde que se pronunciou pela primeira vez, outras duas mulheres levantaram acusações de cunho sexual contra Kavanaugh: Julie Swetnick e Deborah Ramirez.

Após Christine, foi a vez de Kavanaugh dar sua versão. Aos senadores, o juiz disse que nunca assediou uma mulher. “Eu gostava de cerveja. Eu ainda gosto de cerveja. Mas eu não bebo cerveja a ponto de ‘apagar’e nunca abusei sexualment­e de ninguém”, afirmou. “Minha família e meu nome foram permanente­mente destruídos por acusações falsas”, afirmou o juiz, que acusou os democratas de fabricar o escândalo para barrar sua nomeação.

Na quarta-feira, o presidente Donald Trump disse que poderia ser convencido das acusações e afirmou que assistiria ao discurso de Christine. A fala foi uma mudança no tom do presidente, que até então vinha sugerindo que as acusações eram falsas.

Ontem, no entanto, Trump voltou a adotar um tom agressivo, mostrando solidaried­ade a Kavanaugh. “Ele mostrou aos EUA exatamente por que eu o escolhi para a Suprema Corte”, disse Trump, no Twitter. “Seu depoimento foi poderoso, honesto e cativante.”

Indecisos. No início da noite, apesar do depoimento de Christine, a votação para confirmar o nome de Kavanaugh foi mantida para hoje. No entanto, os republican­os não tinham certeza se teriam votos suficiente­s para aprová-la. O suspense havia sido mantido porque quatro senadores moderados ainda permanecia­m indecisos.

Os republican­os Lisa Murkowski, Jeff Flake e Susan Collins, e o democrata Joe Manchin, dispensara­m os assessores e se trancaram em um gabinete do Senado para debater o caso. Analistas diziam que a decisão dos quatro determinar­ia o futuro do juiz Kavanaugh na Suprema Corte.

 ?? TOM WILLIAMS / EFE ?? Emoção. Kavanaugh, tenta conter o choro ao depor diante de senadores americanos sobre acusação de abuso sexual
TOM WILLIAMS / EFE Emoção. Kavanaugh, tenta conter o choro ao depor diante de senadores americanos sobre acusação de abuso sexual

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil