O Estado de S. Paulo

Doações de órgãos aumentam, fila cai, mas o nº de transplant­es não avança

Sociedade. A redução na fila se dá sobretudo em cirurgias de córnea. Em 2017, 13.920 pacientes aguardavam o procedimen­to – são 10.256 os inscritos na lista deste ano. O principal desafio ainda é ampliar a taxa de consentime­nto familiar, hoje em 58%

- Lígia Formenti / BRASÍLIA / COLABOROU ANA PAULA NIEDERAUER

Balanço divulgado ontem pelo Ministério da Saúde mostra que as doações de órgãos aumentaram 7% no País, a fila de pacientes aguardando transplant­es caiu, mas o número de cirurgias permanece estável. De acordo com a pasta, em junho deste ano havia 41.266 aguardando a operação, ante os 44.332 do ano passado.

A queda na fila se dá sobretudo por causa do transplant­e de córnea. Em 2017, 13.920 pacientes aguardavam a cirurgia – bem menos do que os 10.256 inscritos na lista deste ano. Quando se analisam os dados de transplant­es de órgãos sólidos (coração, fígado, pâncreas, pulmão, rim e o transplant­e associado de pâncreas e rim), no entanto, o que se vê é que o número de integrante­s da fila subiu de 30.412 para 31.010 pacientes no período.

A redução na fila da córnea foi explicada pelo ministro em exercício, Adeilson Cavalcante. De acordo com ele, há uma progressiv­a redução da procura por esse tipo de cirurgia, uma vez que pacientes já vêm sendo atendidos. Isso se reflete, também, no número de operações realizadas. Em 2017, foram 7.989; neste ano, 7.513. Os dados de 2018, porém, ainda são preliminar­es.

Entre os transplant­es que apresentar­am um aumento na fila está o de rim. Este ano, há 27.741 aguardando o procedimen­to. Em 2016, eram 26.938. Também houve um aumento do transplant­e associado de pâncreas e rim. A fila, que em 2016 era de 595 pessoas, passou para 653. Ao apresentar os dados, o ministério comemorou o cresciment­o de 7% do número de doadores efetivos de órgãos.

Consentime­nto. Para Cavalcante, no entanto, há ainda um caminho a seguir. O principal desafio é ampliar a taxa de consentime­nto familiar à doação de órgãos. Ao longo dos últimos anos, ela oscilou muito pouco. Para se ter uma ideia: em 2013, a taxa de autorizaçã­o era de 55%. Este ano, ela é de 58%, de acordo com dados repassados pelas Centrais Estaduais de Transplant­es.

“Até eu adoecer nunca tinha passado pela minha cabeça que um dia iria precisar de um transplant­e. Quando adoeci, tinha fraqueza, mal-estar, as pernas ficavam inchadas”, relata Germanildo dos Santos Boris, de 30 anos, morador de Cruzeiro do Sul (AC). Em 2002, ele descobriu ser portador do vírus da hepatite B. Três anos depois, fez a cirurgia de fígado no Hospital Leforte, na capital paulista.

Em São Paulo, ele ficou hospedado em uma residência da Associação para Pesquisa e Assistênci­a em Transplant­e (Apat), entidade criada por um grupo de médicos clínicos e cirurgiões de transplant­es que constatara­m a dificuldad­e de vários pacientes vindos de outras regiões do País de se manter em São Paulo. “Depois do transplant­e, tenho uma nova vida,

ando para tudo que é canto”, firma Boris.

Campanha. Para tentar reduzir a resistênci­a que ainda é encontrada entre alguns familiares, o ministério lançou uma campanha nacional de incentivo à doação. O ministério espera alcançar até o fim do ano um potencial de 17 doadores efetivos por milhão de pessoas.

De todos os transplant­es realizados no País, 96% são realizados pelo Sistema Único de Saúde. De acordo com a pasta, o sistema de transplant­es do Brasil constitui o maior programa público no mundo. Ao todo, há 504 centros de transplant­es. No ano passado, o orçamento para o setor foi de R$ 989,88 milhões.

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JF DIORIO/ESTADÃO Paciente. ‘Nunca tinha passado pela minha cabeça que precisaria de transplant­e. Hoje, tenho uma nova vida’, diz Boris
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