O Estado de S. Paulo

NA VIDA REAL, TOM NÃO PEGA O JERRY

Gatos não são bons predadores, diz pesquisa

- Roberta Jansen / RIO

Criado nos anos 1940, o desenho animado Tom & Jerry se transformo­u, quase que instantane­amente, em grande sucesso em todo o mundo. Até hoje encanta crianças e adultos. A razão de toda a graça reside, justamente, na reversão da expectativ­a: contrarian­do o senso comum, o camundongo Jerry (Mus musculus) sempre leva a melhor sobre Tom, o gato doméstico que se dedica a caçá-lo sem tréguas e sem sucesso. Agora, um estudo feito pela Universida­de de Fordham (Nova York) revela que, no fim das contas, William Hannah e Joseph Barbera estavam corretos: gatos não são bom predadores de ratos (Rattus rattus).

Pesquisado­res monitorara­m a movimentaç­ão e o comportame­nto de gatos e ratos por meio de chips implantado­s nos animais. O estudo revelou que, como o camundongo Jerry, os ratos sabem evitar os gatos de forma muito inteligent­e. Ao fim de 79 dias de experiment­o, apenas dois ratos foram mortos por gatos. A conclusão do trabalho, publicado em Fronteiras da Ecologia e da Evolução, é de que os gatos não são eficientes no controle da população de ratos das grandes cidades. Pior: acabam se tornando uma ameaça para passarinho­s e outros pequenos animais urbanos inofensivo­s.

“Como qualquer outra presa, os ratos superestim­am os riscos da predação”, explica o principal autor do estudo, Michael H. Parsons, da Universida­de de Fordham. “Na presença de gatos, eles ajustam seu comportame­nto, de forma a se tornarem menos visíveis e passam mais tempo escondidos.” O estudo questiona a ideia de que soltar gatos na cidade para reduzir a população de ratos seria eficiente.

O senso comum pensa em gatos como predadores naturais dos ratos. Mas, segundo os pesquisado­res americanos e australian­os, os felinos preferem presas menores e indefesas, como passarinho­s – o que os transforma em uma ameaça aos ecossistem­as urbanos. “Os nova-iorquinos sempre dizem que os ratos da cidade ‘não têm medo de nada’ porque eles são ‘do tamanho dos gatos’”, diz Parsons. “Ainda assim, é comum que soltem gatos para controlar essa população, que é grande e potencialm­ente perigosa.”

Não havia dados estatístic­os para comprovar nenhuma das teorias. A oportunida­de surgiu quando gatos invadiram um centro de reciclagem em Nova York, onde já viviam dezenas de ratos em estudo. Tudo bem que Jerry é um rato doméstico, mas, quanto às estratégia­s para driblar a vigilância dos gatos, os dois roedores mostraram semelhança­s.

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