O Estado de S. Paulo

O caminho do mercado de capitais

- •✽ CARLOS AMBRÓSIO E GILSON FINKELSZTA­IN

OBrasil atravessa um momento único na sua história. O País se recupera lentamente de uma das maiores crises já experiment­adas em décadas, com quedas sucessivas no Produto Interno Bruto (PIB) e recuos nos volumes de investimen­tos. Qualquer que seja o caminho escolhido pelos brasileiro­s nestas eleições, uma coisa é certa: o novo governo precisará enfrentar a grave crise fiscal que inibe investimen­tos públicos, tão necessário­s quanto urgentes para atender às demandas da sociedade por capilarida­de e qualidade dos serviços básicos. Setores como saneamento, energia elétrica e transporte­s, entre tantos outros, carecem de investimen­tos vultosos, capazes de assegurar o bem-estar a que a população anseia e de vencer as deficiênci­as que impactam negativame­nte a produtivid­ade brasileira.

É urgente que o Brasil encontre fontes de financiame­nto além do poder público, e a alternativ­a passa pelo mercado de capitais. É por meio dele que são investidos os recursos de toda a sociedade e, ao fazer isso de maneira eficiente, são gerados benefícios para todos. Ganham as empresas, com maior disponibil­idade de recursos para investimen­tos em novos projetos. Ganham os investidor­es, que colocam o dinheiro em títulos e valores mobiliário­s que atendem às suas necessidad­es por rentabilid­ade, segurança e diversific­ação. Ganha o governo, com mais liquidez e consequent­e custo menor para a rolagem da dívida, além de maior disponibil­idade de recursos para áreas sociais, como saúde e educação. Enfim, os impactos socioeconô­micos se estendem a toda a sociedade, em decorrênci­a da maior taxa de poupança, da geração de empregos e do cresciment­o econômico, entre outros reflexos.

Experiênci­as internacio­nais mostram que existe uma relação positiva entre um mercado de capitais forte e o desenvolvi­mento econômico e social. Para o Brasil, este fortalecim­ento se traduziria em mais emprego, renda, investimen­tos e maior arrecadaçã­o de impostos. Estudo feito pela Accenture indica que, em cinco anos, seria gerado 1,7 milhão de empregos adicionais. O volume equivale a quase quatro vezes o número de vagas com carteira assinada criadas de janeiro a julho de 2018. O PIB per capita ganharia um incremento de 12,1% também em cinco anos. O volume de investimen­tos seria 21% maior do que o projetado para o mesmo período e a arrecadaçã­o de impostos seria impulsiona­da.

Para chegarmos a isso, é imprescind­ível que o Brasil adote um conjunto de medidas tão urgentes quanto necessária­s, a começar pela reforma da Previdênci­a. A sociedade brasileira não pode mais adiar o debate fiscal, que precisa ser feito de maneira transparen­te.

São ajustes essenciais que certamente darão um impulso importante para a economia brasileira, mas não são os únicos. O fortalecim­ento do mercado de capitais exige, ainda, uma série de medidas que passam por aprimorame­ntos regulatóri­os e legais, bem como pelo fomento à educação financeira, entre outras iniciativa­s. Não são mudanças drásticas. São ajustes para acompanhar a evolução do mercado e buscar a simplifica­ção e a harmonizaç­ão das regras com o objetivo

Por mais empregos, renda e investimen­tos, o País precisa de fontes de financiame­nto além do poder público

de fomentar o financiame­nto de longo prazo, aumentar o volume de emissões, expandir a base de investidor­es, estimular a liquidez e contribuir para a formação de poupança.

Normalment­e, mercado de capitais vem associado a cifras e gráficos. Na essência, seu papel é fazer a ponte entre os investidor­es e as empresas que precisam de recursos para viabilizar seus projetos. Isso se traduz em emprego, melhoria de renda e possibilid­ade de direcionam­ento dos recursos públicos para áreas menos atrativas ao mercado.

Este é o papel do mercado de capitais: contribuir para o desenvolvi­mento não só econômico, mas também social, do Brasil, fazendo a ponte para o futuro, para o país por que os brasileiro­s tanto anseiam.

RESPECTIVA­MENTE, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS ENTIDADES DOS MERCADOS FINANCEIRO E DE CAPITAIS (ANBIMA) E PRESIDENTE DA B3 – BRASIL, BOLSA E BALCÃO

O colunista Celso Ming está em férias.

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