Duas pancadas numa só semana
OFacebook começou a enfrentar, esta semana, uma estranhíssima e inesperada crise. O grupo criado por Mark Zuckerberg tinha uma fama sólida, no Vale do Silício, de ser bom comprador de startups. Além de pagar bem, para garantir rápido os negócios, os CEOs das empresas adquiridas costumavam ter ampla liberdade para desenvolver seus produtos. Calhou de duas brigas não relacionadas, porém, estourarem nesta mesma semana. E ambas brigas envolvendo duas das joias dentre suas aquisições: WhatsApp e Instagram.
Os fundadores trabalhavam com independência mesmo. Comprado por US$ 1 bilhão, em 2012, o Instagram operava em escritório próprio, seus executivos tinham pleno controle do app. Ao mesmo tempo, a ligação com o Facebook representou um salto. A integração permitiu que o número de usuários do aplicativo de fotografias explodisse, e a tecnologia de publicidade já dominada pela outra rede tornou o negócio muito relevante. Segundo a eMarketer, em 2018 o Instagram fará US$ 8 bilhões. É um baita negócio.
Ainda assim, Kevin Systrom e Mike Krieger, os dois fundadores, anunciaram, na segunda-feira, que estão deixando o comando da rede de fotos.
Os conflitos vinham crescendo. Nos últimos meses, por ordens de Zuckerberg, as fotografias publicadas no Instagram e compartilhadas no Facebook pararam de ser identificadas pela origem. Ou seja: parece que foram postas pelos usuários direto no Face. Sem o crédito, menos gente é levada de uma rede para a outra. Ao mesmo passo, o Facebook vem usando cada vez mais o Instagram para sua promoção. O Instagram manda gente para o Facebook; o Face não manda para o Insta.
O movimento tem um quê de estratégico. A imagem do Face foi um bocado corroída, assim como a do Google, desde o problema nas eleições americanas e por conta da pressão dos parlamentos de EUA e União Europeia. A imagem do Instagram, não. É a rede social do clima bom, onde todos parecem sempre felizes. Para o Facebook, trazer um pouco do clima Insta para sua casa faz sentido. Os fundadores da rede menor, porém, se sentiram usados. E escanteados.
De dentro do Facebook, a impressão era outra: de ingratos.
Por pura coincidência, a revista Forbes publicou na edição desta semana uma longa matéria baseada numa entrevista com Brian Acton, fundador do WhatsApp, comprado pelo Facebook também em 2012 por um preço bem maior. US$ 19 bilhões. Acton sozinho pôs no bolso mais do que valeu o Instagram inteiro: US$ 3,6 bilhões. Ele, no entanto, saiu rompido faz tempo. Só falou publicamente sobre isso uma vez. Em março, quando o mundo metralhava a maior das redes sociais, publicou um tweet: “Chegou a hora: #deletefacebook”. E só. Até agora.
À Forbes, disse que se sentiu traído no acordo de compra. Foi às autoridades antitruste europeias garantir que os bancos de usuários do WhatsApp e do Face jamais seriam cruzados. Tinha essa garantia. Enquanto isso, o plano de cruzá-los já estava sendo desenvolvido. A pressão, também, por colocar publicidade também aumentou. Acton deixou o comando de seu serviço de mensagens antes dos prazos contratuais. Deixou de ganhar, por isso, US$ 850 milhões a mais. “Vendi a privacidade de meus usuários”, disse à revista. “Convivo com isso todos os dias.”
Sua crítica, porém, é sutil. “Não acho que sejam vilões”, ele faz questão de afirmar. “São, na verdade, excelentes pessoas de negócios. Eles só representam um conjunto de princípios com os quais não concordo.”
Duas pancadas relacionadas ao estilo de tocar o negócio, ambas ocorridas na mesma semana. 2018 não está sendo um ano bom para Zuck.
Insatisfação de fundadores do Instagram e WhatsApp deu trabalho a Mark Zuckerberg