O Estado de S. Paulo

Beth Carvalho faz show deitada no Credicard

Com dores na coluna, rainha do samba protagoniz­a momento histórico ao cantar com o Fundo de Quintal músicas do álbum ‘De Pé no Chão’

- Julio Maria

Beth Carvalho está diante de um dos maiores desafios de sua carreira de muitos desafios. Mulher branca da zona sul do Rio, Ipanema, estudada em colégio de elite no qual só havia um aluno negro e filha de pai intelectua­l de esquerda perseguido pela ditadura, chegou ao samba como gringa. “Isso até sentirem que eu tinha verdade no que fazia. E o samba é assim. Se eles sentem a verdade, eles respeitam.” Aos 72 anos, um dos timbres mais belos da música brasileira percebido mesmo quando fala ao telefone, madrinha de Arlindo Cruz a Zeca Pagodinho, ela luta contra complicaçõ­es ósseas decorrente­s de uma fissura na base da coluna vertebral. Ela tem dores, mas está pronta para subir a um palco, novamente, deitada em uma cama.

O show será apenas hoje, 28, no Credicard Hall. Beth vem para celebrar os 40 anos do álbum De Pé no Chão, um dos marcos fundamenta­is do samba, o início de uma era regida por um núcleo de instrument­istas e compositor­es identifica­dos por Beth na quadra da escola de samba Cacique de Ramos, na zona norte do Rio: Fundo de Quintal.

Beth chamou o Fundo, de Bira Presidente, Hélio Caneca, Neoci Dias e Ubirany, e os levou para o primeiro tratamento digno em 1978, sob os cuidados de Rildo Hora. Fecharam um repertório com sambas como Ô Isaura (Rubens da Mangueira), Marcando bobeira (João Quadrado, Beto Sem Braço e Dão), Goiabada Cascão (Wilson Moreira e Nei Lopes), Vou Festejar (Jorge Aragão, Dida e Neoci), Meu Caminho (Guilherme de Brito e Nelson Cavaquinho) e Agoniza Mas Não Morre (de Nelson Sargento). Mais do que o repertório, ficaria também uma nova linguagem pensada pelo grupo. Saía do centro o ritmo marcado por surdo, pandeiro e tamborim e entraria o novo núcleo adotado pelo fundo, com repique de mão, tantã e o banjo de Almir Guineto.

“Eu não sei se vou conseguir me sentar desta vez, como fiz no Rio. Ainda tenho dores e só estamos a alguns dias do show”, diz Beth. Ela disfarça o suspiro do incômodo provocado pela dor e fala de samba com um ânimo de menina. “Ah, vou mexer um pouco no repertório. Quero colocar Trem das Onze, do Adoniran; Volta por Cima, de Paulo Vanzolini; e Tradição (Vai no Bixiga pra Ver), de Geraldo Filme.”

Beth fala de seu sonho para logo depois que ver lançado um DV D coma temporada de De Pé no Chão. “Quero um disco em que vou cantar o Brasil, músicas de várias regiões.” O nome será Brasileirí­ssima. “Vou buscar músicas do Pará, do Amazonas, da Bahia, do Recife.” Do Rio, entram os sambas, oito ou dez. Das demais, o carimbó (Pará), um frevo (Pernambuco), um samba de roda (da Bahia) e um sertanejo (de Mato Grosso). O repórter perguntas e ela pensa emir alugares menos visitados, como o Amapá .“Eu quero gravar um marabaixo. Você podem e mostrar alguns? Podem e mandar peloWhatsA­pp?”O show não pode parar.

Credicard Hall. Av. das Nações Unidas, 17.955, Vila Almeida, 4003-5588. Sáb. (28), às 22h. R$ 48 a R$ 240

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VERA DONATO Show que continua. Beth já pensa em álbum novo

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