O Estado de S. Paulo

O exemplo que vem DAS EMPRESAS

No evento de premiaçao do ranking Estadão Empresas Mais, organizado­res e autoridade­s reconhecem a importânci­a do setor privado para a recuperaça­o econômica do País

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“Precisamos de bom senso, serenidade e continuida­de das reformas” Francisco Mesquita Neto, diretor-presidente do Grupo Estado

“Temos que estar prontos no momento em que o mercado exige” Marcílio Pousada, presidente da RD Raia Drogasil

“Mesmo com a economia frágil, temos mantido todos os nossos projetos” João Alberto Abreu, vice-presidente do Grupo Raízen

Representa­ntes de quase uma centena de companhias estiveram reunidos no início deste mês, em São Paulo, para o evento de premiação do ranking Estadão Empresas

Mais 2018. Muito além do prêmio, as empresas ali representa­das foram reconhecid­as pela persistênc­ia e pela conquista de resultados mesmo em um ambiente adverso como o vivido no Brasil nos últimos anos. Ao analisar o ambiente em que o estudo foi realizado, o diretor-presidente do Grupo Estado, Francisco Mesquita Neto, lembrou que o País está hoje em compasso de espera e que a população caminha para um dos mais importante­s momentos de sua história. “Teremos a oportunida­de de corrigir rumos, escolhendo governante­s capazes de equilibrar as contas públicas. Precisamos de bom senso, serenidade e continuida­de das reformas”, disse. Mesquita Neto destacou ainda que, neste ambiente, as empresas brasileira­s têm feito a lição de casa e salientou que a inovação tem sido peça fundamenta­l nesse esforço de atender consumidor­es e mercados cada vez mais exigentes. “Essa mudança se reflete no ranking Estadão Empresas Mais, que passa a contar com o novo estudo de inovação, que se une ao índice de governança e aos demais rankings.”

Para chegar ao resultado apresentad­o, o estudo analisou as empresas sob quatro dimensões: receita, produtivid­ade, porte e consistênc­ia histórica dos resultados. Neste último quesito, os analistas da Fundação Instituto de Administra­ção (FIA) e da consultori­a Austin Rating considerar­am o desempenho de 3,6 mil empresas nos últimos quatro anos. As análises resultaram no ranking 2018 e na indicação das empresas que se destacaram de acordo com o Coeficient­e de Impacto Estadão (CIE) em 23 setores da economia, além das 100 companhias e dos 100 grupos empresaria­is de maior impacto no Brasil. Nesta edição, o ranking reconheceu também as empresas melhor posicionad­as nos índices de governança e inovação.

O esforço das companhias nacionais também foi destacado pelo economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, para quem os empresário­s brasileiro­s são heróis por atravessar­em dois anos seguidos de queda no PIB e carga tributária na casa dos 50%. “Superamos e vamos superar esse grande desafio. Com certeza, nos próximos anos, vamos comemorar e falar do cresciment­o do Brasil”, prevê. “Esse evento ocorre em um momento crucial em que o Brasil, mergulhado em uma de suas piores crises, deve escolher novos governante­s e renovar seu quadro de legislador­es”, afirmou o diretor-geral da FIA, Isak Krugliansk­as, admitindo que reconhecer as empresas é fundamenta­l para estimular outras companhias e investidor­es.

PAPEL DO GOVERNO

Convidado especial para a cerimônia de premiação, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, realçou que as empresas ali presentes estão tomando as decisões que vão fazer o Brasil crescer. Mais do que isso, que este é o momento de discutir os desafios que devem ser enfrentado­s no futuro. Para Guardia, o País tem condições de retomar uma trajetória de cresciment­o superior à existente hoje, mas para tanto terá de dar continuida­de às reformas iniciadas pelo atual governo.

O ministro sinalizou que, em relação a sua balança de pagamentos externos, o Brasil está com a casa em ordem. “Nosso problema é fiscal e, para corrigi-lo, é preciso dar continuida­de às reformas, adotar uma agenda de produtivid­ade e retomar investimen­tos”, afirmou, ressaltand­o quatro pontos que devem estar na agenda do próximo governo.

O primeiro é o desequilíb­rio fiscal. Guardia lembrou que o Brasil tem hoje um déficit primário de 2% do PIB e que é preciso fazer uma virada, um esforço de 4 a 5 pontos nas contas do governo. O problema, segundo ele, não é a falta de receita, mas o excesso de gastos. “O Estado inchou: os gastos subiram de 14% do PIB, em 2004, para 20% do PIB. Esses gastos vêm crescendo 6% ao ano desde 1991. Temos que trazê-los para patamares inferiores”, disse.

Para Guardia, a reforma da Previdênci­a assume um papel fundamenta­l: o Brasil gasta hoje 14% do PIB com previdênci­a. Uma eventual reforma deve corrigir o sistema atual. Outro componente relativo ao desequilíb­rio é o teto de gastos, que ataca diretament­e o cresciment­o de despesas. “O Estado não cabe nele mesmo sem um aumento expressivo da carga tributária. Ou queremos um Estado mais enxuto, ou queremos um Estado que custe 20% do PIB e que traga aumento de impostos ao longo do tempo. Essa é uma questão fundamenta­l do ponto de vista macroeconô­mico: fiscal, previdênci­a e teto de gastos”, defendeu.

O segundo ponto enfatizado por Guardia é a continuida­de da agenda de eficiência econômica, que deve seguir na linha do que já foi feito no setor de óleo e gás, na regulação do setor elétrico e com a Lei das Estatais. Para o ministro, medidas como essas aumentam a competitiv­idade da economia e reduzem os custos de se fazer negócios no Brasil. “Há muito o que fazer e coloco a questão tributária nesse contexto também”, afirma.

“O terceiro ponto são os investimen­tos. Temos sim enormes gargalos de infraestru­tura que requerem investimen­tos e muito deve ser feito pelo setor privado”, diz, revelando a necessidad­e de um marco regulatóri­o adequado e de parcerias público-privadas que deem conta dessa demanda. Guardia cita como exemplo a Petrobrás, que tem um potencial de investimen­to de dezenas de bilhões de reais, mas que se ressente de um marco regulatóri­o adequado.

Por fim, o ministro citou como último ponto a abertura comercial, identifica­da como outro vetor importante de cresciment­o e modernizaç­ão da economia brasileira, considerad­a muito fechada. Para Guardia, o Brasil precisa se integrar mais ao mercado internacio­nal, exportar e importar mais, o que também será fundamenta­l para reduzir custos da economia. “Tudo isso deve nos colocar em ritmo de cresciment­o acelerado. Sem reformas, será muito difícil voltar a crescer”, garante.

ESFORÇO RECONHECID­O

É neste cenário de instabilid­ade e desafios que o ranking Estadão Empresas Mais 2018 escolheu as empresas que mais se destacaram em 2017. Para Marcílio Pousada, presidente da RD Raia Drogasil, grande vencedora do ranking de companhias individuai­s, a premiação reconhece o empenho de todo o time em cuidar das pessoas. “Acreditamo­s ser fundamenta­l cuidar bem da saúde e do bem-estar dos clientes e funcionári­os, em todos os momentos da vida”, discorre.

Para Pousada, o prêmio reconhece o trabalho dos 33 mil funcionári­os da empresa para atingir esse propósito. Não é por acaso que a rede conta hoje com mais de 1,7 mil lojas em 22 Estados e continua firme na meta de abrir 240 unidades até o fim deste ano e outras 2.450 em 2019. Para tanto, o segredo de Pousada é foco na operação e na execução das ações. Para ele, a loja não se compõe apenas de pessoas. Ela tem de estar bem arrumada, com o time bem treinado, o estoque certo e o regulatóri­o do setor atendido. “Temos que estar prontos no momento em que o mercado exige e o prêmio

Estadão Empresas Mais é um importante incentivo para continuarm­os nosso trabalho, sempre oferecendo a melhor experiênci­a de compra para o cliente”, diz.

Maior destaque entre os grupos empresaria­is, o Grupo Raízen também atribui o reconhecim­ento ao seu time de colaborado­res. Para o vice-presidente da companhia, João Alberto Abreu, o grupo tem mantido seu foco em fazer o melhor, mesmo diante de tempos difíceis. “Apesar da economia frágil, temos mantido todos os nossos projetos apenas com ajustes técnicos”, ressalta. E isso não é pouco para uma empresa que se orgulha de atuar do “campo ao posto”.

Entre os projetos está, por exemplo, a primeira planta do mundo capaz de converter, em escala comercial, subproduto­s da cana-de-açúcar em biogás, gerando eletricida­de a partir da torta de filtro. Também se destacam o uso de inteligênc­ia artificial, o processame­nto de algoritmos para localizar ervas daninhas em suas plantações e a criação do Pulse, hub de inovação que funciona como espaço de coworking em Piracicaba, no interior de São Paulo. A iniciativa colabora diretament­e com o desenvolvi­mento de 15 startups. Dessas, 11 já têm projetos-piloto sendo testados na própria empresa.

Primeira colocada na categoria Utilidades e Serviços Públicos, a Sabesp viu no prêmio um elemento a mais de motivação para sua equipe, hoje responsáve­l pelo atendiment­o a 28 milhões de pessoas no Estado de São Paulo. Para o superinten­dente da companhia, Edison Airoldi, é um estímulo também para o que virá no futuro. “Nosso principal desafio é universali­zar o atendiment­o na região metropolit­ana de São Paulo e na Baixada Santista”, afirma.

Já Rafael Sachete, CFO da Arezzo&Co, terceira colocada na categoria Bens de Consumo, prefere manter o olhar nos resultados que a empresa vem produzindo. “Acreditamo­s muito no País e preferimos olhar para o lado positivo”, diz. Com seis marcas, Sachete revela que o foco é continuar sendo uma grande geradora de conteúdo e de produtos, além de manter em curso seu projeto de internacio­nalização. Para a Roche, vencedora da categoria Farmacêuti­ca, o prêmio é o reconhecim­ento do trabalho feito em prol dos pacientes da empresa. O diretor de oncologia e hematologi­a da Roche, Patrick Eckert, reconhece que o maior desafio da Roche, atualmente, é manter sua mentalidad­e. “O Brasil precisa de gente que pense fora da caixa, que faça coisas novas”, defende, citando como exemplo as parcerias novas que a Roche vem firmando para garantir acesso a tratamento­s inovadores contra o câncer.

A Lojas Renner, segunda colocada na categoria Varejo, vê na premiação uma responsabi­lidade a mais para continuar enfrentand­o um ambiente desafiador e encantar seus clientes. Fabio Faccio, diretor de produtos da rede, lamenta o ambiente instável vivido nos últimos anos, mas ressalta o esforço feito por todas as empresas para continuar crescendo. “Acho que todos têm se programado para trabalhar de forma enxuta. Com isso, quem sabe, mais à frente possamos ter cenários que impulsione­m o cresciment­o”, conclui.

 ??  ?? VEÍCULOS E AUTOPEÇAS: Alejandro Botelho(à dir.), da Renault, e Alexandre Calais, editor de Economia do 'Estadbo'
VEÍCULOS E AUTOPEÇAS: Alejandro Botelho(à dir.), da Renault, e Alexandre Calais, editor de Economia do 'Estadbo'
 ??  ?? FUTURO:Brasileiro­s terbo a oportunida­de de corrigir rumos do País, diz Francisco Meszuita Neto, diretor-presidente do Grupo Estado
FUTURO:Brasileiro­s terbo a oportunida­de de corrigir rumos do País, diz Francisco Meszuita Neto, diretor-presidente do Grupo Estado
 ??  ?? PAPEL E CELULOSE: Elcio Trajano Junior, diretor de RH da Eldorado Brasil, e a colunista do 'Estadbo' Sonia Racy
PAPEL E CELULOSE: Elcio Trajano Junior, diretor de RH da Eldorado Brasil, e a colunista do 'Estadbo' Sonia Racy
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VAREJO: Marcílio Pousada, presidente da RD Raia Drogasil
 ??  ?? QUÍMICA E PETROQUÍMI­CA: Edison Terra (à dir.), vice-presidente de Poliolefin­as da Braskem, e David Friedlande­r, editor executivo do 'Estadbo'
QUÍMICA E PETROQUÍMI­CA: Edison Terra (à dir.), vice-presidente de Poliolefin­as da Braskem, e David Friedlande­r, editor executivo do 'Estadbo'
 ??  ?? SERVIÇOS: Eugênio Ãattar, presidente executivo da Localiza Hertz, e Cátia Luz, editora de Negócios do 'Estadbo'
SERVIÇOS: Eugênio Ãattar, presidente executivo da Localiza Hertz, e Cátia Luz, editora de Negócios do 'Estadbo'
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EDUARDO GUARDIA: ministro da Fazenda discursa em premiaçbo
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