TODA A FORÇA À AGROINDÚSTRIA
Investimentos milionários para gerar maior valor às commodities reforçam estratégia de redução da vulnerabilidade e fortalecimento da categoria
Ainda frágil diante de preços internacionais, o setor da agricultura e pecuária está aumentando as apostas na agroindustrialização para se manter como um dos pilares da economia brasileira. O objetivo é reduzir a instabilidade, aumentar a competitividade e gerar maior valor aos produtos primários. É com essa lógica que a C. Vale, com sede no Paraná, pretende crescer 17% em 2018, após fechar 2017 com receita total de R$ 6,9 bilhões. “Acreditamos que a saída seja verticalizar a produção. Em vez de vender grãos, queremos comercializar cada vez mais produtos processados”, afirma Alfredo Lang, diretor-presidente da cooperativa que tem quase 20 mil associados, 9 mil funcionários e 148 unidades de negócios em cinco Estados. A empresa já tem 20% do faturamento vindo da indústria e é a primeira colocada no levantamento do setor de agricultura e pecuária do Estadão Empresas Mais.
Nos bastidores, o investimento mais recente foi o de R$ 110 milhões em um sistema industrial que até o fim do ano vai produzir 75 mil filés de tilápia por dia. Nesse modelo, a C. Vale fornece os peixes, a assistência técnica e a ração, e o produtor fica responsável pela criação. Depois, a cooperativa é quem industrializa e comercializa o produto. Mesmo com os investimentos, o momento também é de cautela, indica o diretor. “Nossa previsão é ampliar a produção de peixes e construir uma nova unidade para recebimento de grãos no Paraná, mas vamos aguardar as definições da política econômica do próximo presidente”, afirma Lang.
A Coamo, no Paraná, é a segunda colocada no ranking e também continua investindo em 2018. Com um modelo de cooperativa agroindustrial, a entidade está construindo um complexo em Dourados, em Mato Grosso do Sul (MS), onde serão transformadas, por dia, 720 mil toneladas de óleo bruto em óleo refinado. O projeto também prevê a embalagem do produto. As operações começarão em 2019 e vão ampliar as produções já existentes em Santa Catarina e Paraná.
Neste ano, o faturamento da cooperativa será de R$ 14,7 bilhões, 30% mais que em 2017. Na avaliação de José Galassini, diretor-presidente da Coamo, esse desempenho já é resultado do aumento do número de cooperados e da expansão do negócio para Mato Grosso do Sul. Galassini destaca o crediário da empresa, que auxilia o associado no custeio de produção e investimento em máquinas agrícolas.
Já a Adecoagro, terceira colocada, está investindo R$ 600 milhões para ampliar o plantio e a moagem de cana e expandir a produção de biogás. “Desenvolvemos conhecimento para colocar o melhor produto no seu melhor lugar. Focamos na redução do custo de produção porque vendemos commodities, e não podemos controlar o preço da venda”, justifica Renato Junqueira Pereira, diretor de Açúcar, Etanol e Energia da Adecoagro. A empresa desenvolveu uma expertise que lhe permite moer cana o ano todo e deve fechar 2018 com uma moagem de 12 milhões de toneladas. “Entendemos que a safra contínua é possível e fazemos a manutenção na época da chuva em cada região”, conta Junqueira.
Outra estratégia é adaptar o produto ao local. Na usina em Minas Gerais, como a escala de fabricação é menor, a proposta é dife- renciar a produção. Em 2018 estão sendo produzidas 10 mil toneladas de açúcar orgânico. Já em Mato Grosso do Sul, as duas outras usinas da Adecoagro começaram a gerar e exportar energia à base de vinhaça, um subproduto do etanol. Neste ano serão exportados 800 mil MWh e a expectativa é de que, com esse e outros investimentos, o faturamento da Adecoagro cresça pelo menos 15% ante 2017.
Com 148 unidades de negócios e 9 mil funcionários, C.Vale planeja crescimento de 17% em 2018